sábado, 26 de julho de 2014

"A Luta Livre não é de ninguém é de nós todos, temos que trabalhar para isso." Mestre Hugo Duarte




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ENTREVISTA N. 22
Hugo Duarte
Mestre de Luta Livre


Amigos,



Não fosse meu entrevistado, juntamente com outros de seus famosos companheiros, ninguém poderia andar pelas ruas do Rio de Janeiro vestindo uma camisa da Luta Livre nos idos das décadas de 80 e início de 90. Para quem não sabe, este período foi uma época de consolidação da hegemonia do Jiu-Jitsu no mundo da luta. Todos pareciam ter horror a idéia de ter problemas ou enfrentar desafios com o pessoal do pano. Na ausência de confrontos organizados em eventos de lutas como os que temos atualmente, as diputas eram feitas em desafios de academias (ou invasões...), brigas nas ruas e até nas praias. Tudo para atestar a superioridade de uma ou de outra arte marcial. Os jornais, a TV, a mídia de uma modo geral ajudavam a criar esta imagem de invencibilidade do Jiu-Jitsu. Mas, alheio a todo esse "pânico" um pequeno grupo de lutadores de um clube desconhecido do grande público, o Santa Luzia que depois se mudou para o Boqueirão (no Aterro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro), estava forjando seus próprios hérois, um deles era o meu entrevistado de hoje, Hugo Duarte.

Mestre Hugo Duarte foi um dos que segurou a barra, quem fez o trabalho arriscado, enfim, quem se expôs para defender a bandeira da Luta Livre, encarando desafios, insultos, provocações e falta de reconhecimento.

Hoje com 52 anos de vida e cerca de quarenta de Luta Livre ele se define com modéstia como um homem casado, pai de duas filhas e com uma "mamãezinha querida para cuidar". Mas, não se iluda, seus treinos continuam duros e seus planos para Luta Livre enquanto instituição são mais ambiciosos ainda.

Apesar do pouco tempo, a nossa entrevista pode abordar um pouco de cada um desses temas. Na sua famosa academia na  Rua Marquês de Abrantes, fui recebido com respeito e cordialidade e, sentados ali mesmo no dojo, enquanto corriam soltos passagens de guarda, estrangulamentos e alguém era sufocado numa guilhotina,  tivemos a conversa que se lê abaixo. Espero que gostem. 

Por último, não posso deixar de registar meus agradecimentos, em primeiro lugar, claro, ao mestre Hugo Duarte e seus alunos por haverem me recebido e permitido a pequena sessão fotográfica, mas também devo agradecimentos ao prof Ricardo Tinha, ao mestre Sansão e a prof. Drica cujas colaborações foram fundamentais para que este trabalho fosse realizado.


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1. SÓ CASCA !– Muito obrigado por receber e abrir as portas de sua academia para o Só Casca! Quem é o Mestre Hugo Duarte? Como ele começou?
2. HUGO DUARTE– Eu agradeço pela entrevista, para mim é uma honra também fazer parte deste projeto. Comecei na Luta Livre com 13 anos de idade no Clube Santa Luzia ali no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Meu primeiro professor foi Fausto Brunocilla e depois com o filho dele o Carlinhos Brunocilla. A minha arte, a nossa arte, a Luta Livre é uma arte de chão que na época... deixa eu ver, estou com 52... 39 anos atrás ninguém conhecia, uma luta de chão na qual o praticante usa um calção e aplica finalizações como torções no pé, no braço e estrangulamentos.
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3. SÓ CASCA ! – Certo, mas como o senhor chegou até o Santa Luzia? Foi através de um anúncio, convite de um amigo?
4. HUGO DUARTE – Foi o seguinte, um amigo meu, o Miúdo, ele fazia luta, o cara era um guindaste, um gorila já com 13 anos de idade. Fui a alguns campeonatos que ele lutou e acabei por assistir a um treino dele. Só havia adultos lá, mas nós, apesar da pouca idade, éramos já homens feito, grandes fortes. Fiquei assistindo aquilo tudo até que o Fausto Brunocilla se dirigindo a mim falou “vem cá, meu filho, treina aqui um pouquinho com a gente”. Eu não sabia nada, mas tinha uma estrutura muito forte e aí comecei a fazer o chão, alguns movimentos básicos, no extinto mesmo, na mesma hora o Fausto disse que eu tinha jeito. Na época eu só fazia musculação, fazia no Santa Luzia, que era um Clube sensacional de musculação na época. Para resumir, desde esse primeiro teste em que fui levado pelo meu amigo Miúdo eu nunca mais parei de fazer a Luta Livre, são aí, como disse, quase 40 anos, ela ficou no meu sangue logo no início. Eu que só malhava, passei a me dedicar integralmente aos treinos de Luta Livre.

5. SÓ CASCA !– Então quer dizer que não houve nesse caminho outra arte marcial?
6. HUGO DUARTE– Não teve não. Foi de cara a Luta Livre. Depois, tempos depois, fizemos um pouco de Muay Thai com o Flávio Molina para complementar a formação. Mas, nossa raiz mesmo é o chão, Luta Livre.


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7. SÓ CASCA !– Deixa eu voltar mais um pouco... Nessa época, com 13 anos o senhor morava no Flamengo, estudava onde? Tinha trabalhos paralelos em quê?
8. HUGO DUARTE– Eu estudava no Amaro Cavalcanti, depois eu fui para a Bennet estudar Economia e trabalhei no antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro, o BANERJ.

9. SÓ CASCA ! - Nesses 40 anos digamos, nunca parou com a Luta Livre?
10. HUGO DUARTE– Não nunca parei. Sempre treinei.

11. SÓ CASCA !– Temos curiosidade de saber, porque todo pessoal da Luta Livre menciona e o senhor pelo pouco que já falou até aqui dá a entender que foi muito importante o Clube Santa Luzia, o Boqueirão para a Luta Livre. Pode falar sobre isso? O que significam esses lugares para a Luta Livre?
12. HUGO DUARTE– Aquilo ali foi a nossa âncora, né? Começamos ali ... é exatamente isso que você está imaginando, não há como falar da Luta Livre no Brasil sem mencionar esses lugares, Santa Luzia e Boqueirão. Quando a gente ficou sem lugar para treinar lá no Santa Luzia fomos para o Boqueirão onde passamos a treinar um tempo no chão mesmo, porque os tatames pertenciam ao Santa Luzia. Treinávamos com uma estrutura muito simples, não havia dinheiro nem apoio para organizar, mas eram vários professores e atletas de ponta e muito amor mesmo à Luta. Nossa geração eu, honestamente, acho que merece muito respeito porque começamos nestes clubes, não tínhamos apoio algum e mantivemos o amor a Luta Livre, isso foi muito legal. Apesar de todas essas dificuldades os Clubes Santa Luzia e Boqueirão estão na história da Luta Livre, nos tatames desses clubes passaram senão todos, mas quase todos os grandes nomes da velha guarda da Luta Livre. Aquela área ali do Aterro do Flamengo foi uma espécie de Quartel General da Luta Livre por um bom tempo.

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13. SÓ CASCA !– Desculpe interromper, quando o senhor começou quem estava a frente dos treinos no Clube Santa Luzia era o mestre Fausto Brunocilla?
14. HUGO DUARTE– Sim, era o Fausto junto com o Carlinhos Brunocilla e havia ainda o João Ricardo da Budokan. Não era um treino muito divulgado, mas era um lugar de cascas grossa. No Rio de Janeiro, podia se dizer, que na época havia dois lugares bons de treino de chão, a Budokan e o Santa Luzia que depois virou Boqueirão.

15. SÓ CASCA !– Antes de se formar professor treinou em outro lugar ou só no Santa Luzia?
16. HUGO DUARTE– Depois que fiquei mais graduado eu fui treinar na Budokan. Lá o treino tinha chão pesado, mas tinha também porrada, taparia. Fazíamos intercâmbio desse treino com a nossa galera do Boqueirão. 

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17. SÓ CASCA !– A Budokan já era a casa do mestre Roberto Leitão?
18. HUGO DUARTE– Isso do Leitão e do João Ricardo. Treinei muito tempo lá e também no Santa Luzia. O Leitão na época fazia campeonatos de Luta Livre Olímpica e eu participava. Além de que o João Ricardo organizava campeonatos de Luta Livre Esportiva.

19. SÓ CASCA !– O mestre Fausto e o mestre Roberto Leitão foram alunos do Tatu? Como é isso?
20. HUGO DUARTE– O mestre Fausto era amigo do Tatu. Não conheci o Tatu. Mas, dizem que o Tatu era muito bom. O fato é que o Leitão sempre foi um autodidata começou a treinar muito novo e com mais de 70 anos ainda treina duro com a gente.
 

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21. SÓ CASCA !– É atribuída ao mestre Tatu a origem da Luta Livre, não é?
22. HUGO DUARTE– Não sei dizer isso, não sei dizer. Acho que a Luta Livre é milenar. Acho que o grande crescimento que nós tivemos na Luta Livre se deu depois que começamos abrir o mercado, dar aulas na La Maison, Escrete no Leblon e Lagoa e em outros lugares. As pessoas estavam acostumadas as lutas agarradas com o pano, e quando viram naquela época a nossa luta com o calção se perguntavam interessadas “o que é isso?”.

23. SÓ CASCA !– O mestre Eugênio tinha também uma famosa academia de Luta Livre na Urca, não é?
24. HUGO DUARTE– Sim, não podemos esquecer, o Eugênio Tadeu fez um excelente trabalho na Secam, que ficava lá na Urca. 

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25. SÓ CASCA !– O senhor chegou a treinar lá?
26. HUGO DUARTE– Claro, eu sempre ia lá na Secam, eu dava aulas na La Maison e na Screte e sempre ia visitá-lo.


27. SÓ CASCA !– Em comparação a sua época as coisas mudaram?
28. HUGO DUARTE– Sim, mudou muito, hoje nós temos um exército de praticantes de Luta Livre, hoje a coisa nem se compara a época do Fausto Brunocilla quando comecei, há muito muito mais gente na Luta Livre, ela hoje é uma moda. Hoje nós catalogamos mais de 100 academias de Luta Livre, todos treinam de calção hoje em dia.
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29. SÓ CASCA !– Me diga uma coisa, a Luta Livre na década de 80 era marginalizada, como sabemos. O senhor pode falar a respeito?
30. HUGO DUARTE– A questão é a seguinte, nós éramos um grupo de luta fechado. Apesar de ser um grupo de uns 200 casca grossa que faziam um chão refinado. Não havia marginais entre nós, o grupo era seleto até socialmente, tínhamos advogados, engenheiros e por aí vai.
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31. SÓ CASCA ! – Mestre Hugo e as invasões de academias? O senhor lembra disso? Como na prática era isso, invadir a academia dos outros? 
32. HUGO DUARTE – Olha eu quero deixar bem claro, nós nunca invadimos academia de ninguém. O que fazíamos era fincar nossa bandeira como foi necessário em alguns episódios aí já conhecidos. Eu posso citar uma invasão que fizeram na Academia Naja, quando o Molina dava aula para crianças. Foi uma gritaria danada, uma barbaridade. O pessoal do Jiu-jitsu fazia assim, chegavam de bicho no horário que melhor convinha para eles e pronto, era aquela confusão. Toda a parada começou ali, cara... aquela guerra Jiu-Jitsu versus Luta Livre. Começou a guerra toda aí a partir desse negócio do Molina, nos unimos e passamos a treinar juntos, a galera do Muay Thai e da Luta Livre.
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33. SÓ CASCA !– Mas, por que o início se deu especificamente com o mestre Molina?  
34. HUGO DUARTE– Não sei, cara... eles eram assim, invadiam a academia dos outros, uma loucura, entendeu? Se qualquer luta estivesse conseguindo alguma divulgação, aparecendo na mídia eles iam lá e queriam desbancar, invadiam, queriam quebrar todo mundo, eles eram assim... Sempre que uma arte estava sobressaindo mais que a deles. 
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35. SÓ CASCA !– Hoje em dia essa rivalidade não existe mais? A coisa está muito diversificada, as pessoas praticam tudo, judô, jiu-jitsu, luta livre e etc. 
36. HUGO DUARTE– Hoje em dia a coisa acabou, até mesmo em grande parte devido ao Carlson Gracie. Fui lutar no Japão algumas vezes e fomos grandes amigos nessas viagens daí surgiu nosso acordo para a gente poder parar essas brigas todas. Quando acontecia alguma coisa fazíamos uma reunião e sanávamos tudo. Daí começou a haver respeito. Aí a coisa melhorou muito. Eu senti muito a morte do Carlson era uma pessoa única. 
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37. SÓ CASCA !– A grande ironia da coisa é que o treino sem o pano, o treino de calção é feito pelo pessoal hoje em dia, até do jiu-jitsu, mas não chamam de Luta Livre, chamam de Submission. Por que isso? Porque não se reconhece que na verdade é a velha Luta Livre com um nome pomposo esse tal Submission? Isso não é também até hoje uma estratégia mais elaborada para tirar a importância ou no mínimo a atenção da Luta Livre? 
38. HUGO DUARTE– Veja bem, existe futebol sem bola? Não! então é a mesma coisa? Existe Jiu-Jitsu sem kimono? Então não querem dizer que é Luta Livre. Não venham com essa, né?
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39. SÓ CASCA !– Estive verificando no card do Sherdog o senhor entre 1995 a 1997 atravessou uma fase de ótimo aproveitamento, finalizou todo mundo no primeiro round e em segundos. Pode falar um pouco sobre essa época? 
40. HUGO DUARTE– Olha eu estava muito bem treinado. Meu treinador na época foi o Carlinhos Brunocilla. Éramos uns 20 atletas, treinávamos lá no Boqueirão e no Santa Luzia, mas o grande centro era o Santa Luzia. Fizemos um contrato com os japoneses, três lutas por ano no Japão e três seminários. Fiquei viajando para fora durante esse tempo. Comecei a ganhar tudo, mostramos o poder da Luta Livre no mundo.
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41. SÓ CASCA !– Quantos anos tinha nessa época?

42. HUGO DUARTE– Olha, eu comecei tarde nesse mundo das lutas internacionais, comecei com trinta e poucos anos e fui até os quarenta anos. Era muito difícil a abertura para você viajar. No caminho dessas lutas comecei a dar seminários pelo mundo esses comentário também ajudaram muito a dar mais notoriedade ao meu trabalho e minha Luta Livre.
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43. SÓ CASCA !– A gente pode dizer que o senhor, na Luta Livre, foi o percussor destes seminários, levando a Luta Livre para o exterior. 
44. HUGO DUARTE– Olha eu não sei se fui o primeiro, mas junto com outros como o João Ricardo, uma galera muito boa, como o próprio Carlinhos Brunocilla levamos, através de seminários, a Luta Livre para o mundo.
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45. SÓ CASCA !– Já falamos sobre muitos nomes importantes do mundo da luta, pessoas que conviveram como o senhor. Fale um pouco para nós sobre alguma delas, como por exemplo o saudoso mestre Molina que sabemos teve uma grande ligação com a sua geração da Luta Livre. 
46. HUGO DUARTE– Molina foi um grande amigo. Eu tinha uma grande amizade por ele. Eu nunca vi um cara para ter um conhecimento de arte de trocação, em pé, como ele. Era excepcional no Muay Thai, era muito versátil.
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47. SÓ CASCA !– Foi ele quem fez essa união da Luta Livre com o Muay Thai, não foi? 
48. HUGO DUARTE– Sim foi ele. Treinávamos sempre a Luta Livre e o Muay Thai com ele. Digo mais, a aliança entre a Luta Livre e o Muay Thai ocorreu graças a ele. Em determinado dia estava treinando a trocação, porque eu ia lutar com um americano que era muito bom na porrada em pé, esqueci o nome do cara. O fato é que ele era do Takendowndo, nocauteador e por conta disso estava dando atenção especial a trocação com o Molina. Treinava com ele lá no heliporto. Bati manopla com ele, íamos viajar para a luta. Ele se despediu me falando que no dia seguinte não poderia treinar porque iria fazer a reportagem da TV Globo, daí treinamos e ficamos de nos rever dia seguinte pela tarde, após o trabalho dele. Veja só, do nada, antes dele sair ele me disse “se acontecer alguma comigo você cuida de meus filhos”. Dei um tapa nele e disse “que história é essa seu bonitinho ? não vai te acontecer nada” “não vai te acontecer nada” a gente chamava ele na época de Bonitinho. Na hora eu fiquei até emocionado com a coisa. Fui para casa, dei uma corrida longa do Flamengo até Copacabana, voltei, fiz uns alongamentos, uns piques na areia e fui para casa descansar porque mais tarde teria treino. Estava em casa quando recebi uma ligação avisando que era para eu ir ao heliporto porque havia acontecido um acidente com o Molina, uma coisa muito triste, me marcou muito. Marcou a todos nós. Ele era uma pessoa muito boa. Todos os eventos que eu faço eu homenageio o Molina. O Carlinhos Brunocilla também é uma pessoa que nos deixou e a quem devo muito. Ele me ensinou muito. Sinto muito a falta dele. Me ensinou não só luta...
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49. SÓ CASCA !– Foi o mestre Fausto Brunocilla quem deu a preta para o senhor? 
50. HUGO DUARTE– Sim, foi ele quem me graduou na preta. Era uma pessoa que eu adorava e o filho dele que me incentivou também. Me ensinou a ser homem, ensinou a malandragem da vida. Eu tinha o Fausto Brunocilla como meu segundo pai. Eu tive um convívio com essa família durante um tempo muito grande, durante toda minha adolescência, minha vida adulta. Posso citar ainda o João Ricardo e o professor Leitão , dois casca grossa.
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51. SÓ CASCA !– E os pais do senhor sempre aceitaram a Luta Livre?
52. HUGO DUARTE– Olha, meu pai e minha mãe, eles me deram todo alicerce possível. Eu tinha uma condição financeira bem razoável, porque viver de luta só não dava naquela época.
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53. SÓ CASCA !– Hoje já é difícil, no passado então...
54. HUGO DUARTE– No passado era pior. Mas, na época eu tinha minha vida financeira independente, trabalhava no BANERJ e tinha minha grana, porque viver da luta de um modo geral não dava. Pouco dinheiro, pouco patrocínio e tudo era muito caro, tatame por exemplo era muito caro. Ainda assim sempre vale a pena qualquer sacrifício para continuar treinando porque as amizades construídas no tatame são verdadeiras.
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55. SÓ CASCA !– Vamos agora voltar a um ponto que já abordamos indiretamente, como está organizada institucionalmente a Luta Livre no Rio de Janeiro, me parece que existe mais de uma organização, como é isto? 
56. HUGO DUARTE– Veja bem, nós pegamos agora a presidência da Federação de Luta Livre Esportiva do Estado do Rio de Janeiro que existe desde 1992. A fundação dela foi uma iniciativa nossa junto com o Fausto e o Carlinhos Brunocilla porque estava tudo parado. Há outras organizações de Luta Livre, mas são meras associações, porque federação só há uma, que é a nossa. Eu não estava querendo me meter, mas depois da morte do Carlinhos Brunocilla houve outras associações que vieram a tona e começaram a falar “ah, os feudais, os generais tem que acabar”...
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57.    SÓ CASCA !– Se referindo a quem? 
58.    HUGO DUARTE– A todos nós, a todos os mestres e professores antigos. Havia umas pessoas que queriam tomar carona na morte do Carlinhos Brunocilla. Isso me revoltou um pouco, porque eu senti muito a morte dele. Um amigo que trabalhava em um clube na Ilha do Governador onde ele faleceu, me ligou as três horas da manhã, eu acordei, sentei assustado e comecei a chorar fiquei dez dias de luto. Chorava toda hora, chorei, até hoje eu choro, vem umas lembranças derrepente e eu choro. Ele era meu amigo, meu professor... então, o oportunismos de algumas pessoas com a morte dele me incomodou muito. Então decidimos reerguer a Luta Livre para que sua administração fosse melhor. 
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59. SÓ CASCA !– Como assim “reeguer” o que significa isso na prática? 
60. HUGO DUARTE– Olha, a começar estamos fazendo eventos para integrar mais o pessoal, tirar todo mundo de dentro das academias para conhecer uns aos outros. Recentemente reunimos 600 alunos, garotos na Praia do Flamengo para um treino aberto juntamente com seus professores. Estamos planejando outro para 3 de agosto em Angra dos Reis, vão sair 4 ônibus daqui, um evento previsto para 2000 pessoas. Estamos também diplomando os faixas preta, os marrons e todas as faixas, sem cobrar um único tostão, lógico desde que o respectivo professor dê o aval. Temos apoio de gente nova da Luta Livre com garra e muita vontade de ver as coisas acontecerem, de somar ajudando a Luta Livre a se estruturar.
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61. SÓ CASCA !– Diplomas para dar credibilidade a coisa... ? 
62. HUGO DUARTE– Sim, para dar seriedade a coisa... e não para por aí, estamos também conseguindo patrocínios e com isso estamos dando tatames de graça para os professores treinarem e darem suas aulas...
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63. SÓ CASCA !– Coisas que na sua época não havia...
64. HUGO DUARTE- Na minha época não havia nada disso, não havia respeito, era só o amor a Luta Livre que nos motivava. Hoje a situação é muito diferente estamos fortalecendo a Federação, estruturando tudo da Zona Sul a Costa Verde para que ela seja compartilhada com todos os professores. Porque apesar de eu ser o presidente estamos todos juntos fazendo um trabalho só. Sem fins lucrativos, o fim é buscar a estruturação da Luta Livre, incluindo, neste primeiro momento, ajudar o professor a dar aula, oferecendo material para ele trabalhar e direcionar a Luta Livre para seu desenvolvimento. Sem os professores nós não somos ninguém. Tenho para mim que a minha missão na Federação é para unir, sem união não existe nada.
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65. SÓ CASCA !– O senhor acha então que as coisas estão melhorando?
66. HUGO DUARTE– A coisa está 100%...


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67. SÓ CASCA !– Já é visível algum efeito dessas medidas, há algum sinal de menos desunião entre as diferentes lideranças da Luta Livre? 
68. HUGO DUARTE– São poucas pessoas que não estão participando dessa mudança, quem não vier junto, não vai conseguir nada, não terá espaço. É uma coisa assombrosa, o dia todo eu estou falando com as pessoas, cuidando dos eventos, da diplomação. Para você ter uma ideia de que a coisa realmente está acontecendo conquistamos algo inédito na história da Luta Livre, coisa esta que prova, que comprova a seriedade do nosso trabalho, o que foi? Conseguimos o patrocínio da VENUM, para quem não sabe ela é uma marca de roupas esportivas para luta (fightwear), uma empresa transnacional sediada na Califórnia, Estados Unidos. Estão dando toda estrutura para gente em campeonatos pela Federação de Luta Livre, como por exemplo, 200 metros de tatame para nosso Centro de Treinamento. Em breve também teremos o lançamento da marca VENUM Luta Livre. Nós temos quatro campeonatos pela Federação de Luta Livre. A Luta Livre não é de ninguém é de nós todos, temos que trabalhar para isso. O pessoal que está apoiando o trabalho da Federação está de parabéns, temos vários professores jovens dando aula, vamos continuar unidos e a Luta Livre vai continuar a crescer. A Luta Livre unida é invencível, vamos continuar esse trabalho na Federação participar e ajudar os três campeonatos previstos.


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69. SÓ CASCA !– Já que entramos nesse assunto, o senhor tem atletas, treina atletas que lutam, com é? 
70. HUGO DUARTE– Eu particularmente, tenho um nome conhecido e isso favorece uma certa abertura no exterior. Então nós nos reunimos na federação e estamos colocando alguns atletas para lutar em alguns eventos e vamos começar a cinturar para colocar fora. Tenho uns 80, 90 garotos treinando aqui comigo, vem alguns atletas de fora para eu treinar, mas eu não quero mais treinar ninguém. Eu quero estruturar a Luta Livre, quero ajudar as equipes a por seus atletas no ringue. Esse também é um dos papéis da Federação, além de criar a estrutura para as aulas, para os torneios, como já mencionei, deve buscar também patrocínios, principalmente para que eles possam ir ao exterior e nos grandes eventos do mundo levar a bandeira da Luta Livre como eu fiz no passado.


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71. SÓ CASCA !– O senhor tem ideia de quantos faixa preta o senhor já formou?
72. HUGO DUARTE– Eu já formei uns ... muita gente, cara. Tenho catalogado uns 50 ou 60 professores, tudo casca grossas, são bons. Levaram tempo para obter o grau preto, eu nunca dei a faixa para ninguém sem merecimento, não saio graduando ninguém à toa. Por falar nisso, devo admitir que atualmente a coisa está bem promíscua, todo mundo dando diploma, essas associações estão fazendo das graduações um balcão de negócios, estão distribuindo faixa para todo mundo. Por isso que organizei com o Joil, João Ricardo, Bosco Lima, Edil, Gringola, Mistura, Pequeno, Agra e Giovane Beninca, para que haja mais critério nas graduações dos faixa preta porque do jeito que está não pode continuar... uns caras sem nível, um absurdo a gente vê o treino dos caras e se pergunta “como esses caras são faixa preta?”. Por isso a gente tem que se organizar, ter critério.


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73. SÓ CASCA !– Como é o dia a dia do mestre Hugo? Como é a vida dele hoje em dia normalmente? 
74. HUGO DUARTE– Minha vida é muito simples, tenho duas filhas, tem minha mãezinha, estou sempre com ela e minha esposa. Veja bem, eu vivo com o trabalho nessa academia de musculação aqui, a luta livre ali em cima, dou minhas corridinhas, ando de bicicleta, treino toda terça, quinta e sábado. Divido meu espaço aí com o professor Roberto Leitão, uma honra estar com uma pessoa com 77 anos ajudando a gente, dando todas as dicas de vida, da experiência dele. Até hoje cuido muito da minha alimentação. O principal é que tenho prazer no que faço.  
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75. SÓ CASCA !– Uma última pergunta, o que uma pessoa precisa para ser um casca grossa? não me refiro só a um lutador, mas as pessoas comuns mesmo diante dos desafios da vida. O que é preciso, enfim para superar um grande desafio?  
76. HUGO DUARTE– Eu acho o seguinte, cara... eu passei por uns momentos difíceis... e fui forte, me mantive forte porque acreditei em mim. Vou colocar um exemplo. Praticamente minha vida toda foi dedicada a Luta Livre, aliás, ainda é. Mesmo que eu esteja agora num outro patamar, num patamar... digamos, administrativo, de coordenação, de liderança junto a Federação, a Luta Livre continua na minha vida. São 40 anos! é uma vida. Mas, aos 30 anos eu ainda não havia lutado no exterior e ainda não tinha realizado meus sonhos. Era muito bom de chão, fazia um bom Muay Thai, na trocação, eu acreditava muito em mim, eu era muito bom mesmo. Falei para mim mesmo “será que eu não vou acontecer?”, eu me cobrava, vivia ansioso nesse sentido. Porque você quer ser, quer trocar porrada, você quer ser conhecido, quer ver seu trabalho ser reconhecido. Eu acreditei em mim e consegui. Vou citar um exemplo muito significativo do que estou falando. Fiz uma porrada dura no Japão, alguns amigos meus estavam lá comigo. Eu ganhei essa luta, foi a minha primeira luta, de tantas que eu consegui vencer. Venci bem, eu estava com a cara cortada, saindo muito sangue, o juiz queria encerrar, mas eu dei um kataguruma no cara e depois finalizei numa americana. Nesses poucos segundos, enquanto o meu braço era suspenso pelo árbitro para declarar minha vitória, mentalmente, eu vi o filme da minha vida inteira até ali. Foi uma realização pessoal, meus amigos de tantas batalhas juntas estavam lá para festejar a nossa conquista. Aquilo foi a abertura de tudo, tiramos aquele peso da estreia, do controle da ansiedade, foi no Japão isso foi uma loucura, fiquei muito famoso, havia até bonequinhos miniaturas meus.. Com garra e disposição... eu acho que o fundamental é o cara acreditar em si, se acreditar consegue, quando o cara está acreditando em si ele já está sendo forte. 
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77. SÓ CASCA !– Quem quiser um treino legal de Luta Livre com um professor experiente e capacitado como fazer?  
78. HUGO DUARTE– Nós estamos na Rua Marques de Abrantes, 207, Flamengo com treininho de chão, temos o prof. Roberto Leitão que está com a gente aí pela manhã, ele que é uma sumidade e estou aqui de manhã e de noite, terça, quinta e sábado de 10:30 a 13 da tarde e de 19:30 até 22:00, treinamos 3 horas direto. Hoje me dia a luta da moda é a Luta Livre, é luta de calção. Falei isso há 15 anos atrás no Japão. Pode chamar de submission o que for, mas é a Luta Livre, é a luta de calção, basta ter um tatame, você pode por até na garagem, pronto está preparado para lutar a Luta Livre esportiva. Como digo, apesar dos nomes diferentes, é a Luta Livre, existe futebol sem bola?

Um comentário:

Anônimo disse...

HUGO DUARTE O GENERAL DA LUTA LIVRE!!!!!!!!!!!!!!!