segunda-feira, 2 de junho de 2014

"Ser treinador de um lutador é um peso psicológico muito grande" Prof. de boxe Cícero Ramos

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ENTREVISTA n. 20
Cicero Ramos
Professor de Boxe


Amigos,


Em nossa vigésima edição trago para vocês mais um nome para ser sempre lembrado, Cicero Ramos, ou Cisso, como é conhecido por nós no Mundo da Luta. Conheci o prof. Cisso há uns dois anos, na época chamou-me muito a atenção sua humildade, de modo que foi muito fácil logo no primeiro momento nos tornamos amigos. Investigando com pessoas do meio soube que ele tem um cartel de cerca de mais de 40 lutas, maior parte no boxe e o restante em Kickboxing. Um sujeito que praticamente sem apoio, vivendo do trabalho em serviços simples, como vigia, entregador e etc., não colocou a pobreza, a falta de oportunidades na frente, para desistir dos seus sonhos. Cisso foi literalmente a luta e conta com honestidade aqui sua trajetória profissional, faz auto-críticas e descreve de forma memoravel o que ele aprendeu da relação mestre e aluno ao se referir emocionadamente a sua experiência com seu instrutor de boxe Vinícius Russo. Tive grande satisafção pessoal de entrevistá-lo. Por fim meus agracedimentos ao pessoal da Academia Body Performance no Catete e os alunos da aula de boxe do prof. Cisso que permitiram a realização da pequena sessão fotográfica que ilustra esta matéria. Espero que gostem. 


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1.       SÓ CASCA! – Quem é , qual sua arte marcial e como tudo começou nela?
2.       CISSO  – Valeu Nilsão, primeiro, deixa eu agradecer por você se interessar por minha história. Bom meu nome é Cícero Ramos, mas a galera do mundo da luta me conhece, como você sabe, por Cisso. Eu comecei na verdade no Kickboxing, através de um amigo do colégio, lá do Santo Inácio. O amigo me convidou e eu era louco para lutar desde muito jovem. Mas, sou conhecido mesmo é  como um cara do boxe.
 
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3.       SÓ CASCA! – Tinha quantos anos?
4.       CISSO  – Uns 14 para 15 anos. Comecei a treinar então na academia do Vinícius Russo, na Rua Teresa Guimarães no Bairro de Botafogo aqui no Rio de Janeiro. Na verdade era na casa dele, um espaço pequeno, onde a gente se arranjava e treinava com afinco, isso foi por uns 5 anos  treinando Kickboxing. Mas, com três meses de treino eu já estava subindo no ringue. Minha primeira luta, minha estreia foi em Campo Grande num evento amador organizador pelo Jorge Turco. Essa primeira luta perdi, nervosismo, achei que chegaria lá detonando o cara, fazer um montão de coisas e não foi bem assim. Eu estava muito bem treinando, mas o psicológico não estava, não tinha experiência e sobrou autoconfiança. Depois estudei melhor as regras e ingressei mesmo nas disputas, nos torneios sempre tendo como técnico o prof. Vinícius Russo. Participei de vários eventos, alguns deles internos na Nobre Arte.
 
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5.       SÓ CASCA! – A Nobre Arte tinha eventos de Kickboxing?
6.       CISSO  – Sim, eventos internos dentro da Nobre Arte, eram organizados pelo Caíque e o Vinícius, isso foi por volta de 2003.
 
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7.       SÓ CASCA! – Como passou do Kickboxing para o boxe?
8.       CISSO  – Fiquei um bom tempo ganhando todo mundo no Kickboxing, quando surgiram os eventos de boxe pela Federação. Comecei a competir boxe ainda com o prof. Vinícius Russo. Minha estreia no boxe foi em Rio Bonito.
 
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9.       SÓ CASCA! – Era amador?
10.   CISSO  – Era amador.
 
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11.   SÓ CASCA! – E a categoria?
12.   CISSO  – Era meio médio ligeiro, até 64 kg. Nessa categoria só fiz uma luta porque não conseguia ficar neste peso, fui para meio médio, até 69 kg. Nesta categoria fiz 26 lutas, sendo que, 14 de boxe, 11 de kickboxing e 1 de may thai. Em 2007 fui tricampeão estadual pela Federação de Boxe do Rio de Janeiro. Parei de lutar muito recentemente. Ao mesmo tempo eu competia no Kickboxing. As vezes eu fazia uma luta no boxe e na outra semana lutava no Kickboxing. Lutava na Penha, na Ilha do Governador, onde tivesse luta eu ia, Barreira do Vasco...
 
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13.   SÓ CASCA! – Vamos nos concentrar no boxe, todos os eventos eram organizados pela Federação de boxe?
14.   CISSO  – Sim.
 
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15.   SÓ CASCA!– No boxe, quais foram suas mais recentes lutas?
16.   CISSO  – Em São Paulo foram o Kid Jofre e o Campeonato Paulista que foi em 2011.
 17.   SÓ CASCA! – Como foi isso?
18.   CISSO  – Cheguei na final do Paulista, perdi para um canhoto. Nesta época foi pela equipe do professor Gibi, pelo seu projeto Lutando Pela Paz. O professor Gibi é baiano, mas tem projetos social aqui pelo Rio de Janeiro.
 
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19.   SÓ CASCA! – Com as vitórias que conseguiu não teve oportunidade de chegar a disputar o Brasileiro?
20.   CISSO  – Oportunidade de ir lutar sim, mas não tinha meios, como deixar o trabalho, pagar as despesas de viagem e etc...
 
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21.   SÓ CASCA! – Pronto chegamos a um assunto, uma dura realidade para os lutadores no Brasil, teve patrocinadores, bolsas em algum momento?
22.   CISSO  – Nunca tive patrocinador. Até academia eu pagava porque não tinha bolsas.
 
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23.   SÓ CASCA! – Como fazia então numa final do Campeonato Paulista que citou? Como pagava as despesas?
24.   CISSO  – Nesse caso específico, fui pelo projeto Lutando Pela Paz, do professor Gibi, aí sim consegui uma pequena bolsa mensal R$ 150,00 que recebi durante um ano e uma cesta básica, além disso, eles pagavam as passagens para São Paulo e a alimentação...
 
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25.   SÓ CASCA! – Cento e cinquenta reais?
26.   CISSO  – Isso, mesmo, amigo, eu já tinha vinte tantas lutas nas costas e ganhei essa bolsa de R$ 150,00. Mas, fora isso, nunca tive apoio de patrocinador. Tive pessoas como Marcos Lobato que tem uma academia na Rua Voluntários da Pátria, Botafogo, ele deixava eu malhar de graça, fazia minha preparação física lá, havia também o Riso que tem uma lojinha de sucos em baixo me dava um desconto no lanche, no suco, no açaí porque, se não, eu não conseguia treinar, porque o treino era duro e o corpo se não for alimentado não aguenta. Trabalhava em Botafogo de faxineiro, saia do trabalho e ia treinar, um sofrimento mesmo.
 

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27.   SÓ CASCA! – Isso mudou hoje em dia? Você começou na época errada?
28.   CISSO  – Acho que não. Patrocínio não tem, acho que não tem até hoje. É difícil. O boxe hoje em dia está muito decadente. Agora o foco é o Vale-Tudo.
 
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29.   SÓ CASCA! – Por que você acha que não tem apoio para o pessoal do boxe? Não tem patrocínio? Tenho conversado com gente do meio e uns falam que falta organização das federações, outros que no meio disso há muita falta de gestão política? Como pode, se temos tantos atletas de ponta?
30.   CISSO  – Olha eu não sei. Não sei se é a Federação, não sei o que acontece nesse meio. Eles falam que não tem patrocínio ... Quando era o antigo presidente da Federação havia algumas fontes de apoio, como os Bingos, por exemplo. Eles pagavam R$ 20,00 para a gente lutar.
 
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31.   SÓ CASCA! – Nossa! R$ 20,00 para lutar? Mas, isso é ajuda ou gozação?!
32.   CISSO  – Isso mesmo e nem eram todos os que chegavam a pagar. Mas, alguns pagavam. Após as lutas cansei de assinar recibos de R$ 20,00 pelas lutas, alguns por exemplo no Clube Helênico. Nada mais que isso. Imagine, terminar uma luta machucado e com R$ 20,00? Pior, mesmo assim continuávamos motivados para seguir no boxe!
 
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33.   SÓ CASCA! – Tem que gostar muito mesmo do boxe. Já chegou alguma vez a se machucar gravemente?
34.   CISSO  – Sim, em São Paulo eu me machuquei gravemente, fiquei com o olho fechado, mas graças a Deus não tive sequelas. Tudo isso, no dia seguinte tinha que ir para o trabalho, na época eu trabalhava como segurança.
 
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35.   SÓ CASCA! – No trabalho ninguém reclamava da cara arrebentada?
36.   CISSO  – Não porque o pessoal já sabia que eu era lutador e aceitava porque tinham conhecimento que não era briga de rua, mas trabalho, trabalho no ringue.
 
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37.   SÓ CASCA! – Hoje em dia o pessoal esqueceu o boxe, só quer saber do MMA?
38.   CISSO  – É o foco hoje é esse, hoje as pessoas só querem saber do MMA. Algumas pessoas ainda querem me incentivar para que eu continue; só que no MMA. Tentam estimular dizendo “a luta é essa”, “você vai ganhar dinheiro” e etc, mas pelo que vejo, pela minha experiência, eu competi bastante no boxe não me vejo lutando MMA como um iniciante. Um cara que tem quarenta e duas lutas de boxe no cartel, enfim já tem experiência no mundo da luta, chegar e começar no MMA como um iniciante para ganhar R$ 300,00 por luta? (que é a quantia que pagam para quem está estreando...) Não dá para mim. Além do que minha experiência é na trocação, sou um cara ainda iniciante no chão, no jiu-jitsu, luta livre, estou começando a treinar.
 
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39.   SÓ CASCA! – Sem falar que é muito mais agressivo que o boxe, o risco do cara se machucar mais gravemente que no boxe é real.
40.   CISSO  – Sim, hoje o MMA está muito, muito competitivo, tem bastante gente boa querendo chegar nesse meio. Hoje em dia para alguém se destacar tem que dar o máximo de si, não há lugar para amadores. Sem falar que com a idade a gente perde aquela motivação de lutar, eu não tenho mais aquela garra de garoto que lutava tudo o que aparecia pela frente. Hoje se eu fizer uma luta, no dia seguinte não me aguento, resultado de lesões sobre lesões, doem os pulsos os cotovelos... e você sabe, com a idade a recuperação não é mais tão rápida. Quando você é jovem faz uma luta, se arrebenta e no dia seguinte já tá novo...
 
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41.   SÓ CASCA! – Olha, o MMA é o foco, como você diz, é a moda atual das artes marciais, se é que podemos chamar o MMA de uma arte marcial, porque é uma mistura do que há de melhor em diversas artes. Mas, parece também ser uma grande ilusão. Porque só há lugar para os tops de linha que mesmo assim ganham infimamente menos que os lutadores de boxe profissionais, veja o pugilista norte-americano Floyd Maywther ganhando bolsa de U$ 40 milhões por luta! No Brasil os lutadores vivem mais da garra, do sonho que propriamente da luta, quem ganha mesmo com isso são os promotores de eventos. Recebem o patrocínio, a venda da transmissão das lutas para no final dar uma mixaria para os lutadores... Enfim, o MMA não fez foi piorar a situação das lutas? para os atletas? massificando o mercado, hoje em dia todo mundo é lutador, vai numa academia de Jiu-jitsu, por exemplo, tem um monte de caras matriculados porque querem ser lutadores de MMA  e tudo isso vai desvirtuando o caráter oriental da arte marciail (a disciplina, a serenidade, o respeito)...
42.   CISSO  – Isso é por conta da mídia que influencia muito, incentiva todo mundo para o MMA. Todos querem a assinatura de um canal para assistir as lutas e concordo, muita gente querendo ser lutador, alguns inclusive sem menor condição, uns coitados que nem nascendo de novo serão lutadores é gente de mais, como você diz, massificou o ramo da luta. Dinheiro para os lutadores eu não sei se tem, mas não sei se essa situação da moda do MMA, do aumento do número de lutadores profissionais piorou a vida dos lutadores, não sei te dizer.
 
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43.   SÓ CASCA! – Cisso, você disse que já treinou e competiu Kickboxing, mesmo assim podemos afirmar que sua bandeira é o boxe?
44.   CISSO  – Não, não. Para você ter uma ideia eu não gostava de jiu-jitsu, não me sentia a vontade no pano. Mas, hoje em dia eu admito que a gente tem que ganhar conhecimento. Não me adapto bem, mas quero aprender, quero conhecer, entendeu? Porque, o jiu-jitsu, por exemplo, é um xadrez, tem estratégia, é bom. Eu me sentia uma criança quando da trocação ia para o chão. Na trocação eu sou bom, me sinto seguro, mas no chão até bem pouco tempo atrás eu não sabia fazer nada... Veja durante um tempo fui sparing dos alunos do Carlão Barreto em Botafogo. Tinha que largar a lenha nos caras, em pé tudo bem, mas quando me botavam no chão me finalizavam muito rápido, porque eu não tinha noção alguma, saída alguma. Enfim eu não tenho essa história de bandeira. Tenho muitos amigos da Luta-Livre, do Jiu-jitsu e participo de todos os treinos com eles no chão.
 
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45.   SÓ CASCA! – Cisso, nesse seu tempo de Boxe e Kickboxing quais foram as pessoas marcantes na sua história?
46.   CISSO  – Eu acho que foi o Vinícius Russo. Foi meu primeiro mestre, toda base adquirida na luta, todo conhecimento, aprendizado veio dele. Ele era um cara muito técnico e me formou. Tive muitos outros professores depois dele, todos muito bons também, só que eles complementaram o trabalho de formação do Vinícius Russo.  Ele me mostrou como era a disciplina na luta, a concentração, me passou confiança, isso foi muito importante, ele me passou confiança foi com ele que aprendi a confiar e mim. Andei por muitas academias e não obtive essa correspondência.
 
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47.   SÓ CASCA! – Explica para mim o que quer dizer isso? me passou confiança?
48.   CISSO  – Ele acreditava no meu trabalho, no meu potencial. Ele realmente se desdobrava para me acompanhar, para torcer por mim, não era só treinar. Ele ia para qualquer lugar comigo. Era eu quem representava a academia na maioria das vezes. Perdia os finais com a família dele para estar do meu lado, me orientando, torcendo por mim. Ele me adotou. Passei por muitos momentos difíceis na luta porque tinha uma jornada dupla, trabalhava e treinava. Meu trabalho como já te falei não era na área da luta, sempre tive empregos simples para sobreviver entregador de água, vigia, faxineiro. Então eu chegava 5:30 da manhã na academia do jeito que fosse, chovendo, fazendo sol, frio e treinava com todo afinco o tempo que eu tinha disponível. As vezes chovia, as pessoas não iam a academia e o Vinícius Russo sozinho, estava lá firme para me treinar, algumas vezes eu percebia ele cochilando, mas estava lá. Eu acho que o treinador só é tão presente e dedicado a esse ponto se ele realmente acredita no aluno. Você não acha? Ele sonhava realmente que eu subiria nos maiores ringues. Era uma troca muito grande de estímulo, eu treinava duro e com sacrifício ele percebia isso e também dava o melhor de si nos treinos, no apoio moral. Ser treinador de um lutador é um peso psicológico muito grande, hoje em dia, olhando o passado eu sei disso. Tem que motivar e saber controlar a ansiedade do lutador e, principalmente, ser presente, estar ao lado dele o tempo inteiro. É uma luta que começa antes de chegar ao ringue, a luta contra a ansiedade de aguardar o evento. Especialmente se você já tiver algum nome, tiver um cartel, o cara já chega no ringue com a desvantagem da cobrança da vitória. O treinador sofre com isso também porque ele está ali do teu lado e tem que te motivar, o Vinícius Russo sofreu tudo isso comigo, mas não se abalava, me passava confiança. Eu tinha muitos problemas de ansiedade, aguardando marcação das lutas, aguardando nos bastidores o início das lutas, mais de uma vez cheguei até a passar mal antes dos confrontos por conta disso. O técnico de verdade surge nessa hora, para lhe inspirar confiança, meu mestre Vinícius Russo era fundamental nesses momentos. Hoje eu vejo que mais que ensinar boxe ele dizia através de gestos, de ações e não de palavras vazias uma coisa que nunca mais encontrei em lugar algum: fé no meu potencial. Perceber que as pessoas a sua volta estão dispostas a sacrifícios pessoais para te ajudar é uma coisa que motiva muito a gente. Apesar de tudo isso minha estrela não chegou a brilhar como a gente sonhou...
 
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49.   SÓ CASCA! – Quando foi que você percebeu isso Cisso? Primeiro momento de suspeita de que as coisas não dariam certo, não iriam ao rumo sonhado?
50.   CISSO  – Não foi de uma hora para outra. Depois que eu sai da equipe do Vinícius Russo, fui para a Nobre Arte, RFT e vários outros lugares. Com o tempo eu  percebi que mesmo você estando no meio do pessoal da luta que possui um certo conhecimento dos caminhos, que conhecem as pessoas que organizam e decidem quem vai lutar, senti que as pessoas estavam me colocando na geladeira. Eu treinava, ouvia promessas de luta, iriam conseguir lutas para mim, mas essas promessas não se realizavam.  Enquanto essas promessas de lutas não se realizavam eu continuava meu treino duro... pulando corda, pesinho, caneleira e as lutas não aconteciam.
 
51.   SÓ CASCA! – O que você sentiu nessa hora? O que passou pela sua cabeça?
52.   CISSO  – Eu não queria desistir, entente? Tentava não perceber. Ignorar e encontrar lugares para eu treinar.
 53.   SÓ CASCA! – Não te deixou problemas na cabeça, depressão, agressividade?
54.   CISSO  – Não, eu fiquei triste lógico, porque eu queria participar das lutas. Eu estava há quatro anos invicto, lutando direto, ganhando todas. Então, saia de um lugar e ia treinar no outro, se não havia lutas para mim. Todo mundo queria a minha participação na sua equipe de boxe porque na época eu era um cara vitorioso. Mas, eu acho que aí é que eu errei. Na ansiedade de lutar, de estar no ringue de qualquer maneira, eu mudei muito de equipe, de técnico. Só que é importante o cara ter uma bandeira. A minha era o Vinícius Russo, mas eu saí da orientação dele não por achar esse ou aquele era melhor treinador, e sim porque eu tinha esperança de que esses outros professores, essas outras equipes com mais contato, mais relacionamento no meio pudessem me conseguir lutas, isso o próprio Vinícius Russo sabia e concordava, até mesmo porque todo esse acompanhamento dele para mim, apesar de sincero, era bem cansativo para ele e sem retorno financeiro. Como já disse também, a ansiedade contou muito, a ansiedade de lutar, queria tanto lutar que uma época até aceitei o convite do mestre Vagão que me chamou fazer uma luta lá em Curitiba de Muay Thai, só que eu não tinha experiência no Thai, só no Kickboxing, para você ver como eu estava querendo mesmo lutar a qualquer preço. Esta luta não chegou a se realizar, não fecharam a bolsa, mas cheguei a fazer uma luta por semi-profissional da Quadra da São Clemente, luta de Muay Thai...
 
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55.   SÓ CASCA! – Quando de fato pararam as lutas, quando você parou de lutar nos ringues?
56.   CISSO  – Olha foi em 2011.
 57.   SÓ CASCA! – O que passou na sua cabeça?
58.   CISSO  – Até hoje, no fundo, no fundo dos meus pensamentos,  eu ainda não me dou por vencido, as aulas que venho aplicando atualmente servem para eu compensar essa falta dos ringues. Minha vontade mesmo era só lutar, eu nunca pensei em dar aulas. Só que parece inevitável, você vai reunindo e pondo em ordem as suas experiências e percebe que ser um treinador é a continuação do trabalho, na verdade é ideal. Hoje eu posso dizer sem dúvida que tenho grande maturidade para ser um professor de boxe.
 
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59.   SÓ CASCA! – Essa maturidade, além da experiência como um lutador de boxe vitorioso inclui também formação para lecionar o boxe?
60.   CISSO  – Sim fiz curso de treinador  e  depois outro curso avançado.  Os cursos de treinador de boxe foram com Maurício Cristino e seu filho Maurício Canela, o curso avançado foi só com o Maurício Canela, tudo pela Federação de Boxe. Depois disso passei a ministrar esses mesmos cursos juntamente com eles.
 61.   SÓ CASCA! – Bom, conte um pouco mais sobre essa nova fase na sua vida, a de professor de boxe?
62.   CISSO  – Tudo começou quando fui conhecer o treino do Maurício Canela, lá na academia do Catete, atual Body Performance, antiga Rio Gyn. Ele me convidou para fazer parte da equipe, inicialmente era para ser um atleta de lutas de boxe. Só que aqui no Catete, não tinha corpo para mim, não tinham atletas, sparing, estrutura para treinar um lutador. Havia só um treinamento de manopla. Assim mesmo durante uns 3 anos, cheguei a fazer umas lutas, como o Luvas de Ouro em São Paulo, o Kid Jofre e outros. Então voltando a questão, eu fazia os treinos e aos  poucos fui ajudando nas aulas, puxando as aulas, do Maurício Canela, os cursos e quando percebi já estava tomando conta da turmas com cerca de 40 alunos como estou atualmente.
 
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63.   SÓ CASCA! – Como são as suas aulas?  Há atletas competindo sob sua orientação?
64.   CISSO  – Não, não treino lutadores, o lance lá é boxefitness, boxe para condicionamento físico, perda de peso e como defesa pessoal. Como você viu tenho como alunos desde a mocinha que quer usar o boxe para manter forma, ao garotão, ao executivo que quer dar uma suada na academia após  um dia inteiro de trabalho sentado no escritório. Os treinos de boxe, a sombrinha, o espelho, o uso dos pesinhos são exercícios aeróbicos incríveis, dão grande condicionamento físico, respiratório, você trabalha todos os movimentos do corpo, queima bastante caloria, hidrata o corpo. O ambiente é bem descontraído, familiar, sem rivalidades, só galera querendo o auxílio do boxe para ficar bem de saúde.
 65.   SÓ CASCA! – Cisso, para enfrentar um desafio, o que precisamos? Para ser um Casca! o que as pessoas precisam? Não estou me referindo só a lutadores, mas as pessoas comuns nos desafios da vida...
66.   CISSO  – Tem que enfrentar, tem que ser determinado, se não, você fica no caminho. Se não der certo, não deu, paciência, o que não pode acontecer é o desafio te vencer porque você desistiu, você desanimou.  Já ouviu falar que “a gente só deve andar para trás para tomar impulso de ir para frente”? Então, é por aí...
 
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67.   SÓ CASCA! – Cisso, quem quiser fazer uma aula de boxe legal, para manter a forma, com um professor experiente e uma galera motivada ou mesmo ter aulas particulares, como fazer, onde procurar?
68.   CISSO  – Minhas aulas são segunda, quartas e sextas, das 18:30 às 19:30 e das 19:30 às 20:30 na Academia Body Performance, Rua do Catete, 178, Catete. Também dou aulas particulares, quem tiver interesse pode ligar para mim diretamente no celular número (21) 7759-2850 .
  





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