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Ricardo TINHA
Professor de Boxe
Amigos,
O Entrevistado de hoje é mais um dos grandes nomes que está ajudando a manter viva a chama do boxe no Rio de Janeiro e por que não dizer no Brasil. Professor Tinha falou um pouco de sua história, seus atletas, projetos e da nua e crua dimensão atual do boxe com minguados torneios e sem patrocínio. Apesar de todas as dificuldades o professor Tinha não se abate, ele falou do boxe para mim como um comandante de campanha. Realista, ao alerta aos soldados de que a guerra é difícil e que não poderá garantir a sobrevivência de todos, e, ao mesmo tempo determinado, de que o bom combate vale todos os esforço. Se tem uma virtude que eu aprecio nas pessoas é a coragem de enfrentar a vida, no lugar de arranjar desculpas para não tentar vencê-la. Por isso eu gostei muito de conversar com ele numa linda manhã de sol em Copacabana. Espero que gostem da conversa e agradeço ao professor Tinha e a todos os seus alunos pela oportunidade de conhecê-los.
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1. SÓ CASCA! – Agradeço a gentileza de me receber e peço que o senhor
comece dizendo quem é, qual sua arte marcial e qual foi sua primeira
experiência com lutas?
2. Ricardo TINHA – Em primeiro lugar agradeço ao SÓ CASCA pela
oportunidade, poucos profissionais na mídia falam de artes marciais,
especialmente o esporte amador. Os atletas amadores ficam sem oportunidade de
aparecer. Então quando aparecem pessoas querendo ajudar, me sinto esperançoso,
é importante que cada um faça sua parte, quer dizer, nós, de ajudar ao seu
trabalho de divulgação, o qual leva o esporte de contato (lutas) ao público.
Assim, quem tem que agradecer alguma sou eu. Entendeu? Bom, meu nome é Ricardo
de Carvalho Silva, mais conhecido como Ricardo Tinha. Mas, a galera me chama
mesmo é de “Tinha”, um apelido que ficou desde infância. Sou nascido e
criado no morro do Cantagalo, Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro onde a
maior família da comunidade é a minha. A minha arte marcial é o boxe, estou
nele há muitos anos e desde cedo foquei me preparei para ser treinador, tenho
alunos campões, mantenho e Fundei o projeto social Comunidade no Esporte e a
Liga de Boxe da Cidade do Rio de Janeiro, também faço parte da Confederação
Brasileira de MMA - CBMMA junto com Eduardo Herdy e Osíris Maia. Tenho cursos
de formação na ODEPA Organização Desportiva Pan-americana; no Comitê Olímpico
Nacional; na Confederação Brasileira de Boxe; na Federação de Boxe do Estado do
Rio de Janeiro e na Associação Nacional de Boxe a qual é filiada a WBA.
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3. SÓ CASCA! –Então, como foi a sua primeira experiência no boxe,
primeiras lembranças, foi mesmo o boxe sua primeira arte marcial?
4. Ricardo TINHA – Não, comecei no Judô. Tive uma oportunidade com o mestre
Rogério Camões, meu amigo, sou muito grato a ele e ao judô para minha formação
como pessoa. Não tinha condições de pagar aulas, então, ele me deu uma bolsa
para praticar Judô no Colégio Divina Providência, Horto, Jardim Botânico, perto
da Rede Globo. Eu tinha uns 18 anos por aí, bem tarde para começar, não é? Foi
difícil para mim, como é para muita gente no Brasil, venho de uma família de
sete irmãos, minha mãe empregada doméstica, meu pai porteiro, criado no morro.
No entanto, nunca nenhum de nós passou nenhum tipo de necessidade. Todos os
meus irmãos sempre trabalharam, eu segui a mesma a mesma fórmula, só que eu fui
o único voltado para o esporte. Naquela época era tudo mais difícil. Muitos
amigos meus, nascidos na comunidade, entraram para o lado errado, muitos
morreram, uma realidade que todos nós conhecemos. Mas, eu preferi seguir meu
caminho no esporte.
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5. SÓ CASCA! – Quanto tempo ficou no Judô?
6. Ricardo TINHA – Bastante tempo. Cheguei até a marrom, mas, não com o
Rogério, pois tive uma interrupção, não dava mais para continuar lá, treinei
com o Batata e outros professores, parei porque tinha que decidir se eu
treinava ou trabalhava, precisava ganhar meu sustento.
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7. SÓ CASCA! – Primeiro foi o
judô, como depois veio parar o boxe na sua vida?
8. Ricardo TINHA - O boxe surgiu depois, consegui uma sala para desenvolver o
Judô dentro da Comunidade do Cantagalo, porém, os materiais eram muito caros.
Foi quando eu encontrei o Claudio Coelho, éramos amigos de muito tempo, as
famílias nas comunidades se conhecem, ele estava ministrando o boxe e tinha
perdido o espaço do Clube Radar em Copacabana, eu disse que tinha uma sala para
fazer um trabalho social, que acabara de ganhar da diretora Dona Rosa muito
amiga da minha mãe, na comunidade minha mãe era conhecida como tia Neném. Foi
ai que o boxe entrou na minha vida, apresentei o Claudinho à diretora do CIEPE,
Dona Rosa. Em seguida deixei o judô de lado, comecei com o boxe na sala que
havia conseguido. Na verdade isso foi entre 1988 e 1989, graças a Deus tudo deu
certo. A Academia Nobre Arte ficou sempre entre as melhores no boxe. Quero
mandar um braço ao mestre Claudio Coelho.
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9. SÓ CASCA! – O senhor mencionou no início cursos que fez de boxe, fale
um pouco sobre a relevância deles na sua carreira?
10.
Ricardo TINHA – Olha todos esses cursos foram muito importantes, qualquer
treinador que se preze precisa de uma formação mínima, de um reconhecimento
dessas organizações, nacionais e eu tenho até de estrangeiras. Mas, foram muito
importantes também não só por aprender coisas novas, mas por notar também que
estava no caminho certo. Revi técnicas, de impacto, por exemplo, apresentadas
como novidade nesses cursos por instrutores cubanos que eu por intuição já
aplicava aos meus alunos há tempos. Ao fazer este curso um cubano, o doutor
Pedro, se surpreendeu por eu já conhecer algumas das técnicas por ele aplicadas
em Cuba. Sempre insisto isso nos meus treinamentos, a força, o impacto, as
pegadas. O Joílson Gomes quando foi para a Seleção Brasileira de Boxe fez o treino
com os pesos na técnica do doutor Pedro Cubano, tirou de letra, pois já havia
treinado muito aquilo comigo. Respondendo sua pergunta é isso, esses cursos
aperfeiçoaram meu treinamento, aumentaram a minha confiança como técnico porque
como disse percebi através da lição dos grande treinadores cubanos que eu já
estava no caminho certo. Só que infelizmente, não basta ter os cursos, no mundo
do boxe para formar atletas tanto no boxe amador como profissional é necessário
que haja eventos, entende? Professores qualificados, atletas com garra, existem
muitos no Brasil, o problema são os torneios.
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11.
SÓ CASCA! – Mas, como andam os torneios de boxe?
12.
Ricardo TINHA – Praticamente não existem. Isso é um problema grave, porque
para que seu atleta desponte nesses eventos são necessários uma série de
fatores, com esforço e muito apoio talvez até se consiga fazer um torneio, mas
um só não é suficiente, entende? Não se constrói um cartel para um lutador ser
respeitado. Sem falar que além de ser altamente complexo criar um evento em si
é muito difícil manter um atleta com dedicação exclusiva somente aos treinos.
Imagine o dinheiro para manter um atleta, pois ele fora dos ringues, come, se
veste, toma medicamentos, tem família para sustentar, tem sua vida pessoal, não
é o amor à luva que alimenta-o do mesmo modo o técnico...
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13.
SÓ CASCA! – Professor, mas as Olimpíadas não são uma boa fonte de
financiamento para os atletas do boxe?
14.
Ricardo TINHA – Olha, bolsa existe, mas nem todos que a conseguem podem
viver só com ela. Veja o exemplo do meu atleta, o Reginaldo da Hora,
vice-campeão brasileiro. Convidado para seletiva do Pan-americano, não foi; do
mesmo modo convidado a participar da Seleção Brasileira, não foi, simplesmente
porque não queria deixar o trabalho dele. Sabe no que ele trabalha? E ganha
mais que a bolsa da seleção? O Reginaldo é entregador de compras no
Supermercado Mundial. O supermercado paga um salário astronômico? Não! É que a
bolsa para um atleta de boxe de alto rendimento da Seleção Brasileira, na época
era algo irrisório, uma verdadeira “merreca”, isso não faz muito tempo. O
Mutante na época que era da Seleção Brasileira ganhava a mesma coisa, como não
tinha filhos, menos despesas, ficou, viajou para Venezuela, foi terceiro lugar
no campeonato das estrelas, lutou vários eventos, foi campeão no torneio Luvas
de Ouro em São Paulo, Vice Campeão Paulista, Brasileiro, enfim, vários eventos
amadores. Percebe a grande dificuldade? Mesmo assim com todas as dificuldades o
Mutante segue sua carreira. Atualmente estou negociando com a Associação
Nacional de Boxe de fazer a primeira luta do Mutante como profissional.
Acabaram de mandar uma notícia ontem (primeira semana de março) que haverá uma
disputa de cinturão aqui no Rio de Janeiro e vão botar o Mutante para
participar deste evento. Hoje estou dando a matéria para você em primeira mão.
A data está para ser prevista.
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15.
SÓ CASCA! – E o patrocínio?
16.
Ricardo TINHA – Patrocínios não têm... Sabe o que me deixa puto? São
algumas pessoas que querem aparecer e diz. “Eu vou te ajudar, um amigo meu vai
ajudar, me manda isso, que vou ver, vou falar com fulo ele vai ajudar” mandar
recados para estes tipos de pessoas que não ajudam ninguém. Quem vai ajudar não
fala, toma iniciativa e faz, não prometa o que não vai cumprir para ninguém.
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17.
SÓ CASCA! – O senhor falou do Mutante e seu outro grande campeão, o
Joilson Gomes?
18.
Ricardo TINHA – Na Nobre Arte dei início à carreira do Joilson Gomes meu
primeiro aluno, ficamos juntos bastante tempo, depois que me formei treinador,
passei a me dedicar ao ensino do boxe, assim treinei não só vários atletas,
como o Joílson Gomes, Eduardo Herdy, Nenzão, Reginaldo da Hora, Mutante, que já
citei. Como também formei técnicos em boxe. Dou aulas também no Clube da Luta
em Copacabana, tenho um horário para pessoas que não tem condições de pagar e
em outros horários para pessoas que podem pagar, junto com o professor de
Kickboxing Marcio Fofão que é um dos lideres do Clube de Luta.
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19.
SÓ CASCA! – Professor, então como o senhor sobrevive?
20.
Ricardo TINHA – Olha, mantenho o treino de meus atletas de graça (porque
não podem pagar também), mantenho o projeto social no Engenho Novo com ajuda de
amigos, como a SENKI KIMONOS que doou matérias para o projeto e me ajudou na
metade de compra de materiais para obra do projeto. Faço de tudo o que está ao
meu alcance mesmo para manter viva a chama do boxe. É difícil? Muito! Mas esses
trabalhos me dão satisfação pessoal porque estou criando campões, porque estou
ajudando pessoas simples a terem um sonho e acreditarem nele. Alguns deles já
estão aí consagrados, mas o que me sustenta mesmo são minhas aulas
particulares. Eu suspeito que muitos dos meus alunos particulares, pessoas que
fazem boxe para perder peso e manter a boa forma física, quer dizer, pessoas
que não são lutadores, terminam sobindo no ringue junto comigo e meus atletas,
como o “Mutante”, Reginaldo da Hora, direta ou indiretamente são eles, os meus
alunos particulares que são os verdadeiros patrocinadores de meus campões.
Dificuldades existem, todos têm! Alguns talvez mais que os outros, o que faz a
diferença é você permitir ou não que elas tirem sua fé.
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21.
SÓ CASCA! – Como funcionam essas aulas particulares?
22.
Ricardo TINHA – Essas aulas dou aqui mesmo na Praia de Copacabana. Marcamos
uma hora específica e nesse cenário lindo, que, o mundo inteiro conhece,
treinamos o boxe. Veja o exemplo da Samantha, ela é inglesa que está há mais de
sete anos treinando boxe comigo. Tem a pegada de uma lutadora profissional, mas
apesar de todos o seu empenho, faz o boxe como atividade aeróbica, nesta época
em especial quando está no Brasil para se preparar para desfilar entre as
Escolas de Samba Campeãs, no Carnaval Carioca. Como disse: aula para pessoas
que não são atletas, mas estudantes, advogados como o Dr. Zé Carlos Tortima
para quem já passei uns treinos de boxe, Dr. Orlando Cunha, por exemplo: também
treinei a Coordenadoria de Operações Especiais – CORE da
Polícia Civil do Rio de Janeiro IV e V COTE que fui convidado pelo Eduardo
Herdy para participar da formação destes novos policiais na ACADEPOL. Herdy é
meu aluno de boxe já ganhou duas lutas de MMA profissional e todas duas por
nocaute. Como te falei a característica de meus alunos é a pegada, pegada forte
que condiciono nos treinamentos.
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23.
SÓ CASCA! – Hoje quem é sua cria que vai lutar torneios?
24.
Ricardo TINHA – Mutante (Wagner Lira), o Reginaldo da Hora, esses estão
preparado para lutar, se tiver luta estão prontos. Cria minha tem vários, como
o Nenzão que fiz no boxe, lutou bastante pelo projeto, ganhou vários eventos.
Estão preparados não só para o boxe, como para o MMA.
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25.
SÓ CASCA! – Já que tocamos tanto diretamente e indiretamente no
assunto, ao que o senhor atribui a essa diferença tão grande existente de
outros lugares no mundo que o boxe é valorizado e recebe bastante patrocínio.
Por que no Brasil não há dinheiro para boxe? Parece que o pouco de dinheiro que
é destinado de patrocínio vai só para o MMA?
26.
Ricardo TINHA – Eu acho que é o sistema. Andei pesquisando o que dá certo
no Brasil. Tudo que dá certo no Brasil aparece um cartola que não tem nada haver com o esporte para ser presidente da organização que rege o tal esporte.
Assim controlam taxas e dinheiro. Por isso, que não dá certo, os lutadores
continuam sem apoio e ainda tem que pagar taxas para as federações.
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27.
SÓ CASCA! – Qual é o problema da organização do boxe no Brasil. Aliás,
tem algum lugar que o boxe dá certo no Brasil?
28.
Ricardo TINHA – O futebol tem vários representantes na política. O vôlei só
difundiu depois que um jogador assumiu o Comitê Olímpico, o Nuzman. Então, o
vôlei ficou sendo a segunda potência no esporte brasileiro. Os esportes de
contato, lutas, artes marciais, qual é o representante que nós temos? Que
trabalham em cima disso? Como vereador? Como deputado? Senador? Governador? São
Paulo e Bahia são os lugares que tem um índice de crescimento do boxe.
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29.
SÓ CASCA! – Então o senhor está afirmando que falta é representação
política para o boxe?
30.
Ricardo TINHA – Isso, mas para que alguém seja eleito, para que haja essa
representação política deve existir uma união nossa para poder fazer o sistema
abrir as portas. Senão as coisas vão ficar como estão. Esse pensamento não é só
para o boxe, mas, para o jiu-jitsu, Luta livre Esportiva, Kickboxing, karatê e
etc.
31.
SÓ CASCA! – A maioria das pessoas com quem converso admite a existência
desses problemas de falta de patrocínio, apoio ao atleta, ao treinador por
ausência de união nas próprias entidades representativas que disputam o poder
entre si. Porque dinheiro existe, mas as empresas não se sentem seguras em
investir, porque a coisa é meio sem dono.
32.
Ricardo TINHA – Olha, além disso, quando aparece alguém usando, por
exemplo, o boxe como bandeira política, como foco de projeto político, é só em
véspera de eleição, depois tudo cai no esquecimento. É o mesmo que fazem com
temas como a fome, a miséria, a educação, a segurança... Só antes da eleição,
esses temas são citados como suposta preocupação aos políticos, depois você já
sabe... Todos nós do meio, especialmente os professores, temos que dar um basta
nisso. Entendeu? Você quer ajudar? Então, mova-se, prove que existe real
interesse, primeiro veja a necessidade dos atletas e só depois as das
federações e das confederações. Porque sem isso não há como garantir o atleta,
não sei como fazer isso na prática, mas do jeito que está não pode continuar,
muita burocracia. Vou dar um exemplo, um atleta hoje, muitos deles, só treina
porque tem ajuda do técnico, faz o treino de graça. Além disso, faz jornada
dupla porque não pode viver somente como atleta, passar o dia inteiro na
academia. Então tem que trabalhar à noite ou pela madrugada como motoboy,
entregador de compras de supermercado, se não morre de fome. Aí com um esforço
animal ele leva essa vida, consegue se qualificar e consegue uma luta. Para
correr atrás de patrocínio ele precisa de uma declaração de que é atleta
federado, associado ou coisa do tipo, qual a surpresa? Procura a federação e
para receber uma declaração vai ter que pagar R$ 100,00, R$ 200, por isso! Um
cara que não tem nem um ovo, um arroz para comer, como vai pagar isso para
poder correr atrás de patrocínio? As federações existem porque têm atletas, sem
eles boicotassem estas federações que não os trata bem e migrassem para outra
liga, as federações iriam perder força política e respeitariam mais os atletas.
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33.
SÓ CASCA! – Professor, ouvindo seu desabafo e também pensando em alguns
atletas que conheci nos últimos anos, penso que talvez os maiores desafios
desses lutadores estão fora dos ringues e não dentro dele...
34.
Ricardo TINHA – Isso mesmo amigo, os adversários mais duros estão fora do
ringue e usam golpes baixos, atacam pelas costas e não obedecem ao sinal do
congo...
35.
SÓ CASCA! – Cite alguém relevante na sua história, alguém que deva ser
lembrado e por quê?
36.
Ricardo TINHA – Tortinho, ninguém fala dele, o José Augusto dos Santos, foi
campeão brasileiro de boxe. O cara é meio doido, o jeito dele, mas é uma pessoa
que deve ser sempre lembrada. Quase não vejo ninguém falar dele. Foi importante
para nós, ele é uma pessoa, é uma criança grande, entendeu? Um amor de pessoa,
sem dúvida foi um bom lutador, um bom treinador. Parece que ele está vivendo em
Itaguaí, soube que ele passou uma dificuldade tempos atrás e não tive mais
notícias. Relembro também não por estarem esquecidos, mas como forma de
agradecimento, o Dr Orlando Cunha, Márcio Milleche, Zé Carlos Tortima e a filha
dele a Dr Fernanda, Samantha Flores, Rodrigo Antunes, o pessoal que está sempre
aí me ajudando, não são meus patrocinadores, são pessoas que sempre tentam
ajudar em alguma coisa. Se eu precisar eles me ajudam. Me ajudam a
distribuir cestas básicas no morro, no projeto social. Não posso esquecer-me de
mencionar os meus alunos, não é? Não posso esquecer eles, que confiam no meu
trabalho. Bethe Makonnen, eu a considero a madrinha do meu projeto Comunidade
no Esporte, ela um dia vai segurar um cinturão de algum aluno cria do projeto,
porque se tudo esta acontecendo, mesmo que devagar, é graças a ela. Pois
acredita no meu trabalho, obrigado minha amiga e aluna Bethe Makonnen, muito
obrigado pelas palavras de incentivo e toda família Makonnen.
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37.
SÓ CASCA! – Fale agora
sobre seu projeto social Comunidade no Esporte.
38.
Ricardo TINHA – Fundei o Comunidade no Esporte em setembro de 2000.
Conseguimos um galpão na Rua Barão do Bom Retiro, Engenho Novo, suburbio do Rio
de Janeiro e é lá que o projeto está instalado. Ensino boxe para crianças e
adolescentes de comunidades pobres e no nosso convívio tento passar coisas que
certamente poderão fazer delas pessoas de bem: ensiná-los a ter
responsabilidade, auto-estima e a manter os estudos na escola em dia. Veja, por
exemplo, eu acompanho a vida escolar de cada um de meus alunos do projeto. Se o
menino não for para escola não entra também na minha academia. Sabe o que
acontece? Como todos eles adoram o boxe, ninguém falta à escola e com isso eles
vão mantendo aberta a porta dos estudos. Entendeu? Apesar de ser um ambiente de
luta, ensino a eles o respeito, a disciplina tudo que aprendi em anos de treino
e convivendo com inúmeros atletas e professores. Enfim, tento mostrar que no
Boxe, o lutador vence através do treinamento físico, dedicação, autoconfiança e
técnica: não há lugar para violência! Há vontade de ampliá-lo para outros lugares,
porém só existe por lá por enquanto no Engenho Novo. Graças a Deus conto com a
ajuda de colaboradores fieis para que ele continue. Isso porque não cobro nada
das crianças e adolescente, adultos também podem treinar, mas pagam uma
contribuição, só que poucos podem ajudar e o que é arrecadado não dá para nada.
Então, só posso mantê-lo como disse, graças a ajuda de muitas pessoas, como uma
aluna particular, a norte americana, a Bethe Makonnen, a qual sempre me ajuda
na hora do sufoco, pagando passagens de avião para lutas do campeonato
brasileiro, como já houve em São Paulo e em Belém do Pará.
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39.
SÓ CASCA! – O senhor já disse que o projeto tem ajudado as crianças
enquanto pessoa a amadurecer, a não por a revolta em primeiro lugar, mas
e os resultados dentro do boxe nos torneios?
40.
Ricardo TINHA – Sim, claro, particiamos de torneios, fizemos vários
Campeões. O primeiro que posso citar é o Wagner Lyra (Mutante) atleta que mais
trouxe medalhas e vitórias nos últimos anos de São Paula para o Rio de Janeiro,
foi campeão dos Jogos aberto do interior, Luvas de Ouro. Wagner continua
invicto na categoria médio até 75 Kg, foi o único a quebrar a invencibilidade
do titular da seleção na época, o Glaucélio Abreu, estava invicto há cinco
anos, ao quebrar essa invencibilidade na Bahia foi convidado a participar da
seleção brasileira de boxe. Temos o Miguel de Oliveira Vice Campeão brasileiro
duas vezes, 3º lugar no Torneio das Estrelas, no Estado do Rio de Janeiro;.
temos ainda Reginaldo Henrique da Hora, Campeão Estadual, Vice Campeão
Brasileiro e Campeão do evento de MMA MECA 12; Leandro Domingo Campeão de
estreante do boxe; Luciana Santos vice campeã nos jogos aberto em Mogi das
Cruzes São Paulo; Vanessa Santos terceiro Lugar nos Jogos aberto de Santos;
Naiala Fidelis terceiro Lugar nos Jogos aberto de Santos; Isto foi o que rendeu
para o projeto Comunidade no Esporte, durante esses anos... Fora os outros que
foram crias do projeto que não estão mais treinado.
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41.
SÓ CASCA! – Agora a pergunta que sempre faço aos entrevistados, o que
faz “um casca”? O quê aconselha a uma pessoa diante de um desafio? Não só para
um lutador, mas para pessoas comuns também, o que fazer para superar as
adversidades com base na sua experiência de vida, de lutador?
42.
Ricardo TINHA – O cara tem que acreditar em si. Se você tiver autoconfiança
ninguém te para. Pode até acontecer de te parar, mas você levanta e vai partir
pra cima novamente, aí o outro ou vai ceder ou vai te abraçar. Lógico que tem
que haver um empurrão, tem que haver uma ajuda, ninguém consegue nada sozinho.
Meus atletas dizem “às vezes estou cansado, mas quando ouço o Tinha gritar,
parece que eu acordo de novo e volta com tudo”.
43.
SÓ CASCA! – O ser humano precisa de estímulo. Todavia, para algumas
pessoas é muito difícil, porque o sujeito já nasce desacreditado, o mundo
parece estar contra ele. O senhor viveu em comunidade sabe disso, o sujeito é
discriminado ao nascer. Então o sujeito só tem uma opção se quiser vencer, ter
autoconfiança, acreditar em si e para isso precisamos desse “empurrão” que o
senhor fala, de um estímulo, nem que seja só uma simples palavra amiga.
44.
Ricardo TINHA – Não deve botar isso nunca na frente “moro em comunidade”,
“o sistema é contra mim”, quem quer consegue. Não deve ficar arrumando essa
desculpa para falta de iniciativa. Não importa se esta com saldo devedor, com
problemas. Se tem saúde e disposição para correr atrás, uma hora vai conseguir.
Eu trabalho com projeto social há muito tempo, sei o que são dificuldades, o
cara pode não conseguir os milhões, mas os reais, alguma coisa ele vai
conseguir. Enfim, é preciso ter fé, ter autoconfiança. Gostaria muito de mandar
um abraço para alguns alunos e amigos, Dr. Eduardo Valverde, Alcemir Jr,
Miroudo, Jailson, Ingrid Andrade, Cione Medeiro, Rodrigo Leonardo,Vitor
Menezes, Mutante,Bombinha,Bruno Lyra,MosquinhaAugusto Cezar,Pablo Babú,Sapão,
Luih Rocha, minha esposa Vanuzia e meus filhos Karen Cristine, Kayan, Kaique
,Beatriz Cruz, Jean Pierre.
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45.
SÓ CASCA! – Quem quiser fazer um treino motivado de boxe com um
treinador experiente, onde procurar?
46.
Ricardo TINHA – Cara, estou aqui na Rua Djalma Ulrich n. 154, 4º andar,
Copacabana, de terça à sexta-feira de 10hs as 12hs no Clube de Luta junto com o
Fofão que é meu amigo e na parte da tarde estou no meu projeto social
Comunidade no Esporte na Rua Barão do Bom Retiro nº 1276,
Engenho Novo, próximo ao Mercado Prix. As aulas particulares, os
interessados podem ligar para (21) 99666-9724 e 96984-0076 para marcar
horários.
Um comentário:
Ótima matéria com o treinador Ricardo Tinha, gostaria de ver o "Só Casca" realizar outra matéria como essa. No entanto, buscando saber dos reais profissionais, como o Ricardo Tinha, o seguinte: como é a realidade da política realizada fora dos ringues? Por que o boxe é tão preterido? Quem manipula o esporte? Para onde vai o dinheiro? E, o porquê do Brasil, país o qual tem inúmeros talentos, parou de produzir campeões mundial?
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