sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"(...) o atleta é adestrado para o combate. (..) Já o Mestre antes da arte marcial tem uma experiência de vida e, principalmente, atitudes que são condizentes com o que ele prega dentro de sala. Isso só o tempo dá." professor de Kung Fu Fabrício Pires do Instituto Brendan Lai Brasil

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ENTREVISTA n. 16
Fabrício Pires
Profr Kung Fu do Instituto Brendan Lie Brasil


Amigos,


O Kung Fu é mais uma daquelas lutas que mesmo difundida em todos os cantos da Terra conserva a grande virtude das artes marciais orientais. Ainda que praticada no país onde se cultua o duvidoso "jeitinho brasileiro" é o mesmo e bom e velho Kung Fu da tríade: disciplina, respeito e o enaltecimento do bom caminho. Na minha conversa com professor Fabrício Pires isso ficou muito claro. Impressionado com as artes marciais desde criança, quando viu uma coleguinha dar um golpe de judô em um adulto, abraçou o Kung Fu como caminho de vida. Já se vão cerca de 25 anos praticando Kung Fu, em específico o Louva Deus do Norte, modalidade que ele pratica. Prof. Fabricou nos explicou um pouco dos detalhes e história em uma de suas academias no Bairro de Cascadura, Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi muito bom tê-lo conhecido, espero que gostem de nosso bate-papo e das fotos.

 
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1.      SÓ CASCA!  – como de costume, primeiro agradeço por aceita o convite para a entrevista e indago quem o senhor é? como veio parar na sua arte marcial e qual é a sua arte marcial.
2.      FABRÍCIO PIRES – Primeiramente agradeço o convite, o espaço, pela oportunidade, eu sou Fabrício Pires, já pratico há 25 anos Kung Fu, arte marcial chinesa. Na verdade eu não gosto de falar Kung Fu porque é equivocado, se fala Wu-shu Na verdade Kung Fu é Bruce Lee nos filmes...
 
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3.      SÓ CASCA!   – Então Kung Fu é um estilo?
4.      FABRÍCIO PIRES – Na verdade, Kung Fu é qualquer trabalho que você faça intensamente. Para você treinar arte marcial, qualquer arte marcial, você tem que treinar intensamente, isso é Kung Fu. Daí começaram a apelidar a nossa arte marcial  Wu Shu de Kung Fu. Então comecei com 7 anos de idade, tudo por causa de um torneio de natação, veja só. Uma amiga minha, criancinha ganhou uma medalha de ouro num torneio de natação, feliz com a conquista, desceu do pódio, abraçou o professor e deu-lhe um golpe de judô arremessando-o na piscina. Aquilo me impressionou muito. Eu tinha sete anos! Pensei comigo, meus Deus do Céu eu quero fazer alguma coisa, não posso ver essa menina fazer isso e ficar sem fazer nada. Esta menina é até hoje minha amiga. Isso foi num sábado, na segunda procurei uma academia, a mais próxima de minha casa era de Kung Fu. Não era o que eu queria fazer, mas foi à primeira vista. Fiquei dois anos em um estilo que era não tradicional, não genuíno, uma mistura na verdade, e após isso eu conheci o Louva Deus do Norte que milito até hoje. Meu estilo é treinado em todos os continentes, talvez seja um dos mais famosos da arte marcial chinesa e representa hoje aqui no Rio de Janeiro o grão mestres Brendan Lai . Ele foi o maior expoente nas américas pós década de 70 no estilo Louva Deus do Norte. Na verdade a gente prossegue esse legado dele, esse caminho, especificamente no Rio de Janeiro. São Paulo é meu professor que é o comandante do estilo no Brasil  Então em suma foi assim.
 
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5.      SÓ CASCA!   – Desculpe, seu professor em São Paulo se chama?
6.      FABRÍCIO PIRES – Meu professor em São Paulo se chama Samuel Mendonça ele é o discípulo direto do Brendan Lai. Treino com ele.
 
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7.      SÓ CASCA!  – O senhor chegou a treinar com o Brendan Lai?
8.      FABRÍCIO PIRES – Não tive essa oportunidade, hoje o meu link é que com o professor Samuel Mendonça e com o Grão Mestre Tony Chuy de Nova Iorque. Após o falecimento do Brendan Lie começamos a treinar com o mestre Chuy, em Chinatown. Seguramente ele é um dos 4 melhores de Louva Deus do mundo.
 

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9.      SÓ CASCA!   – Lá nos EUA é mais difundida a coisa?
10.  FABRÍCIO PIRES – Muito mais...
11.  SÓ CASCA!   – Por que razão?
12.  FABRÍCIO PIRES – A resposta é muito clara, a chegada dos mestres no Brasil foi uma chegada muito pequena, foram três mestres na década de 60; já nos EUA você teve centenas de chineses, mestres que migraram para os EUA. Contou também o trabalho, a mão de obra chinesa construiu as grandes ferrovias norte-americanas. Enfim foi um solo fértil para os chineses.
 
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13.  SÓ CASCA!   – O mestre Brendan Lie saiu da China por perseguição?
14.  FABRÍCIO PIRES – Ele fugiu das próprias guerras no interior da China, daí ele primeiro ele foi para Hong Kong, onde conheceu um  grande mestre de Louva Deus. Já para os EUA não foi como fugitivo de conflitos, e parece que foi por novas perspectivas de vida. Ele era de família rica, mas na fuga para Hong Kong toda sua fortuna, joias que estavam em baús, foram roubadas no trem. Tanto que ao chegar a Hong Kong chegou sem nada, passa fome, sem dinheiro.
 
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15.  SÓ CASCA!   – Parece com a história de um filme chinês que fez muito sucesso aqui no Brasil o Ip Man ( O Grande Mestre) que conta a história do mestre que ensinou Wing Chun para o astro Bruce Lee, por sinal, existe alguma semelhança neste estilo com o Louva Deus do Norte?
16.  FABRÍCIO PIRES – Não, são estilos completamente diferentes, mas  realmente a história de sofrimento dos mestres são bem similares. Aquela época da história do Ip Man é bem anterior, antes da Segunda Guerra Mundial. Todavia, os mestres do meu estilo passaram pelos mesmos problemas, até porque a localização geográfica era muito parecida. O mestre Brendan Lie vai para os EUA na década de 60 por uma perspectiva de trabalho. Ele começa a ensinar para comunidade não chinesa em São Francisco. Por isso foi repreendido como muitos outros que o fizeram. Mesmo assim ele continuou a ensinar, seu grande diferencial foi que ele ensinou sem reservas tudo o que sabia. Ao contrário de muitos outros mestres, sob o pretexto de não fosse desvendado o segredo, limitavam as técnicas passadas aos alunos. Brendan Lie dizia “ o kung fu não tem segredo, ou você sabe ou não sabe”. De modo que ele ensinou a arte sem reserva abertamente e ainda bem que isso também foi praticado no Brasil a contar da década de 90.
 
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17.  SÓ CASCA!   – Então no Brasil é recente?
18.  FABRÍCIO PIRES – Muito, na verdade estamos num fase de crescimento.
 
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19.  SÓ CASCA!   – Mas, a arte marcial em si é antiga?
20.  FABRÍCIO PIRES – Antiga,  tem quatrocentos anos em média, não tem data precisa de criação, foi criada na província de Shantung, nordeste da China. Acredita-se que por volta de 1680, 1640 por aí... sai da China mais ou menos na década de trinta vai para a Europa e no Brasil chegou só no final da década de noventa. Quer dizer é um processo demorado, leva tempo, amadurecimento por mais que a gente tenha um arcabouço bacana de técnicas a  gente treina ainda anualmente em Nova Iorque com o Grão Mestre Tony Chuy para que a gente prossiga no ensinamentos.
 
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21.  SÓ CASCA!   – Desde os 7 anos o senhor treina initerruptamente?
22.  FABRÍCIO PIRES – Isso.
 
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23.  SÓ CASCA!   – Me diga uma coisa, para explicar para os leitores que leem o blog e não compreendem e até para mim mesmo, como é o sistema de graduação, quais são as ordens?
24.  FABRÍCIO PIRES – O Kung Fu tradicional ele não tem cor, não tem faixa colorida como as artes marciais japonesas. Ele tem faixa preta que é um cinturão que funciona apenas para segurar suas calças. Mediante isso sua identificação se dá pela cor das camisas. É o padrão da camisa, ele determina o estágio do praticante. É muito comum em escolas de Kung Fu padronizarem camisas. Outros padronizam uma faixa preta, um símbolo amarelo ou vermelho, mas a faixa em si dificilmente ela é colorida. No nosso caso particular o camisa branca é um iniciante; camisa amarela, o básico; camisa verde, intermediário; camisa preta, avançado professor; e camisa azul nível especial. Você leva em média uns 9 anos de treino para nível especial, bem mais restrito.
 
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25.  SÓ CASCA!   – No que consiste basicamente a arte, quedas, torções, chute, socos?
26.  FABRÍCIO PIRES – A Louva Deus do Norte, fora a luta do chão, que não tem, nós temos Qi na que em chinês são as torções; qi gong, trabalha a energia interna, respiração, quando você potencializa a força de seus golpes através do trabalho respiratório; defesa pessoal, chutes, soco, cotovelo, joelho. Temos ainda as formas mão livres que são movimentos imaginários que você vai catalogar os golpes do sistema, não foram criados agora, há centenas de anos atrás.
27.  SÓ CASCA!  – Esses movimentos de mãos livres é aquilo que no karatê chamam de “katá”?
28. FABRÍCIO PIRES – Isso, exatamente, aqui no Brasil as pessoas chamam no Kung Fu de kati, que também é um equivoco, no karatê está certo “katá”.  No Kung Fu a gente diz “taolu”. Também temos o treinamento com armamento, lança, faca, facão, facão duplo, bastão, san tie kwan (bastão articulado em tres partes), correntes, leque, enfim, o Kung Fu é muito completo. A única coisa que não tem é a luta de chão.
 
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29.  SÓ CASCA!   – Mas, torções, sufocamentos no pescoço existem?
30.  FABRÍCIO PIRES – Sim, tudo isso dentro do qi na. O Louva Deus do Norte por natureza é um estilo de luta de pegada. A pegada pressupõe as torções, alguns estilos não tem trabalho de pegada. Consequentemente, o trabalho das torções não é muito aprofundado. Só para você entender porque o qi na é como se fosse um Kung Fu diferente dos outros. Imagina que você tem a Xaulim ou treina o Águia de Áia, só que o Louva Deus é tanta pegada que o tinah acaba sendo uma coisa única dentro do sistema, e tão grande o tinah que tem praticamente o sistema todo.
 
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31.  SÓ CASCA!   – É possível distinguir no combate de Kung Fu quem faz o Louva Deus do Norte e outros estilos?
32.  FABRÍCIO PIRES – Veja, nessas situações é preciso ter um olho clínico. Por mais que sejam diferentes, tudo é Kung Fu. Entende? Quem olha de fora, leigo, especialmente vai achar a mesma coisa. Eu que já tenho algum tempo eu consigo especialmente pelas posições dos pés e a base, sei se é do norte ou do sul. Fora isso todos estilos costumam ter esse trabalho com armas, torções, mas qi na nem todos.
 
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33.  SÓ CASCA!   – O Louva Deus do Norte é organizado institucionalmente, há federações, confederação?
34.  FABRÍCIO PIRES – O Kun Fu tem duas ou três confederações no Brasil, cada uma rege uma parte específica da arte marcial. A mais forte e com mais adeptos é a Confederação Brasileira de Kung Fu ligada a International Wushu Federation de Kung Fu. No Rio de Janeiro nós temos três federações, cada uma com responsabilidades específicas, uma com Kung Fu tradicional e outra mais moderna. Esta voltada para competições. Temos sim confederação e federação. Estamos ligados a Federação de Kung Fu tradicional. Nós temos esse enfoque muito tradicional de raiz e por isso não estamos muito ligados ao Kung Fu moderno.
 
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35.  SÓ CASCA!   – Então vocês não participam de competições? ou não tem nada haver uma coisa com a outra?
36.  FABRÍCIO PIRES – Participamos, existem competições de Kung Fu moderno e tradicional, participamos das competições do Kung Fu tradicionais. Já competi fora do Brasil, três vezes nos EUA, duas vezes na Argentina...
 37.  SÓ CASCA!   – Como foi essa experiência?
38.  FABRÍCIO PIRES – Era muito jovem também, depois de alguns anos eu só me ocupei da parte docente. Mas, jovem eu competi muito, ganhei vários torneios, todas essas medalhas que você vê por aqui na academia. Aqueles troféus ali da parede todos conquistados nos EUA. Teve campeonato Sul Americano; vice-campeonatos nos EUA, isso foi por volta de 1999 a 2001 época em que competi até que em 2002 eu decidi parar de competir.
 
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39.  SÓ CASCA!   – Por quê?
40.  FABRÍCIO PIRES – Eu achava que mesmo jovem eu podia assumir a demanda das pessoas me procurando para aprender Kung Fu. As pessoas me enxergavam como um grande atleta e não como um professor, então comecei a sentir falta disso. Decidi parar as competições por isso. Nas competições hoje em dia você só me vê como árbitro.
 
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41.  SÓ CASCA!   – Aproveitando que o senhor está falando essa questão de competidor e atleta, vamos voltar a falar de uma assunto que mencionamos antes de começar a gravação. Como o senhor encara dentro de sua experiência essa coisa de mestre, professor, atleta... como vê essas posições dentro das artes marciais?
42.  FABRÍCIO PIRES – O atleta no meu modo de ver é o cara que se dedica exclusivamente ao treinamento  que não é completo, veja se me entende, se ele é lutador ele vai treinar 8 horas por dia exclusivamente a técnica que ele é eficiente no combate. Não vai se aprofundar de modo abrangente, filosófico no Kung Fu. Diria adestramento, o atleta é adestrado para o combate. O aluno a gente tem vários perfis de aluno. Aquele cara que quer só por atividade física; outros, para passar  tempo; outros que querem conhecer profundamente a arte marcial. Já o Mestre antes da arte marcial tem uma experiência de vida e, principalmente, atitudes que são condizentes com o que ele prega dentro de sala. Isso só o tempo dá.
 
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43.  SÓ CASCA!   – Cite uma atitude de um mestre? O que identifica o mestre do atleta, do professor?
44.  FABRÍCIO PIRES – Ética. Perfeito ninguém é, mas tentar ser o mais reto possível.  Tentar ser um exemplo, mas um exemplo, volto a frisar, não porque ele luta bem, e sim porque é um modelo de vida. Nosso mestre Brendan Lai, muito antes de ser um lutador ele  dava grandes exemplos de vida. Rapidamente só para você ter uma ideia, você quando vem dos EUA para dar um curso no Brasil você tem muitos gastos. Como de fato ele teve. As pessoas no Brasil se reuniram para poder pagar todos esses gastos, Unicamp, vários mestres juntos reuniram fundos para ajudar. Sei que isso foi na primeira vez que ele veio, três dias de curso. Ao final do curso, arrecadaram uma boa grana que era para  pagar a volta dele, pagar, enfim, todas as despesas dele enfim. Assim num domingo num domingo anoite, no fim do curso, meu professor discípulo dele e organizador do curso chegou para ele e disse “está aqui todo o dinheiro arrecadado; já trocado em dólares para o senhor”. O mestre Brendan Lie, já foi de família rica. Como migrante nos EUA ele vivia de sua lojas de artigos de Kung Fu e de suas aulas, era um homem modesto, comedido. Ao ver o dinheiro perguntou “promete uma coisa para mim, você vai levar o nome do meu professor aqui no seu país?”, meu professor respondeu “claro, nossa idéia é essa, continuar seus ensinamentos aqui no Brasil”, aí o mestre Lie despediu-se “guarde esse dinheiro monte uma academia da melhor maneira possível e faça com que nosso estilo seja verdadeiramente conhecido aqui” e assim foi embora sem nenhum dólar no bolso para os EUA. Então esse tipo de coisa que é um exemplo simples de desapego. Considero uma atitude de mestre. Num outro extremo, cito determinado mestre, que não convém citar o nome, ele recebeu um convite para dar uma aula, um pequeno seminário, num evento na escola do meu professor em São Paulo. Foi indagado a ele o que precisaria para dar essa aula, cobrou uma fortuna e fez inúmeras exigências. Atitude bem diversa, a lógica do dinheiro pelo dinheiro, ele é importante, claro, precisamos de dinheiro, porém, não um fim. Meu professor, por exemplo, tem 41 anos, muitas pessoas chamam ele de mestre, ele não gosta, “como me chamam de mestre ainda sendo muito jovem!”. Porque a referência do Brendan Lie é muito grande, daí termos essas dificuldades de admitir essa nomenclatura de mestre usada indistintamente hoje em dia.
 
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45.  SÓ CASCA!   – O senhor acha que o Louva Deus do Norte enquanto uma arte marcial lhe ajudou como pessoa? e em quê?
46.  FABRÍCIO PIRES – Não tenho dúvidas, ajudou. Como tenho essa vivência desde criança, toda minha formação foi com essa perspectiva de disciplina, seriedade, hierarquia. Tudo isso sempre foi exigido de mim. Só que uma exigência realizada de forma saudável, não se deu de forma impositiva. Não acredito nesses treinamentos com imposições com os alunos, sempre respeito meus alunos, eu respeito e recebo em dobro o respeito dado. Cordialidade, educação a gente não admite aluno sem esse tipo de conduta. Costumo dizer se aparecer uma maça podre temos que cortá-la pela raiz se não contamina tudo. A percepção de ter meios de ser uma pessoa alheia a violência em minhas relações de vida adquiri graças na arte marcial. Desde muito cedo percebi ser veloz, técnico e que era capaz de machucar, ferir com muito mais facilidade e letalidade que as demais pessoas. Portanto, por que ser violento? Não há necessidade porque posso machucar muito os outros.
 47.  SÓ CASCA!   – Tem gente que pensa justamente ao contrário...
48.  FABRÍCIO PIRES – Acho que a maioria pensa diferente de mim... é uma questão de insegurança, penso eu.
 
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49.  SÓ CASCA!   – Pois, é... o senhor não acha que os caras violentos demais, na verdade são inseguros e usam a hostilidade como um forma desesperada de tentarem as coisas que por outros meios não são capazes, quer dizer lidando na base do argumento com as pessoas?
50.  FABRÍCIO PIRES – Concordo, concordo em gênero e grau. A insegurança ela grita dessa maneira. O cara quer ser violento, quer bater, fazer e acontecer...
 51.  SÓ CASCA!  – Quando na verdade ele é que está com medo...
52.  FABRÍCIO PIRES – verdade, ele é que está com medo, e tem que expelir aquele medo de alguma maneira.
53.  SÓ CASCA!   – Como uma fera ameaçada que ataca...
 
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54.  SÓ CASCA!   – O senhor já precisou usar sua arte marcial na rua? como foi?
55.  FABRÍCIO PIRES – Foi muito simples, uma vez só. Até nessa situação eu me preocupei em não machucar. Estava na rua perto do Sambódromo. Ali anoite como você sabe é um lugar perigoso. Estou sentado esperando os amigos para o desfile do Carnaval e estou com minha mochila do lado com o telefone. Derrepente veio um cara do meu tamanho, gritando se eu tinha cigarro, não sei o quê...
 56.  SÓ CASCA!   – Querendo intimidar...
57.  FABRÍCIO PIRES – é, verdade. Calmamente eu disse que não fumava.
 58.  SÓ CASCA!   – Pronto, é frouxo, interpretam a calma como medo...
59.  FABRÍCIO PIRES – Exatamente, aí ele cresceu, “você fuma sim! “ esbravejando, eu respondi calmo, não fumo, e aí começou a falar que eu fumava maconha. Nessa empolgação dele veio rapidamente tentando me chutar, nisso eu já me levantei e viu que eu era do tamanho dele, deu um recuo e pôs a mão no meu celular se abaixando. Ali eu poderia ter machucado ele, mas eu só passei mata-leão nele e avisei “não vou te machucar, só solta meu celular”, mas não adiantou começou a gritar, quedei ele no chão e fiquei dominando, imobilizando-o até a segurança chegar.
 60.  SÓ CASCA!   – Quer dizer, foi só uma dissuasão?
61.  FABRÍCIO PIRES – Só, não foi usar mesmo, fora dos ringues, única vez que me lembro.
 
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62.  SÓ CASCA!   – Quem é a pessoa que conheceu, lógico fora seus dois mestres, que citaria como exemplo, foram pessoas muito boas que conheceu e merecem ser lembradas no meio da arte-marcial?
63.  FABRÍCIO PIRES – Vou citar uma pessoa muito importante, faleceu agora em 2013, o mestres Nereu Graballos. Maior ícone do Kung Fu Brasileiro, não chinês. Sem dúvida o maior mestre da história do Kung Fu Brasileiro desde a década de 70. Um cara que não usava uniforme, dava aula de bermuda e chinelo, as vezes sem camisa, gordinho pra caramba, academia cheia, lotada, fila de espera e tudo. Ele ensinava Shaolin do Norte,  mas muito mais que Shaolin do Norte, ensinava sobre a vida. A cada minuto ele dava exemplos, metáforas para uma reflexão. Tínhamos reuniões periódicas. Veja um exemplo, uma vez fomos participar de uma reunião da Confederação Brasileira, no hotel X lá em Campinas, São Paulo. Pus um roupa bonitinha para a reunião e dirigi-me ao hotel. Lá no Lobby do hotel meu professor e eu, perguntamos onde seria a reunião da Confederação Brasileira de Kung Fu com o mestre Nereu Graballos, a recepcionista respondeu “quarto tal”. Estranhamos e fomos até o local indicado. Ao chegarmos lá estava o mestre deitado, coberto com edredom, assistindo luta, ao nos ver disse “a reunião começou senta aí”. Daí começou a falar, falar, falar, de Kung Fu, de vida. Sabe aquela pessoa que não teve estudo, mas enxerga longe demais. Um cara “smart”. A Seleção Brasileira de Luta de Kung Fu hoje está entre as 5 maiores do mundo e isso se deve a ele.  Foi técnico, ele desenvolveu todo o sistema de luta da Seleção Brasileira e eles começaram a ganhar tudo. Isso desde a década de 90. Então era um cara extremamente diferenciado, treinava também Louva Deus do Norte, não era o principal dele, mas assim mesmo praticava. Ainda com a saúde debilidade fazia coisas inacreditáveis.
 
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64.  SÓ CASCA!   – O senhor indica o Louva Deus do Norte para quem? Um cara jovem forte? Fraco? A criança? A Mulher?
65.  FABRÍCIO PIRES – O Louva Deus do Norte é para qualquer tipo de pessoa, por um motivo muito simples, para nós o importante não é a força aplicada, mas a força refinada. Vou te explicar, trabalhamos através de atalhos, você é treinado a ser forte e veloz. Então a mesma pessoa que é muito gorda ou muito fraca magra, ela com o treino vai achando a velocidade para poder ter êxito. Você não precisa de força bruta, precisa de resistência.  Todas as idades. A resistência que falo é de braço para você golpear e temos toda uma série de exercícios desenvolvidos para isso. Dentro monastério Shaolin isso é treinado até hoje. Se a gente tem velocidade, braço forte a gente consegue atingir um ponto com mais facilidade ou o adversário não está esperando, o elemento surpresa, está parado olhando para você e derrepente “tchum!”.
 66.  SÓ CASCA!   – Uma pergunta que sempre gosto de fazer? O Kung Fu quer dizer, trabalho árduo, a gente no jiu-jitsu tem uma gíria usada para elogiar alguém, chamamos o sujeito de “casca”...
67.  FABRÍCIO PIRES – Casca grossa, não é?
 68.  SÓ CASCA!   – Isso, daí eu gostaria de lhe perguntar, com base na sua experiência, o que tem a dizer para as pessoas que estão diante de um grande desafio pela frente? Não me refiro somente a lutadores, incluo até mesmo as pessoas comuns. Porque como o senhor disse, a sua arte marcial lhe ajudou na sua vida, não é? Então o que precisamos para enfrentar desafios?
69.  FABRÍCIO PIRES – Acho que a arte marcial ela dá uma resposta bacana em relação a isso. Persistir para você derrepente conseguir o êxito em alguma coisa é a palavra básica. Eu lembro que na época de competidor em sempre terceiro, quarto lugar ...
 
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70.  SÓ CASCA!   – o que já não era ruim, né?
71.  FABRÍCIO PIRES – Certo, mas a gente sempre quer mais, tem um objetivo. Aí eu lembro, naquela época eu cheguei a conclusão, tinha que treinar mais ainda. Meu professor falou “já que você está treinando e não aguenta mais as colocações nos torneios, você vai dobrar o teu treino”. Assim fiz e os resultados apareceram.
 72.  SÓ CASCA!  – Então o mais importante é a persistência?
73.  FABRÍCIO PIRES – Sim, tem um frase que diz assim “paciência, perseverança são caminhos para o êxito”. Por aí...  é um bom recado no Kung Fu isso é um bom fundamento e suponho que sirva para tudo na vida.
 74.  SÓ CASCA!  – Quem quiser fazer o Louva Deus do Norte com o senhor onde procurar? Horários?
75.  FABRÍCIO PIRES – Nós temos um site que é o  http://www.kungfulouvadeus.com.br/       estamos aqui em Cascadura, na av Hernani Cardoso, 58 sala 302, todos os dias e aulas particulares também que basta entrar em contato através do site.
 

2 comentários:

Unknown disse...

Muito boa a entrevista. Estou estudando na mesma linhagem dele. Só tem um detalhe, o nome do Grão Mestre é Brendan Lai.

Nilson Soares disse...

prezado Hardy, obrigado pelo comentário, mas por favor em qual parágrafo notou a grafia errada? me desculpe, apesar das revisões sempre passa alguma coisa... abs, Nilson