sábado, 27 de dezembro de 2014

"Bater todo mundo bate, até uma criança bate, agora suportar as adversidades e continuar de pé tentando ... " Entrevista prof. Alexandre Correa


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ENTREVISTA n. 26
Alexandre Correa
Professor Jiu-jitsu



Amigos,


Nossa entrevista é com um Casca ! que  foi para Europa tentar a vida com o Jiu-jitsu e está se revelando um dos mais bem sucedidos professores na França, país onde vive atualmente.

Nossa entrevista se deu em meados de setembro numa de suas visitas ao Brasil.

Nela o professor relata que para vencer como professor não bastou ser um atleta, não bastou ter medalhas foi preciso resgatar antigas habilidades de lidar com inventividade as dificuldades impostas pela vida. Nascido e criado no Morro do Salgueiro, uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, prof. Alexandre sabe bem o que são dificuldades, preconceito e como encará-las, como ele gosta de dizer "com fé e tranquilidade". 

Conversamos, sobre sua história como praticante de Jiu-jitsu, as lembranças de seus amigos, mas acho que o que há de mais valioso nesta entrevista seja o referencial que ele dá para todos aqueles que pensam ensinar artes marciais no exterior e muitas vezes não tem nenhuma idéia da complexidade que é lidar com culturas absolutamente diferente da nossa.

Agradeço ao prof. Alexandre Correa por haver aceito o convite e ao prof. Luiz Fernando Pimpolho por haver permitido a sessão fotográfica em seu Dojô localizado na Igreja Metodista do Catete, Zona Sul do Rio de Janeiro.

A todos os leitores do Só Casca! desejo um Feliz Ano Novo com muita disposição para partir para cima da vida e conquistar nosso espaço com honra e humildade,

Oss !


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 1.      SÓ CASCA!– Agradeço por aceitar o convite e lhe pergunto quem é o professor Alexandre Correa?
2.      ALEXANDRE CORREA – Cara,  tenho uma história de uns 15 anos no Jiu-Jitsu. Comecei com o mestre Carlinhos, Carlos Henrique, na Tijuca. Os mais antigos devem saber de quem estou falando...
 
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3.      SÓ CASCA!– Carlos Henrique da Kioto?
4.      ALEXANDRE CORREA – Isso, ele é da Kioto. Você conhece?
 
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5.      SÓ CASCA!– Pessoalmente não, mas tenho amigos e já entrevistei pessoas que treinaram com ele,  como os mestres Fernando Monteiro e Denys Darzi, ambos da Kioto e o próprio fundador da Kioto, mestre Mansor.
6.      ALEXANDRE CORREA – Ele tinha uma academia na Muda e na Saens Penna, dava aulas na ShidoKan. Eu comecei na primeira academia dele, na Muda, ele alugou, montou e fez o logo. Eu era um garoto pobre, de favela, não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus, naquela época o Jiu-Jitsu era caro, era coisa de playboy. Era só “filinho de papai” que fazia Jiu-jitsu, não tinha espaço para a favela. Eu desci o morro um dia e fui conhecer a academia...
 
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7.      SÓ CASCA!– Tinha quantos anos nesta época?
8.      ALEXANDRE CORREA – Dezesseis anos. Meus amigos playboys que conhecia ali da Praça Saens Penna faziam Jiu-Jitsu. Na época eu morava no Morro do Salgueiro, ali nas imediações, esses amigos que me levaram para lá. Havia toda uma febre também com o Jiu-jitsu, eu treinava capoeira com o mestre Batata. Quando vi fiquei impressionado, na mesma hora quis treinar, porque como disse era uma febre o Jiu-jitsu. Consegui juntar algum dinheiro fazendo pequenos bicos, trabalhos na rua lavando carros; carregando bolsas de compras para ajudar senhoras nos supermercados, deu para juntar três meses de mensalidade. Foram os três meses de treinos mais intensos de minha vida. Quando venceu a terceira mensalidade, eu não tinha mais dinheiro para pagar a academia. Eu conhecia bem a garota que trabalhava na recepção, quando ela soube que eu não tinha mais dinheiro sugeriu falar com o mestre para ver se eu conseguia alguma coisa, como uma bolsa para treinar gratuitamente. Coisa que o mestre Carlinhos já oferecia a alguns alunos dele. Eu não tinha intimidade com ele, era apenas um aluno faixa branca, moleque de morro, então a própria recepcionista se prontificou para falar com o mestre. Uma semana depois ela disse “tenho uma notícia boa para ter dar... você pode ficar treinando, mas você vai ter que vir aqui toda tarde para limpar o tatame, passar um paninho pela tarde”. Assim de manhã eu ia para escola, pela tarde no meu tempo livre, no lugar de ficar molecando pelo morro, eu descia para ir treinar, chegava lá umas duas horas da tarde, limpava o tatame para o treino das 15 horas e voltava para o treino das 19hs, mas antes passava um paninho e também limpava o banheiro e tudo quanto era pequenos reparos, gambiarras, consertos eu fazia. Era eu e mais outro colega bolsista, o Todo Duro, que mais tarde me assumiu como aluno também. Mestre Carlinhos me deu esse voto de confiança, eu treinava, lutava meus campeonatos, tive muitas vitórias e assim fui tocando minha vida.
 
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9.      SÓ CASCA!– Essa academia do mestre Carlos Henrique era exatamente a onde? Lembra?
10.  ALEXANDRE CORREA – Era na Conde de Bonfim depois da rua Uruguai...
 
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11.  SÓ CASCA!– Então era lá na Usina?
12.  ALEXANDRE CORREA – Naquelas imediações Muda, Usina, mas a gente chamava de academia da Muda, bem no acesso do Morro da Formiga.
 
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13.  SÓ CASCA!– Perto do Colégio Marista...
14.  ALEXANDRE CORREA – Isso, isso, essa academia foi referência na época. Academia do Carlinhos era como se fosse a Barra Gracie na Tijuca, era muito considerada, onde ele formou grandes atletas, mais de 10 faixas pretas formados por ele só nessa época.
 
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15.  SÓ CASCA!– Você ficou quanto tempo com ele?
16.  ALEXANDRE CORREA – Eu fiquei com o mestre Carlinhos até a minha faixa azul, depois ele teve uns problemas e ficou um tempo fora sem dar aulas e os alunos dele assumiram a academia. Daí fui treinar com o mestre Todo Duro, Anderson Silvério (o Sinho), alunos antigos do Carlinhos que hoje vivem nos Estados Unidos. Apesar dos alunos na época darem aulas, o mestre sempre estava presente para os exames de faixa. Tempos depois ele foi para Abu Dhabi nos Emirados Árabes. Ele foi um dos primeiros mestres a ir ensinar Jiu-Jitsu nos Emirados Árabes, ele vive até hoje por lá, vem ao Brasil dar um aulão, seminários, mas vive por lá.
 
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17.  SÓ CASCA!– De lá como foi parar no Mestre Pimpolho?
18.  ALEXANDRE CORREA – Eu conhecia o Pimpolho dos torneiros, ele era árbitro. Sempre que ele era o árbitro das minhas lutas eu ganhava, não que ele roubasse para mim, arbitrasse ao meu favor. Mas, era um árbitro pé quente nas minhas lutas. Daí surgiu nossa amizade e eu estava sempre dando uns treininhos na academia dele. Nessa época o Pimpolho treinava na Rua do Santana com a galera dele. Eu já conhecia esta academia porque o dono de lá o Nivaldo, grande judoca, me treinava, me ajudava ensinando as projeções de judô para usá-las nos torneios de jiu-jitsu. Cheguei a competir também judô, como faixa branca, a primeira vez foi até engraçada... eu estava habituado a disputar em torneios de Jiu-jitsu. Apesar de conhecer as regras do Judô, a adrenalina de participar de meu primeiro torneio como judoca era tão grande que mal começou a luta eu puxei meu oponente para guarda e apoiei as costas no chão... pronto fim de luta dei de graça o Ippon... eu não conseguia me desligar da adrenalina do Jiu-Jitsu. A luta não durou nem um minuto. Aí em outros torneios, junto com meu parceiro de treino o Raphael Campos, participei de outros torneios de Judô e fui melhor.
 
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19.  SÓ CASCA!– Então entrou no Judô para aperfeiçoar técnica de projeção? não pensando em ser judoca?
20.  ALEXANDRE CORREA – Isso, eu sempre quis casar essas duas artes, mas pensando no Jiu-jitsu, em primeiro plano, porque como você sabe o Jiu-jitsu tem essa deficiência na projeção. Podem falar o que for, o Jiu-jitsu sempre será uma técnica mais apurada no chão e o Judô mais nas projeções em pé. Então, desde o início da minha carreira eu sabia que treinar o Judô em pé apuraria muito a minha técnica de Jiu-jitsu nos torneios.
 
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21.  SÓ CASCA!– Voltarei ao tema do Judô, termine a colocação anterior, de como foi parar no Pimpolho... lá no Santana.
22.  ALEXANDRE CORREA – Bem, como eu conhecia o Pimpolho lá da academia do mestre Nivaldo, a Academia Santana, soube que estava havendo Jiu-jitsu por lá. Em dado dia fui para ver o Jiu-jitsu, para minha surpresa era o Pimpa que eu já conhecia e era meu amigo. Na mesma hora ele me convidou para dar uns treinos por lá.  Isso foi por volta do ano 2009. Fiquei enrolando, enrolando de começar, até que um dia trabalhando de segurança no Circo Voador o Pimpa estava também lá trabalhando na mesma função, ele novamente insistiu. Nesta época eu era faixa roxa. Como fui bem acolhido pela galera, me senti bem e já conhecia alguns alunos dele e terminei indo treinar com ele. Lá não tinha crocodilagem, covardia, ninguém me colocava no meio para ser espancado, enfim era um ambiente muito bom. Porque você sabe que rola às vezes aquela coisa de botar o cara no meio para todo mundo treinar contigo para depois o mestre treinar. Foi aí que perdi o cordão umbilical com a equipe do mestre Carlos Henrique, mas continuava dando uns treinos na Muda, na Academia 33 da Riachuelo, na Santana e no Flamengo.
 
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23.  SÓ CASCA!– Como surgiu oà negócio da França? Dar aulas na França?
24.  ALEXANDRE CORREA – Eu já tinha ido à França, vamos dizer, em 2007...
 
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25.  SÓ CASCA!– Foi a passeio ou trabalho?
26.  ALEXANDRE CORREA – Na verdade eu fui para a Alemanha a passeio, depois passei uns dias na França onde revi alguns colegas e fui convidado por eles para ir a uma academia...
 
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27.  SÓ CASCA!– Em que cidade?
28.  ALEXANDRE CORREA – Foi em Créteil uns 20 minutos de Paris, do Centro de Paris. Nesta academia me apresentaram a um professor de Judô que era faixa roxa de Jiu-Jitsu, mas era aquele faixa roxa de nível branca se comparado com os padrões brasileiros. Só que ele era bom de Judô, já tinha feito dois campões olímpicos. Fui lá treinei com ele Jiu-jitsu, ele tinha aquela pressão, a pegada forte de judoca, mas no chão ele não tinha a destreza do Judô. Terminou que eu peguei todo mundo... o pessoal gostou e ficou meio que uma idolatração comigo. Se impressionaram com meu Jiu-jitsu. Lógico, mas tudo no clima de respeito, acho que justamente por eu ter apresentado uma superioridade técnica com humildade e não com arrogância pude conquistar aquelas pessoas. Treinei lá um dia, uma tarde toda, voltei dias depois mantivemos o contato, noutra ocasião voltei para ficar uma semana nesta academia treinando. Daí surgiram algumas propostas...
 
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29.  SÓ CASCA!– Era preta nessa época?
30.  ALEXANDRE CORREA – Não eu era marrom. Não, nem marrom eu era, era faixa roxa... na primeira vez que fui. Da outra vez é que eu estava com a marrom ganha aqui no Brasil, anos depois o Pimpolho me deu a preta lá na França. Então da segunda vez que voltei de marrom, me fizeram a proposta de ensinar o pano por lá. Nessa época eu ainda não tinha muito suporte para ficar lá, o idioma especialmente e a situação legal de permanência no território francês. Posteriormente eu conheci minha esposa por lá e coisas foram se ajustando para que eu assumisse as aulas em Créteil. Mesmo assim foi uma decisão profissional difícil porque eu tinha meu trabalho aqui, apartamento, toda uma vida feita conquistada com muito suor e honestidade. Foi importante para mim neste momento lembrar daquilo de mais importante que aprendi no Exército Brasileiro  “mais vale uma lágrima por uma derrota que a lágrima por não ter tentado. Assim decidi: vou! Estava empolgado deixei tudo aqui e fui. Não pense que foi fácil! cheguei justamente no inverno, um frio que eu jamais tinha visto, aliás, todos nós aqui no Rio de Janeiro. Um frio que faz você perder a vontade de treinar, tudo  cinza, gelado, sem falar que não há aquele calor humano típico do carioca, que você chega na academia zoa, fala besteira... Enfim tive um choque, climático e social. Depois foi a barreira do idioma. Como eu vou dar aula para os  caras? Eu falava tudo em português, perguntava se eles falavam algum outro idioma e ninguém falava... mas é aquilo, as pessoas se adaptam, tem que se adaptar, instinto de sobrevivência. Eu estava ali com aquele objetivo, não queria trabalhar em outra coisa. Tentei, tentei até que nesses anos que estou por lá as coisas estão fluindo bem. Estou criando um centro de estudo de esportes para poder dar os diplomas, e, sobretudo, aprendi muito na parte de pedagogia para dar aulas. Ensinar Jiu-jitsu não é só chegar e ensinar técnicas pondo os alunos para treinar, eu aprendi muita coisa com o próprio povo francês, com os imigrantes que são muitos por lá árabes, africanos. Essa mistura deles, entre os franceses e os imigrantes às vezes é difícil de administrar, envolve crenças políticas, intolerância religiosa, existe muito isto por lá. Por outro lado, eu sentia que minha missão ali não era só passar uma técnica de Jiu-jitsu, era também atravessar essas barreiras existentes entre os alunos e integrá-los dentro do Dojo. Uma coisa que me chocou quando cheguei lá para dar aula, eu não sabia falar ainda bem francês, mandei um aluno negro, não sei se ele era africano ou das Antilhas, sei que era mulçumano. Pedi que ele treinasse com uma garota e ele nem se mexeu. Achei aquilo estranho, mandei  novamente treinar com a garota de modo mais enfático, ele saiu do tatame e pôs luva e meia para poder treinar com ela. Fiquei surpreso e vi que minha missão ali não era só de passar técnicas eu tinha que conseguir uma forma de conviver com essas diferenças, como no caso dos mulçumanos que pensam que o Jiu-Jitsu não é para mulheres. Uma visão diferente na nossa, onde não existe qualquer tipo de restrição.
 
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31.  SÓ CASCA!– Mas, na sua aula o senhor aceita essa divisão? ou o aluno que ingressa em seu curso já sabe de antemão que tem que aceitar o treino misto com mulheres?
32.  ALEXANDRE CORREA – Na minha aula o aluno tem que aceitar. Eu trago um Jiu-jitsu antigo o que eu aprendi e as pessoas tem que aceitar esse modelo.
 
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33.  SÓ CASCA!– Ninguém diz que é uma ofensa ou discriminação?
34.  ALEXANDRE CORREA – Já tive um problema numa academia lá na França. Parecia uma mesquita, só havia mulçumanos. Para você ter uma ideia a deferência que fazemos no Jiu-jitsu e no Judô, aliás, muito comum: o Oss! para eles essa saudação não era permitida, porque o mulçumano não pode baixar a cabeça diante de um homem, somente diante de Deus. Você não pode obrigar a pessoa fazer qualquer tipo de coisa que fira a religião deles, temos que relevar, mas eu obrigo a cada fim de treino fazer a fila e cumprimentar cada um dos amigos. Mesmo assim eu explico que a deferência de baixar a cabeça do Oss ! vem de uma outra cultura, a cultura japonesa, é um sinal de respeito, de autocontrole, um sinal de sociabilidade e não de submissão ou idolatria a quem quer que seja como eles parecem entender, é como um simples bonjour” que um francês dá nas ruas. Para uns é mais fácil compreender, para outros, mais sistemáticos é mais difícil. Procuro respeitar, como já disse desde que essas tradições não invadam meu espaço pedagógico. É tudo mais complexo, essa integração é difícil, integração das culturas na Fraça. No início isso me assustou muito. Eu pensava como eu vou por alunos aqui nesta academia? Novamente eu percebi que havia um propósito para eu estar ali. Criado no Rio de Janeiro, no meio de grandes diferenças sociais, não por motivos religiosos, mas pela desigualdade da pobreza, do asfalto e do morro, eu notei que minha experiência de vida seria útil para conviver com aquelas diferenças.
 
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35.  SÓ CASCA!– Hoje dá aulas em quantas academias? Você usa alguma bandeira?
36.  ALEXANDRE CORREA -  Hoje eu dou aula em duas academias, uma é uma sala que é de minha responsabilidade que eu mesmo estou montando e a outra eu trabalho para uma academia onde eu sou pago para dar aulas. Agora estou montando também um terceira academia no centro de Paris com 1200 metros quadrados, com musculação, crossfitness, sendo  100 metros quadrados só de tatame. Um grande projeto para 2015. Uso a bandeira da Nova União Jiu-jitsu.
 
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37.  SÓ CASCA!– Explica uma coisa que tenho muita curiosidade. No Brasil, ao menos pelo que a gente vê por aí, na prática, se você quer montar uma academia de Jiu-jitsu, você monta o tatame em algum lugar diz que é faixa preta e dá aulas. Como é isso na França?
38.  ALEXANDRE CORREA – Na França é pior. Aqui apesar de haver um número bem elevado de praticantes e faixas preta, todo mundo de algum modo se conhece,  o mundo termina sendo pequeno. Já na França, por exemplo, você vê um cartaz numa academia que diz aprenda jiu-jitsu, aí você entra na academia e descobre que é um faixa azul dando aula, quando ele vem ao Brasil ele põe a faixa branca e quando volta chega de marrom...
 
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39.  SÓ CASCA!– Sério?
40.  ALEXANDRE CORREA – Serio mesmo, isso acontece, porque ninguém se conhece.  A fiscalização agora que está começando, uma Federação de Jiu-jitsu está sendo criada. Mas, ela ainda não está estruturada como a nossa aqui no Brasil para poder fiscalizar.
 
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41.  SÓ CASCA!– e quanto a parte legal que você estava me explicando? Aqui no Brasil uma academia no máximo exige um atestado médico do aluno, como é lá?
42.  ALEXANDRE CORREA – Não, lá as coisas são muito mais organizadas. Há uma cobrança muito grande de responsabilidade das academias, dos mestres. Quando um aluno vai se inscrever numa academia de Jiu-jitsu, por exemplo, ele vai pagar um abono, seria uma anuidade das mensalidades num valor “x”, algo em torno de 600 euros por ano, para exemplificar, mais 30 euros por ano do seguro saúde. Esse seguro saúde quem recebe é uma federação encarregada de administrar esses recursos. Esse seguro cobre o aluno de acidentes dentro da academia.
 
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43.  SÓ CASCA!– A responsabilidade de administrar isso é do professor?
44.  ALEXANDRE CORREA – Não é a academia. Todas as pessoas que estão desenvolvendo atividades na academia, seja Jiu-jitsu ou musculação tem que possuir um seguro.  Não é como aqui no Brasil, eu por exemplo, já quebrei costela, ombro, lesionei joelho tive que me recuperar em casa; se isso tivesse acontecido na França teria todo os recurso do sistema de saúde francês para me recuperar ao custo de um seguro de saúde de 30 euros por ano.
 
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45.  SÓ CASCA!– E um sistema de saúde muito bom, por mais que os franceses digam que não... a velha história francesa do “ça va pa
46.  ALEXANDRE CORREA – Isso o sistema de saúde deles é muito bom, ao menos muito melhor que o nosso, mas como você diz, concordo para o francês tudo é  “ça va pa”, nada presta e por isso vamos fazer uma greve...
 
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47.  SÓ CASCA!– Isso certamente é mais um exemplo para nós. Porque nas academias no Brasil o máximo que se pede é um atestado de saúde para exercício de atividades físicas.  As pessoas não tem saúde pública e quando podem pagar um plano de saúde ficam muitas vezes também sem cobertura.
48.  ALEXANDRE CORREA – Na França há um seguro saúde obrigatório para todos que estão no território francês e ainda esse complementar que estamos falando.
 
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49.  SÓ CASCA!– Lógico que o padrão de vida é bem diferente, a renda é maior, mas quanto é em média uma mensalidade de Jiu-jitsu na França?
50.  ALEXANDRE CORREA – Olha, lá a cobrança é feita de uma forma diferente. Não são pagas mensalidades, é paga uma anuidade. Você de uma só vez, ou em duas vezes, quita a remuneração do professor de Jiu-jitsu por um ano inteiro. Mas, mesmo assim existem duas situações diferentes que vão afetar no  valor das anuidades, dependerá de a organização que estiver por trás das aulas de Jiu-jitsu for um clube privado ou se for uma associação. A grosso modo, na associação existe um auxílio da prefeitura que diminui os custos de instalação do curso de Jiu-jitsu, ao fornecer o espaço físico das aulas, por exemplo. Sem falar que o próprio objetivo do auxílio da prefeitura é tornar a coisa mais acessível a todos os cidadãos, nesse caso, se for uma associação, a anuidade terá que ser mais barata, algo do tipo 180 euros (quase 600 reais). Se for um clube privado, como são as academias de um modo geral, com mais custos, porque não tem ajuda de órgãos públicos e  o objetivo é lucrativo, a anuidade será mais cara podendo ser algo em torno de 600 euros (algo em torno de 1800 reais).
 
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51.  SÓ CASCA!– Deixa eu entrar numa polêmica... O Jiu-jitsu é judô Newaza ou o Judô é uma parte do Jiu-jitsu?
52.  ALEXANDRE CORREA – Essa polêmica eu não sei te responder. Mas, o fato é que lá na França o que tem valido, pelo que noto, é que o Jiu-jitsu faz parte do Judô. Deixa eu te explicar por quê. Criaram uma Federação de Newaza porque começaram a perder o público do Judô para o Jiu-jitsu. O Jiu-jitsu chegou na França com uma força tão grande que ganhou a simpatia de todos os atletas  franceses, ao ponto de até mesmo faixas preta de Judô migrarem para o Jiu-jitsu e hoje quem quer começar prefere iniciar no não no Judô, mas sim no Jiu-jitsu. Aí houve uma briga entre as organizações não deixando que fosse criada uma pura de Jiu-jitsu. Assim foi criada dentro da Federação de Judô uma de Newaza que na verdade, na prática, é uma Federação de Jiu-jitsu porque as competições seguem as regras de Jiu-jitsu, onde os lutadores de Jiu-jitsu ganham os de Judô.
 
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53.  SÓ CASCA!– Vale Ippon nesses torneios de Newaza?
54.  ALEXANDRE CORREA – Não, porque tem que continuar no chão, não tenho muito certeza, mas pelo que me lembro, a coisa continua no chão independente de como caiu e chegou ao chão.
 
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55.  SÓ CASCA!– Quem foi ou foram as pessoas que você gostaria de mencionar, pessoas importantes na sua carreira como professor de Jiu-jitsu?
56.  ALEXANDRE CORREA – Eu cito em primeiro lugar o Todo Duro, ele refinou muito o meu Jiu-jitsu na ausência do mestre Carlos Henrique e depois um outro que me adotou foi o Anderson Silvério, aluno do mestre Carlos Henrique, hoje ele está nos Estados Unidos treinando com o Jacaré. Até vi uma declaração que o Jacaré fez para o Anderson Silvério, quando ele mencionou a época em que eles dividiam um sanduiche, isso se deu também na minha época. Dividíamos sanduíche, dividi comida com meu outro amigo desde criança, hoje faixa preta, o Raphael Campos que é um bom atleta, um monstro do Jiu-jitsu. Era outro também que a gente dividia comida, a mãe dele mandava uma banana e a gente dividia essa mesma banana. Passávamos o dia inteiro treinando e não havia dinheiro para um lanchinho, tempos difíceis, mas isso não desanimava a gente não. Foram meus amigos e meus professores. Essas pessoas representam o meu Jiu-jitsu do passado, hoje no meu Jiu-jitsu presente eu menciono o Nicolas Pirâmides que hoje ele está em Madrid, um atleta também de ponta, foi um cara que me ajudou muito na França.
 
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57.  SÓ CASCA!– Agora a pergunta que sempre faço. Nas artes marciais eu acredito termos ao nosso lado a grande vantagem de sermos condicionados a nos superar sempre, todos os dias, todos os treinos e o bom disso, entre diversas outras coisas, é que levamos esse comportamento para nossa vida pessoal. Queria que o professor com base em sua trajetória de vida no Jiu-jitsu revelasse ao leitor do SÓ CASCA! o que entende como importante para se enfrentar um desafio? O que precisamos para ser um casca?
58.  ALEXANDRE CORREA – Olha, vou usar palavras que não são minhas... recentemente eu tive um problema dentro da minha família... descobrimos um câncer no meu sogro, ele entrou em depressão, a depressão dele tornou ele tão negativo que ele começou a se corroer por dentro, a morrer por dentro praticamente, pensando que isso seria o fim do trajeto dele. Uma coisa que falei para ele com minha experiência de luta e claro somado a tudo que já passei em minha vida, como o Rock Balboa diz, o personagem do Stallone, o grande guerreiro não é aquele que consegue dar o máximo de um soco, é aquele que consegue suportar as porradas da vida. Isso é que faz a diferença, isso é que faz a diferença do verdadeiro guerreiro, do casca. Bater todo mundo bate, até uma criança bate, agora suportar as adversidades e continuar de pé tentando... eu muitas, muitas vezes eu pensei em largar o Jiu-jitsu, mas a minha natureza é essa, eu gosto de sentir essa adrenalina. Houve uma época que eu só perdia, perdia, não conseguia nada, perdia meu Jiu-jitsu, até que eu botei em minha cabeça treinar, treinar, treinar e as coisas foram melhorando. O que trago da minha vida é a tranquilidade, por mais que as coisas estejam difíceis, sempre haverá uma solução. O que falei para o meu sogro não esquentar a cabeça com nada, tranquilidade é fé sempre. Eu tenho muita fé. Enfim, eu diria que para ser um casca grossa você precisa ser forte para aguentar as porradas da vida e ter calma e fé para continuar seguindo.
 
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59.  SÓ CASCA!– Quem quer fazer um treino maneiro de Jiu-jitsu na França, onde ir?
 60.  ALEXANDRE CORREA – Cara, se você escrever  “Alexandre Corre Jiu-jitsu França no Google vai aparecer o meu nome, meu telefone lá é  33- 0645218226 ou e-mail jacisanto@terra.com.br quem buscar um treino técnico e duro pode me procurar.
  
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