sábado, 12 de outubro de 2013

" O Jiu Jitsu foi concebido como uma técnica de guerra, os samurais que eram mestres de jiu-jitsu quando iam para a batalha matavam ou morriam, não existia o meio termo, não existia o empate. Ironia ou não ninguém buscava fazer pontos! "- prof. de Jiu-Jitsu 5º grau Denys Darzi

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Entrevista n. 10
Denys Darzi
Mestre Jiu-Jitsu 5º Grau


Amigos,

Com o espírito de sempre partir prá cima e não desistir o Só Casca ! continua e vai continuar! Osss !

Este trabalho está oferecendo a enorme oportunidade de conhecer pessoas únicas que ao que depender de mim não serão esquecidas. Gente com garra, determinação, em uma palavra, inspiradoras. 

O entrevistado de hoje é mais uma dessas pessoas inspiradoras, e mais ainda, outro gentleman dos tatames. Conheci o mestre Denys Darzi há pouco tempo e rapidamente aprendi a respeitá-lo não só como mestre de jiu-jitsu do qual é profundo conhecedor, sobretudo, compreendi-o também como pessoa, suas boas maneiras, seu jeitão tranquilo e assertivo de ver as coisas. Até alguns treinos fizemos juntos e pude ver em prática um pouco do seu jiu-jitsu frugal, comedido, sem desperdícios, enfim sem os floreios que hoje são moda, o jiu-jitsu do mestre Denys é o da tríade: dominio, defesa e finalização, absolutamente mais nada que isso. Quando digo, "mais nada que isso" não vai aí um pejorativo, mas um elogio, o da objetividade, afinal como ele diz na passagem que serve de título a esta entrevista o jiu-jitsu "foi concebido como uma técnica de guerra" ou mata ou morre.

Nossa conversa foi muito agradável e espero que gostem, agradeço ao mestre Mansor que mediou a entrevista e ao prof Antônio Carlos (Pimenta) da galera da Soul Fighters filial Conde de Bonfim que gentilmente permitiu as fotos .


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1.       SÓ CASCA !  como tudo começou, quando ouviu falar de jiu-jitsu pela primeira vez?

2.       DENYS DARZI - Eu era nadador do Tijuca Tênis Clube, mas aos  15 parei com a natação e comecei a jogar water polo. Por causa da boa natação que tinha em pouco tempo fui parar na equipe, gostava daquele jogo meio violento. Vinha treinando até que peguei uma conjuntivite brava, naquela época as piscinas de um modo geral eram bem mais carregadas de cloro que hoje em dia, era comum os filtros apresentarem problema e o pessoal da manutenção carregava no cloro. Eu não parava de treinar, a conjuntivite foi piorando e por ordens médicas me vi obrigado a parar de jogar. Como eu era muito agitado e estava acostumado desde criança a praticar esportes comecei a sentir muita falta.  Até que um amigo, o Marcelo Ferreira, que atualmente é também professor de Jiu Jitsu, me disse “pô, vai fazer uns treininhos de jiu-jitsu comigo lá na Kioto”, eu com meus 15 anos, não tinha menor ideia do que era isso, “jujutsu? como é?” perguntei para ele na época estranhando o nome da arte marcial. Fui dar um treininho como ele recomendou e conhecer o MESTRE FRANCISCO MANSOR, nessa história de treininho já se passaram sei lá uns 35 anos...


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3.       SÓ CASCA ! – Praticou alguma outra arte marcial ?

4.       DENYS DARZI – Não, foi só o jiu-jitsu, mas na Kioto nós sempre treinamos muito em pé, treinávamos quedas como judocas, treinávamos o atemi do Jiu Jitsu, que é a parte dos golpes, treinávamos o boxe, tudo...
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5.       SÓ CASCA ! – era com o coronel Marcos Pacheco?

6.       DENYS DARZI – Sim, a parte das projeções do judô era com o MESTRE MANSOR que também é faixa preta de judô e com o Coronel Pacheco que sempre nos deu um grande suporte lá dentro da Kioto.




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7.       SÓ CASCA ! – Estas atividades no jiu-jitsu foram ininterruptas ou o senhor chegou a parar algum momento?

8.       DENYS DARZI – Foi praticamente ininterrupto, desde quando ingressei aos 15 anos até que aos 20 anos  recebi a faixa roxa do MESTRE MANSOR e tive que viajar para o exterior, fui passar um período na Europa. Acabei me afastando um pouco porque não havia jiu-jitsu onde eu morava, e pouco tempo depois, acho que quase dois anos, eu voltei para o Brasil e aos treinos também.
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9.       SÓ CASCA ! – A faixa preta o senhor conquistou com quantos anos?

10.    DENYS DARZI – A preta foi em 1992, tinha 29 anos. Fiquei muito tempo na roxa, MESTRE MANSOR me deu uma canseira na roxa... Ninguém ganhava a faixa fácil.



11.    SÓ CASCA ! – o senhor acha que hoje se conquista as faixas mais rapidamente?

12.    DENYS DARZI – Hoje de um modo geral está muito mais rápido.
 
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13.    SÓ CASCA ! – Ao quê o senhor atribui isso?

14.    DENYS DARZI – Olha, eu acho pelo fato de termos atletas que tem êxito em competições e por isso são recompensados pelos professores com a mudança de faixa, sem que haja necessariamente o conhecimento da técnica exigida para a faixa, quer dizer, o critério passou do conhecimento do jiu-jitsu de um modo abrangente para vitórias em torneios. Tem gente chegando a faixa preta sem um conhecimento proporcional a faixa que põe na cintura.
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15.    SÓ CASCA ! – O senhor agora me fez lembrar um depoimento que obtive do grande mestre Manimal. Conversando a respeito deste mesmo tema ele observou, a obtenção de títulos em torneios não prova necessariamente conhecimento de jiu-jitsu, porque, segundo ele, o lutador de torneios vai para academia treinar e fazer repetição da técnica que é eficaz para levá-lo a vitória, por sua vez há outros praticantes de jiu-jitsu que não participam de torneios e treinam todas as técnicas, têm um conhecimento mais abrangente e até se fizermos um teste podem vencer os campeões dos torneios. O que pensa a respeito disso?

16.    DENYS DARZI – Isso existe, é um fato real. Tem muita gente hoje que ostenta uma faixa preta na cintura e não tem conhecimento nem de um roxa, isto é, dentro de um padrão de qualidade  que eu exigiria de um roxa formado por mim. Eu sempre me cobrei muito conhecer o máximo de posições. Para mim essa questão é muito clara: há uma enorme deficiência da formação dos atletas. Por exemplo, o ensino da defesa pessoal, qual academia hoje em dia exige conhecimento de defesa pessoal ao seu faixa preta? Penso que estão queimando etapas na formação dos faixas preta.

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17.    SÓ CASCA ! – Da época que o senhor viveu o que acha que mudou? em torneios por exemplo, atualmente me parece que há mais torneios que no passado...

18.    DENYS DARZI – Hoje há muito, muito mais torneios. No passado havia poucos, mas em quase todos, nós da Kioto, competíamos, Copa VanSport, Copa Light Bolt, Copa Atlântico Sul e tínhamos também os do Melo Tênis Clube. Atualmente temos não só um número maior de torneios como eles são mais bem organizados com estrutura realmente profissional.
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19.    SÓ CASCA ! – Quais prêmios eram destinados aos vencedores?

20.    DENYS DARZI – Eram só medalhas, diplomas. Só que havia muita emoção, saia briga e tínhamos sérios problemas de arbitragem, questionávamos muito. A manipulação dos resultados das lutas era descarada. Acho que mudou bastante. O parcialismo dos árbitros era feito de forma exagerada.
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21.    SÓ CASCA ! – Mas, quanto à técnica, para nos referirmos aqui às “mudanças” que estamos assistindo atualmente no jiu-jitsu atual com as guardas berimbolo, fifty-fifty e etc... elas representam um dado novo e melhor para a arte-suave? Aproveitando também esta questão gostaria de ouvi-lo a respeito de uma conversa que tivemos antes da entrevista onde o senhor afirmou que o jiu-jitsu que aprendeu com o MESTRE MANSOR buscava a finalização e não fazer pontos, floreios ou coisa do tipo, por favor, fale a respeito destas questões.

22.    DENYS DARZI – O MESTRE MANSOR ensinava sempre isso para a gente: você aprende a controlar seu adversário, aprende a se defender e depois aprende a finalizar. Se você não aprende a controlar fica mais difícil finalizar, isso tem fundamento na origem de nossa arte marcial. O Jiu Jitsu foi concebido como uma técnica de guerra, os samurais eram mestres de Jiu Jitsu e quando iam para a batalha iam para matar ou morrer, não existia o meio termo, não existia o empate. Ironia ou não ninguém buscava fazer pontos! Portanto, o jiu-jitsu como esporte, veio com essa essência, ou você finaliza ou é finalizado. Com o Mestre Mansor nós aprendemos esses fundamentos, os fundamentos de domínio do adversário, das imobilizações, depois os fundamentos das defesas e paralelamente as técnicas de ataque visando a finalização. Para mim um Jiu Jitsu que não busca permanentemente a finalização perde quase toda a sua essência.  Costumo comparar o que está acontecendo com o Jiu Jitsu com a brincadeira do telefone sem fio, eu conto uma coisa para você, você conta para outro, o outro para outro e assim sucessivamente, o resultado final é uma “mensagem” deturpada, algo muito diferente da “mensagem” (Jiu Jitsu) original. Quer dizer, houve uma deturpação do jiu-jitsu, algumas posições são boas, mas essas que você citou, berimbolo e etc, são de eficácia duvidosa, na minha opinião não acrescentaram grande coisa e acabam desviando o jiu-jitsu de sua verdadeira essência. E acrescento mais, o Judô com as mudanças recentes de regras está reencontrando o seu caminho e o os responsáveis pelas regras do Jiu Jitsu terão que tomar alguma atitude semelhante para que o Jiu Jitsu não se desvie mais ainda da sua essência.  Sou uma pessoa que acredita na técnica acima de qualquer coisa, há atletas que investem muito do seu tempo em musculação, suplementos legais e ilegais, e que deveriam estar investindo mais no estudo e aprimoramento da técnica e não numa montanha de músculos.
 
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23.    SÓ CASCA ! – Além de sua família, seus pais, a longa convivência, enfim o ambiente da Kioto contribuiu para formação de seu caráter, algo que o senhor acredite que mereça ser destacado?

24.    DENYS DARZI – O ambiente que tínhamos na Kioto não vi em academia nenhuma.
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25.    SÓ CASCA ! – Como assim? Pode exemplificar?

26.    DENYS DARZI – Bom, a gente sempre teve uma amizade muito grande com o mestre, era quase como uma relação de pai e filho e como é muito comum, quando a gente tinha algum problema corria pra lá. Mas acontece que um dia a gente se aborrece com o “pai” e vai treinar em outra academia. Certa ocasião ele não nos inscreveu em uma competição, a Copa Company. Particularmente na época eu queria muito competir naquele torneio. Como o mestre não nos inscreveu, fiquei muito aborrecido e como um bom rebelde sai e fui treinar na academia do prof. Carlson Gracie. Vale lembrar que, na época, eles tinham uma rivalidade tremenda, e ir para lá era como entrar na jaula dos leões. Foi uma experiência boa por um lado porque era uma escola de guerreiros e ruim por outro. Acho que em função da rivalidade nunca fiz um bom ambiente lá na Carlson Gracie, assim eu acabei retornando dando mais valor ao ambiente que eu tinha na Kioto. Foi na Kioto que fiz amigos para toda a vida, muitos dos quais eu me relaciono até hoje e tenho enorme carinho. Além disso, havia uma valorização muito grande da parte técnica, do detalhe, do aperfeiçoamento constante. Foi nesse ambiente que o Jiu Jitsu entrou na minha vida de verdade, contribuindo para o meu crescimento como pessoa, me tornando mais tolerante, mais seguro, melhorando a minha saúde, a minha auto-estima e minha auto-confiança. Na Carlson Gracie o ambiente era outro, muita rivalidade, não conseguia fazer amigos, ambiente muito competitivo. Carlson construiu excelentes alunos, lutadores, mas a parte técnica era muito diferente da nossa na Kioto e, sobretudo, o ambiente era diferente. Não era onde me sentia realmente a vontade. Como eu estava lhe falando antes de nossa entrevista, certa ocasião, estávamos em um jantar enorme na Estrela do Sul organizado pelo MESTRE MANSOR, com vários amigos da Kioto e seus familiares, cerca de 50 pessoas. Chegaram para jantar com a gente prof. Manimal e prof. Robinson Gracie.  O prof. Manimal é muito meu amigo, pessoa que eu gosto muito. Em dado momento desse jantar ele chegou perto de mim e comentou: “olha que coisa bonita” e ao perguntar por quê ele disse abertamente “isso aqui é uma família de verdade, vocês se falam até hoje, todo mundo é amigo, isso não aconteceu na Carlson, quase todos estão aborrecidos uns com os outros, quase ninguém se fala mais...” então aquele comentário dele também me marcou, nunca esqueci, ma fez valorizar mais ainda a Kioto. O período de competições passa, a rivalidade tem quer ser saudável, ela também tem que passar, se não como vai ser depois a nossa vida?
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27.    SÓ CASCA ! – E a rivalidade com outras academias?

28.    DENYS DARZI – Havia muito mais rivalidade, hoje ainda há, por conta de competições, mas naquela época havia muito mais. Tanto é que na época em que eu sai temporariamente da Kioto e fui treinar no Carlson já no primeiro dia que cheguei lá a coisa esquentou. Ele chegou para mim e disse “você vai treinar com o meu campeão na faixa roxa da Copa Company”, esse cara havia sido campeão dos médios e no absoluto. Eu com naquela adrenalina estava ali nervoso, entrando naquele ambiente que já se mostrava hostil, mesmo para mim que estava se apresentando como alguém que queria fazer parte do team da Carlson Gracie. Não adiantava afirmar que queria ser aluno do Carlson, o ranço de que eu era vinha da Kioto, de outra academia que disputava os mesmos torneios, era evidente, tanto para eles quanto para mim. Entrei no campo adversário. Então fui treinar com o aluno dele e finalizei o cara que havia sido campeão na Copa Company. Ele ficou muito mordido, o Carlson gritava “pega de novo! pega de novo!”, dessa vez o cara me encaixou um triângulo e fui finalizado, depois no terceiro treino finalizei de novo. O Carlson ficou mais mordido ainda com aquilo, pediu para parar e falou “olha dá um treino agora com o Rosado”. O Rosado para quem não sabe é um faixa preta extremamente cascudo, principalmente naquela época, jovem, forte, bem mais pesado e técnico do que eu. O professor Rosado me finalizou mais de 20 vezes, não deixava parar, a rivalidade ficava evidente ali. MESTRE MANSOR - presente na entrevista, interrompe e diz: – rivalidade especialmente do pessoal do Carlson era com a Kioto, mas uma rivalidade muito sadia, nos tatames, porque éramos amigos de todo mundo, mas na hora do treino, dos torneios a coisa era bem diferente como você vê aí nessa história do Denys) Mas, o Rosado era um cara muito maior que eu, mais graduado, com larga experiência, um adulto e eu um garoto de 20 anos, era um faixa roxa. Insisto era meu primeiro dia.
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29.    SÓ CASCA ! -  e com o pessoal da luta livre, havia também rivalidade?

30.    DENYS DARZI – Tinha sim. Lá na Kioto  tivemos alguns poucos episódios. O sobrinho do famoso Valdemar Santana, o Maneco Santana chegou lá na Kioto um dia afirmando que era faixa preta de jiu-jitsu, judô, karatê, cuspe a distância essas bobagens todas e que queria fazer uma trocação, Mestre Mansur falou para ele tudo bem vou escolher um aluno para treinar com você.
 
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31.    SÓ CASCA ! – Então ele chegou na academia sem ser convidado e fez um desafio? Isso não existe mais não é?

32.    DENYS DARZI – Acho que não existe mais isso. Ele não chegava desafiando explicitamente, chegava numa boa, tentando ser simpático, mas na prática o que pode significar você ir numa academia de lutas rivais sem ser convidado buscando treino? Nesse dia, então o mestre Mansor me pôs para treinar com ele, começamos em pé derrubei e finalizei e assim foi a segunda, terceira.....
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33.    SÓ CASCA ! – mas com ou sem o kimono?

34.    DENYS DARZI – o padrão que o mestre Mansor sempre estabeleceu era de lutar sem a parte de cima do kimono, com a calça e a faixa. Houve esse episódio com ele lá dentro da Kioto e outro que eu me lembro com o pessoal do karatê. Essa turma se meteu numa briga no Tijuca Tênis Clube com o Julinho Vigio, sobrinho do famoso delegado Hélio Vigio também mestre de jiu-jitsu. O Julinho era aluno da Kioto, muito leve, tinha 70 quilos ou menos e numa briga espancou uns gorilas lá do karatê, uma turma marombeira. Acabou que um grupo deles foi treinar jiu-jitsu porque ficaram impressionados com a eficiência da nossa arte marcial, comprovada na prática depois desse episódio no Tijuca. Então um dia, um deles chegou lá na Kioto, um faixa marrom de karatê que depois veio a se tornar policial, para um “treino”, na verdade um desafio. Aí o mestre Mansur pediu que eu fizesse um treininho em pé com ele, confesso que eu gostava desse tipo de desafio.
 
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35.    SÓ CASCA ! – e como era esse “treino”, valia o quê?

36.    DENYS DARZI – Valia qualquer coisa, soco,  tudo. Aí tive que enfrentar esse rapaz, encurtava a distância, derrubava e finalizava, finalizei uma, duas, três vezes e ele só se deu por satisfeito na quarta e depois disto se tornou aluno da Kioto. Ele e outros amigos. Um deles, o Batata, que é meu amigo até hoje, vinha de Brasília dizendo que era lutador de boxe, veio também dar um “treino” na Kioto, o acordo era fazermos uma sombra de leve no boxe, mas ele veio “pra valer”, mas o resultado foi que o Batata foi  apagado e só acordou no chuveiro por conta de um cruzado bem dado.
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37.    SÓ CASCA ! – Mas, o senhor, a Kioto, já fez algum desafio em outras academias?


38.    DENYS DARZI – Não, nunca. Chegar sem avisar é algo muito descortês. Não fazíamos isso, nunca fizemos, o mais próximo disto era o que o MESTRE MANSOR costumava fazer levando a gente uma vez por ano para treinar com o pessoal das forças armadas, lá no centro de treinamento deles no quartel da Urca através do Coronel Pacheco. Há até uma história que lembrando agora aqui é engraçada, isso hoje, na época não foi nada engraçada, especialmente para mim. Foi assim, numa dessas vezes em que fomos no quartel, eu ainda era faixa azul, mas sempre tive muita força, muito condicionamento físico, por causa de minas atividades na natação e no waterpolo.   Então estávamos todos aquecendo, orientados pelo Coronel Pacheco e pelo MESTRE MANSOR, mas havia um faixa preta do exército que não fazia o aquecimento. Um cara muito grande, forte, da equipe de judô das forças armadas, ele não aquecia e não obedecia as ordens de aquecimento do cel. Pacheco. Era um negão muito forte, ele abria o kimono e ficava batendo com força nos peitos gritando aqueles kiais do judô, iss, iss, issss ! Eu já estava preocupado, quem vai lutar com esse cara? Deveria ser o Portuga que era grande também, pensara comigo. Até que na hora de casarem as lutas terminei sendo escolhido para treinar com o Muniz, citado faixa preta enorme. Começou o treino o cara encaixou uma queda e bum! me projetou no chão, duas, três, quatro, cinco, incontáveis vezes, até que fomos para o chão e eu naquela altura queria matar o cara, pus na guarda e fui para as cotas e comecei a estrangular, pus um mão depois a outra, e ele esticou o braço por cima das minhas costas agarrou meu kimono e começou a me puxar como se quisesse me projetar por cima dele. O cara era tão forte que rasgou meu kimono com a pegada. Eu já estava com raiva, fiquei com ódio, porque lembrei do meu pai. Meu pai tinha oito filhos e era um cara que batalhava muito duro, na hora eu pensei, certamente vou tomar uma bronca do meu pai por haver rasgado meu kimono, então isso me motivou a ter mais força, apertei muito o pescoço do Muniz, muito mesmo até que ele bateu, ufa! tive mais medo da bronca do meu pai que ter que enfrentá-lo novamente.
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39.    SÓ CASCA ! – Existiam esses desafios dentro das academias de arte-marciais, mas no mundo real, o senhor precisou usar o jiu-jitsu alguma vez?

40.    DENYS DARZI – Olha, precisei, poucas vezes, precisei, não vou negar, mas na maioria das vezes o Jiu Jitsu me serviu mais para evitar uma briga do que entrar nela, tal a segurança que ele te passa, mas houve certa ocasião em eu e minha mãe (já com certa idade ) estávamos indo para um casamento onde eu seria o padrinho. O motorista de minha mãe passou por um sinal que estava quebrado e colidiu com outro carro, nada grave ao ponto de deixar vítimas, os danos foram só materiais. Mas o sujeito desceu furioso, começou a se exaltar, foi ganhando confiança, passou a xingar, e até então eu estava dentro do carro com minha mãe. Resolvi descer para tentar mediar a coisa e não nos atrasarmos mais para a cerimônia. Só que não tinha jeito, o cara ficava cada vez mais bravo, parece que lhe irritou bastante o fato de eu estar calmo ou por conta desta minha reação, pensou que eu estava com medo e encorajado partiu para cima de mim. Eu todo arrumadinho para ir ao casamento, mantive calma, fiz a esquiva, dominei e torci o braço dele dominando-o sobre o capô quente do carro. Falei para ele “você se controla ou vou acabar te machucando”. Tudo na calma, porque eu sabia o que estava fazendo, eu tinha o domínio da situação, na Kioto não erámos estimulados a agredir ninguém nas ruas, muito menos leigos, mas sabíamos nos defender, especialmente porque o Mestre Mansur fazia questão que todos nós treinássemos defesa pessoal, isso era uma das exigências, sempre foi uma das exigências dele, o ensino da defesa pessoal.



41.    SÓ CASCA ! – Por que há essa fama que o praticante de jiu-jitsu usa a superioridade técnica dele nas ruas contra pessoas leigas?

42.    DENYS DARZI – isso diminuiu, mas nos anos 80 tinham pessoas que por insegurança se matriculavam numa academia de jiu-jitsu para fazer este  tipo de coisa. Lógico, não depende só da pessoa. Existiam academias que estimulavam isso. Imagine a situação, o cara já é inseguro e chega numa academia onde dizem para ele que para ficar valente tem que arrumar briga na rua... lógico ele vai para rua arrumar briga. Prefiro não citar nomes nem dizer qual academia, mas presenciei em uma determinada academia, um treino onde o professor dizia que após término da aula de sábados, era para o pessoal continuar na praia, arranjando confusão nas areias. Recomendava aos próprios alunos para ir para praia arranjar briga! Isto foi durante anos 80 e parte de 90. Dava mídia, mas o efeito foi muito ruim para o esporte. Acredito que uma das consequências mais graves e pouco comentada, foi a de afastar as crianças das academias de jiu-jitsu, o pais simplesmente retiraram seus filhos das academias de jiu-jitsu por conta da má fama de alguns poucos.




43.    SÓ CASCA ! – Ao que o senhor atribui essa ânsia de mostrar a superioridade do jiu-jitsu ante outras artes marciais? 
DENYS DARZI – Desde os primórdios quando o Conde Koma veio para o Brasil a história do jiu-jitsu estava muito ligada a isso, a esses desafios que eram feitos em circo, em viagens itinerantes por várias cidades. É da história do JJ no Brasil, se você consultar o maior especialista na história do jiu-jitsu da atualidade, que é o Tuffi Kairuz, ele vai te confirmar isso. Kairuz é um amigo, radicado no Estados Unidos, doutor em história que tem um livro muito interessante sobre o assunto que está para ser publicado por aqui no Brasil. Essa é a verdadeira história do jiu-jitsu, família Gracie lançando desafios em rádios e jornais para divulgar a arte marcial. Porém, desafios com outras artes marciais ou quem se apresentasse como lutador, jamais desafio ou covardia direcionado a leigos.



44.    SÓ CASCA ! – Então o senhor está me dizendo que esse caráter de combate está mais vivo na própria história do jiu-jitsu porque os desafios eram o único meio de apresentá-lo ao grande público, já que outras artes marciais sendo ou não menos eficientes já eram mais conhecidas e aceitas pela sociedade?

45.    DENYS DARZI – Exatamente , era como um mal necessário para provar a eficiência do jiu-jitsu. Até quando começou o Ultimate Fight, porta de entrada, digamos assim, do jiu-jitsu para o mundo por meio dos Estados Unidos, esses desafios ganharam nova dimensão. No lugar do pessoal do jiu-jitsu buscar desafios, as pessoas de outras artes marciais é que queriam testar a eficiência do jiu-jitsu que já estava consolidada no mundo através do UFC. Isso bem recentemente, nos anos 90 quando eu era professor na academia Shidokan certa vez apareceram 5 ou 6  caras que eram de academias de muay thai que vieram desafiar a gente. Até nos anos 90 tinha isso, mas insisto, nenhuma relação com o pessoal que arranja briga na rua, esses não queriam provar superioridade de nada, o que havia ali mesmo era insegurança e falta de orientação do mestre deles.



46.    SÓ CASCA ! – como ficam as crianças hoje em dia? Elas devem fazer jiu-jitsu,  são como o judô? uma opção aos país para auxiliar na educação em busca de disciplina e respeito, além é claro da atividade física?

47.    DENYS DARZI – Olha, eu sou um apaixonado pelo jiu jitsu brasileiro, considero, sem sombra de dúvida, que o jiu-jitsu é excelente para as crianças. Existem estudos comprovando que esse contato com o solo, contato de rolar, girar, rastejar é muito importante para o desenvolvimento da autoconfiança da criança. Sob uma boa orientação, um bom professor, que se preocupe em orientar adequadamente essa criança, seguramente o Jiu Jitsu fará muito bem para a sua formação. Meus três filhos fazem jiu-jitsu.




48.    SÓ CASCA ! – pergunto isso porque até onde tenho conhecimento, muitos professores de judô não ensinam torções para crianças, apenas as queda e os rolamentos. No jiu-jitsu as torções são ensinadas, inclusive, eu mesmo já presenciei torneios com acidentes, por exemplo, uma criança de 6 ou 7 anos de idade estalou o braço de outra numa voadora.

49.    DENYS DARZI – Não tenho acompanhado o torneio de crianças, mas acredito que isso seja um fato isolado, até mesmo porque as crianças quando encaixam um arm-lock, por exemplo, não tem aquela maldade, aquela pressão de um adulto. Há ainda o dado que cabe ao bom professor orientá-las a bater no momento certo, tanto quem desfere o golpe como quem recebe, e o próprio professor deve independentemente de tudo isso estar atento e ele mesmo intervir no treino ou luta de torneio para interromper um golpe ao perceber que há risco concreto de lesão.
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50.    SÓ CASCA ! – Então o senhor está me dizendo que o problema não é o ensino do golpe, ensino da torção às crianças e sim a orientação do professor aos seus alunos de não machucarem o amigo de treino e jamais estimulá-las a medidas contundentes?

51.    DENYS DARZI – Sem dúvida, e isso vai se aplicar também aos adultos, Nilson. Eu me orgulho de praticamente nunca ter machucado um amigo treinando, embora sempre treine buscando a finalização. Não sei treinar de outra maneira. Então esta preocupação de lesões com crianças também vale para os adultos, o que vale é a orientação do mestre e o bom senso de cada um.




52.    SÓ CASCA ! – quem foram as pessoas, na sua opinião, capazes de ser apontadas como grandes exemplos no jiu-jitsu e por quê?

53.    DENYS DARZI – Na minha época, tínhamos o Rolls e o Rickson, caras que tinham uma técnica muito apurada e que foram muito importantes para o desenvolvimento do Jiu Jitsu. Eles tinham um condicionamento superior ao de seus adversários. Já lá na Kioto eu gostava muito de treinar com o Tadeu Portuga, amigo de treino, treino duro, Jorge Só, Cesar Paulo, Pacheco. Já mais recentemente tivemos excelentes lutadores como o Marcelinho Garcia, Tererê e Leozinho Vieira, três fenômenos. Da família Gracie eu gostava de ver também o Royler, o Rillion e hoje gosto do jiu-jitsu do Roger, que sempre busca a finalização, e nos prova que o jiu jitsu é simples quando bem executado. O Roger mesmo quando se coloca em situações de risco por essa obsessão de finalizar, encontra as saídas necessárias e consegue escapar delas com uma técnica simples e refinada ao mesmo tempo. Eu acho admirável o jiu-jitsu dele. Rodolfo Vieira, bom em pé, bom no chão, vi ele lutar na Copa Podium, quer dizer temos muitos bons atletas.



54.    SÓ CASCA ! – Casca quem é?

55.    DENYS DARZI – O cara cascudo é o cara persistente, o cara botar um kimono e não treinar eu não consigo imaginar, só se tiver muito ruim, bichado mesmo, já treinei com febre, com lesão, e, embora não seja o indicado, era o que fazia. Quando você é fominha, fica difícil resistir, quem é fominha de treinos sabe o que estou falando. Além disso, tem que competir, não recusar treino, buscar os trenos mais duros. Eu admiro muito atletas que sofrem uma lesão e superam, se cuidam. Cascudo é aquele cara que você encaixa o golpe ele persiste e tenta sair.




56.    SÓ CASCA ! – Para aqueles que querem fazer um bom jiu-jitsu, numa academia com uma filosofia formada, com bons princípios ao lado de gente de bem o senhor recomenda procurar onde?


57.    DENYS DARZI – Olha, depende dos seus objetivos, se você quer aprender um jiu jitsu refinado tecnicamente, mas não tem interesse em competir, eu recomendo, embora longe, a KIOTO do Mestre Mansor, lá em Nova York. Se você quer aprender excelente Jiu Jitsu e competir, recomento a SOUL FIGHTER, que é onde dou aulas atualmente e temos uma equipe muito forte, um excelente material humano para treinar, e isso faz toda a diferença. A Soul Fighters fica na Rua Conde de Bonfim, 685, Galeria, dentro da Academia Evidence, Telefone 2208-7899. Mais nova, porém com bons atletas e campeões,  temos também o prof. Fernando ( R. José Higino, 416, tijuca, tel – 9606-9796) que você entrevistou recentemente, um excelente professor que ensina o jiu-jitsu por amor ao esporte, para crianças temos o prof. Álvaro Mansur, excelente mestre, que fica na Soul Fighters Barra da Tijuca, um fantástico professor para crianças e adultos.





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