sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"Nasci num lugar chamado Cachoeira Alegre em Minas Gerais (...) não tinha cachoeira e nem eu era alegre. ( Hoje ) na Europa, na África, na Ásia, na América tudo que é lugar eu estou fazendo o meu trabalho. Só Deus." Entrevista com o Grão Mestre de Jiu-Jistu, Vermelha 9º Grau Francisco MANSOR

 
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Entrevista n. 8
Francisco Mansor
Grão Mestre de Jiu-Jitsu 9º Grau 

Amigos,


Está entrevista é, entre outros, para você que é jovem e se acha poderoso ou para você que se considera fraco e sem importância, sem sorte. Tanto num caso como no outro a leitura do texto poderá levá-lo a compreender que há ainda um longo caminho e ao mesmo tempo encontrará aqui lições de vida motivadoras. Refiro-me ao depoimento aqui tranciscrito do imortal vivo do jiu-jitsu (e da vida!) o Grão Mestre Francisco Mansor ou simplesmente "Chico" ou "tio Chico" como é chamado por seu alunos. Um septuagenário que conserva a mesma vitalidade de um garoto, cheio de iniciativas e planos de muitas outras atividades para seus 128 anos de vida (meta que traçou para esta vida). Eu mesmo quando sai do antigo casarão da Tijuca, onde nossa conversa se deu sob os imensos olhos azuis de dona Sheila Mansor, não sabia se acabara de entrevistar o Grão Mestre fundador da Equipe Kioto ou o filho do "Turcão". O "Turquinho" que um dia gritou: o mundo é meu e quero meu pedaçao agora ! e partiu para uma aventura que confunde-se com a própria história do jiu-jitsu no Brasil. O resto vocês constatarão na entrevista. Por fim, meu sincero agradecimento a todas as pessoas que permitiram que esta entrevista se concretizasse, naturalmente ao casal Mansor e aos profs. Fernando Monteiro e Denys Darzi.

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         1.       Só Casca ! – Como tudo começou no jiu-jitsu       para o senhor?
2.       MESTRE MANSOR – Você está com tempo, né? Porque são 59 anos de jiu-jitsu, não se esqueça que sou o dinossauro do jiu-jitsu rsrs .., mas vamos lá. Tudo começou através de meu pai, que era fã do Hélio Gracie. Eu era garoto, nasci e vivia no interior de Minas Gerais, município de Muriaé.

3.       Só Casca ! – Mestre Hélio já era  conhecido nesta época?
4.       MESTRE MANSOR – Muito. Meu pai era um homem grande, apesar de magro, era grande e forte como um touro. Meu pai “tinha 15 ofícios e 45 necessidades” como ele gostava de dizer. Tinha fazenda, fábrica de vidro, fábrica de macarrão, tinha um montão de coisas, era um batalhador e por isso morreu cedo, trabalhava demais. Meu pai brincava comigo, lutávamos muito de mentirinha. Ele me ensinou muitas coisas, por exemplo: koshi Guruma que chamava de balão, chave de braço, gravatas e etc..

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5.       Só Casca ! – Mas o pai do senhor era lutador?
6.       MESTRE MANSOR – Não, ele era empresário. Mas toda vez ele vinha ao Rio,o que era frequente devido as dificuldades do pós guerra, ele vinha aqui no Rio comprar farinha de trigo no Moinho Fluminense ou participar de reuniões na Sul América, ele era agente financeiro da Sul América e amigo do presidente que era o dono da empresa. Nessas vindas dele, todas as vezes arranjava um tempo para ter uma aula com o Hélio Gracie. Aulas particulares de defesa pessoal.

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7.       Só Casca ! – Nesta época o mestre Hélio estava assumindo a academia Gracie?
8.       MESTRE MANSOR – Não ele já havia assumido há muito tempo, se não me engano a academia era em Botafogo na rua Marques de Abrantes. Quando meu pai teve contato com ele, que foi por volta de 1945, eu era muito garoto, nasci em 1939. Enfim foi logo após a Segunda Guerra, ele vinha para cá e fazia as aulas com o Hélio, mas sempre falava muito do Hélio, sempre, trazia jornais aonde os feitos do Hélio eram noticiados. Naquela tempo o Hélio era mais importante do que até o futebol, o homem mais afamado da época. Meu pai contava os casos do Hélio, meu pai que sempre foi muito machão, o tipo patriarcal, achava aqueles acontecimentos uma maravilha, era filho de Libanês. A minha vontade de conhecer o Hélio, cresceu junto comigo. Isto só aconteceu em 1955, 4 anos depois da inauguração da academia Gracie no centro da cidade na Av Rio Branco 151 13º andar.

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9.       Só Casca ! – Nessa época, das primeiras lembranças quais era suas ocupações.
10.   MESTRE MANSOR – Quando chegou a idade minhas ocupações eram estudar e praticar esportes, também trabalhava com meu pai. Eu fazia tudo que era possível na minha cidade. Era bom de bola, bom atleta, mas era muito agressivo e peralta, qualquer coisa era motivo de briga. Meu pai sempre tentando mostrar-me  o caminho certo. Até que em dado momento da minha vida optei por ser cadete da aeronáutica, para ser piloto de avião. Perguntei ao meu pai porque eu não fazia prova lá no Campo dos Afonso  no Rio de Janeiro, mas eu já estava com tudo informado, já havia escrito cartas para lá, mesmo assim precisava da palavra final dele. “Quero ser piloto de avião Pai!,” disse para ele. “O quê!” Ele se assusto com minha proposta profissional e disse: “Meu filho Deus fez tudo certo, quem voa é passarinho e por isso que ele tem asa.” “Você tem asa?” ele perguntou, e mesmo respondeu, “Não, então não voa. Aqueles aviões dão um defeito lá no céu, você não terá nem como sobreviver.” Não fiquei satisfeito com a resposta, dai, eu tentei várias vezes falar com ele, várias. A minha ideia era esta não pela carreira militar mas pela empolgação de ser piloto. Até que um dia, ainda muito jovem, fui para São Paulo com um motorista da empresa que meu pai possuía. Paramos no Braz, eu levava duas mudas de roupa apenas, mais a roupa do corpo e um casaco de lá. Almocei com alguns motoristas e ai de lá resolvi seguir viagem sozinho para o Rio de Janeiro, agora sem a escolta de motoristas do meu pai. Fui para rodoviária de São Paulo, ficava naquela época neste lugar triste que hoje se chama Cracolândia. Peguei um ônibus noturno e amanheci o dia no Rio na rodoviária na Praça Mauá. Mineirão típico, não tinha menor ideia de como que era o Rio de Janeiro, aliás, só algumas ideias a respeito da escola de cadetes que eu sabia ficar no Campo dos Afonsos em Marechal Hermes. Tinha me informado através de carta e soube que as pessoas do interior apos preencherem uma ficha podiam ficar por lá Até 6 meses, se fosse necessário, aguardando a prova que haveria. Calculei antes de ir mais ou menos a data, e me mandei. A primeira coisa que queria saber era como poderia conhecer o Hélio Gracie, me informei e segui a Av. Rio Branco, centro do Rio Até o numero 51, como havia me informado, se não me engano ficava no 13º  e 17º  andar. Chegando lá fiquei espantado, coisa mais linda, tudo de espelho Até o teto. Um pé direito muito alto, suntuosíssimo. Havia um sofá preto grande de um lado da sala e a mesa da secretaria do outro lado. Entrei, pedi licença, cumprimentei a moça e falei “Eu quero falar com o Hélio Gracie,” dai ela perguntou se tinha hora marcada. Eu disse não. “Você tem aula?” ela perguntou. Eu disse não, “ Sou do interior e só queria conhece-lo,” expliquei.

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11.   Só Casca ! – o senhor estava decidido!
12.   MESTRE MANSOR – Se estava. Eu sempre fui assim, talvez isso demais não seja muito bom. Tive péssimas experiências na minha vida por ser muito voluntarioso e emotivo, por dizer “eu vou e pronto! vou mesmo!” quando cismo com uma coisa não tem nada que me detenha. Bom e aí, como dizia, a secretária me disse que Hélio estava ocupado dando aula. Mas, eu espero, respondi, ela apontou o sofá e recomendou  aguardar. Como eu tinha feito uma viagem, estava cansado. Já estava quase dormindo quando vi que um senhor de kimono falava com a secretária, com autoridade. Pensei, deve ser ele, mas logo em seguida, reparei bem, não pode ser..., ele é muito magrinho e pequeno, meu pai põe ele no bolso fácil, pensei. A secretária deve ter falado de mim, ai ele olhou na minha direção. Eu sempre fui muito precoce, nesta época eu já tinha barba e tudo, era um homenzinho, sendo da raça libanesa a gente tem pelos demais. Veio andando para o meu lado e falou “você quer falar comigo menino?”, perdi a voz na hora, minha emoção foi tanta, ele não sabia ter sido erguido à condição de meu herói graças a histórias contadas por papai. Gaguejei, tô emocionado em conhecê-lo, ele me respondeu e disse “que bobagem”. Falei sobre o meu pai, “ah você é filho do Turcão? Um homem muito forte aquele Turco”. “E você vai começar a treinar comigo?” ele perguntou. Respondi: “Não senhor. Estou aqui só para conhecê-lo, porque meu pai fala muito no senhor.  Eu vou entrar no curso do Campo dos Afonsos para ser piloto de avião.”  Aí ele fechou a cara e falou a mesma coisa que meu pai “tá pensando em voar? quem voa é passarinho!”.. Conversamos mais um pouco e resolvi ir embora para não incomodá-lo. Porém, antes de sair me informei sobre os preços. Eu não podia pagar, estava sozinho e desempregado no Rio e o preço da mensalidade era muito alto, muito mesmo na época. Para encurtar o assunto, minha experiência com os cadetes não durou muito. Levámos muitos trotes, os cadetes judiavam demais de nós. Pegavam os alunos que estavam chegando, eles chamavam-nos de “bicho”. Sempre fazia a velha piada sem graça perguntando “se nós matarmos vocês o que seremos?” e aí a gente respondia “assassinos”, “não, caçadores, quem mata bicho é caçador!”. Eu tinha horror de um cara lá, havia roubado minha melhor calça. Acordavam a gente a noite para banho gelado, para completar os caras não gostavam de mim porque haviam ficado na minha cidade fazendo propaganda da aeronáutica para angariar novatos, pareciam não ter gostado de lá. Então acabei um dia encontrando esse meu desafeto da aeronáutica sozinho lá em Cascadura, como eu já tinha uma vantagem física sobre ele  saímos na porrada e eu levei vantagem na briga contra ele. Voltei para a escola correndo , peguei minha maleta, joguei por cima da cerca e peguei um lotação e fui embora. Ali se encerrava minha carreira de aviador. Como estava sem dinheiro e não tinha onde ficar, fui direto até o final da linha  do lotação e fui para o  Parque da União Nacional Estudantil, no Aterro do Flamengo, era um parque de diversões, fiquei  por ali e  quando dava  comia no restaurante dos estudantes conhecido na época como Calabouço. Arranjei inclusive um bico de zelador, bilheteiro e coisas do tipo. Ali fiquei uma semana ou mais e aí encontrei no calabouço um rapaz de Muriaé, o Toninho, era o presidente da UBES da época, muito movimento de estudantes, aquelas coisas lá no Calabouço. Quando me viu, contei minha história e ele arranjou para eu ficar na Casa do Estudante perto da Santa Casa de Misericórdia. Ele me ajudou bastante, me arranjou uma carteira lá do Calabouço e comecei a estudar, mas eu não conhecia nada. Só sabia pegar o bonde e ir para escola. O dinheiro foi acabando eu vendia isqueiro na Cinelândia, lápis na Rua do Acre e minha vida foi indo.Eu garotão, até que um dia encontrei com um amigo meu, mais velho que eu, também da minha cidade, por acaso, passando pela lápa. Ele ficou preocupado com minha situação e eu expliquei para ele que eu queria tentar conseguir alguma coisa na minha vida aqui no Rio de Janeiro e não em Muriaé, queria tentar minha própria sorte. Então ele me convidou para ir na Associação Cristã de Moços – ACM, na lápa. Fiquei preocupado porque não era sócio, mas ele tranquilizou-me podia perfeitamente levar me como convidado para o clube ACM. Olha, nesse dia eu estava com uma fome absurda! Me pagou um pão na chapa com café com leite, um pão quente muito bom, alguma coisa quente num estômago vazio vai muito bem. Fiquei sentando vendo ele nadar na piscina, ele virou para mim e perguntou por que eu não nadava também. Na minha cidade, ele sabia, eu era recordista de natação, esporte era comigo, meu apelido era “campeão” porque eu ganhava tudo, é uma outra história muito cumprida. Comprovando aquilo que já lhe falei, nesse mundo nada acontece com a gente por acaso. Deus inspira a gente. Então ele pegou na mochila dele um calção, me deu, e eu vesti. Olhei para um lado e para o outro e cai na água. Comecei a nadar bastante, para lá e para cá, como nado bem até hoje. Rapaz, de repente , já havia perdido as contas de quantas vezes havia batido na borda para dar aquela cambalhota e vi que na borda da piscina um senhor de cabelos grisalhos, “meu jovem!” falou alto comigo, caramba, dancei, mas não vou alcaguetar meu amigo não. Parei e voltei para a borda “você é sócio”, respondi educadamente que não era. Ele me deu a mão subi saindo da piscina, não precisava ajudar, mas foi cortês, “você tem algum contrato com alguém? você nada para algum clube?” respondi-lhe que não, e contei-lhe em poucas palavras a verdade, que vinha do interior e só estava ali para nadar um pouco, ele continuou a conversa e não quis nem saber quem havia me colocado dentro do clube, “vem comigo”, tô ferrado, fui com ele assumindo mentalmente sabe-se lá que consequências. Fiquei chocado quando ele perguntou “você quer ser sócio do clube? Atleta do clube, nadar pela ACM, competir por nós. Você vai ter uma porção de regalias por ser um de nossos atletas, pode chegar aqui e lánchar” entre outras coisas. Ao mencionar o “lanche” na hora a coisa ficou mais interessante ainda. Então ele fez a minha ficha, ficou surpreso com minha idade, 15 anos, frisou da necessidade de treinos diários, ótimo, pegar um lánche lá todas as manhãs! Foi assim, eu ficava lá nadando todos os dias cedo conforme o combinado. O combinado era de meu lánche ser apenas uma vez pela manhã, mas fiquei logo amigo do Baiano da cantina e lánchava umas três vezes, até mais por dia. Bom, tudo seguia normalmente até que um dia fui num dos andares acima e vi a aula de judô. Havia lá um mestre japonês. Sentei fiquei olhando, ele deve ter notado que eu estava ali vivendo os movimentos.

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13.   Só Casca ! – qual o nome deste mestre de judô ?
14.   MESTRE MANSOR – Era Yoshimasa Nagashima.
15.   SÓ CASCA !– Então ele fez o convite e o senhor?
16.   MESTRE MANSOR – Bom eu disse que não podia, pois precisava de um kimono e eu não tinha. Ele muito educado e gentil disse não ser problema algum e me perguntou de onde eu era, respondi que não treinava em lugar algum, era sócio do clube apenas e mostrei minha carteirinha. Aí ele disse “bom então você pode treinar sim”. Ele foi em algum lugar na sala e voltou com um kimono daqueles antigos, amarelo, liso, logo de saída eu comecei a fazer coisas que não eram de um iniciante, falei que havia aprendido com meu pai. Com a agressividade que eu tinha, as artes marciais foram a gota d’água de tudo, tanto que nem dei bola mais para a natação. Quer dizer, não parei de nadar, não quebrei o acordo que havia feito com aquele senhor que me acolhera na ACM, eu simplesmente cumpria minhas obrigações pela manhã na piscina, fazia meu lánche, claro!, e corria para o dojo do mestre Nagashima para treinar. Fazia três quatro aulas com ele durante o dia. Passava o dia inteiro com ele lá treinando. Nagashima tinha lá os alunos dele mais graduados e eu servia de sparing para os caras. De modo que me desenvolvi muito rápido, uma coisa que  já estava no meu sangue. Competi e ganhei muitas medalhas. Ele ficou muito meu amigo e tal, até que um dia estou vendo a  Revista do Esportes e vejo uma manchete “todo judoca é frouxo” na reportagem está o Hélio numa foto em pé, eu não sou frouxo. Tenho muito respeito por ele, mas eu não sou frouxo. Mostrei a reportagem para o Nagashima e perguntei a ele como ficava? “não, não, não! Jiu-jitsu é biga” (sic), tinham um medo do Hélio, todos tremiam na base. “Se você for lá não volta, não fala que é meu aluno!”, falou o Nagashima. Fiquei resistindo, por um curto tempo, só que não aguentei. Novamente, como em diversas outras vezes que comprovaria ao longo de minha vida, meu impulso falava mais alto que a razão...
17.   Só Casca ! – desculpe, o senhor tinha quantos anos de judô?
18.   MESTRE MANSOR – Não tinha nem um ano de judô, talvez uns 7 meses, como treinava o dia inteiro, e com a habilidade que eu já tinha, meu condicionamento físico excelente, tudo era mais fácil para mim. Fui até o Hélio, para resumir a história, e perguntei se ele estava lembrado de mim, ele não me reconheceu. Expliquei que estive lá, ele recordou e falei-lhe sobre a manchete, estava lá por ela, ele deu uma gargalhada “você quer lutar comigo menino?”. Não senhor, eu quero lutar só com um aluno seu, quero lhe mostrar que sou judoca e nem por isso sou frouxo. Ele riu de novo e trouxe um aluno, depois ficamos amigos, era da marinha se chamava Moacir Luzia Vale. Era bem mais forte que eu, na época eu era magrinho, mas muito forte. Em pé eu cravava ele toda vez, mas no chão ele me comia. Ele fez eu bAtér um montão de vezes. Nesse negócio de bAtér, diz ele que foi sem querer, deu-me uma cotovelada e saiu sangue na minha boca. Fiquei bravo e quis briga. Hélio interveio dizendo que se eu queria brigar não era mais com ele, era com outro, tirei o paletó do kimono a mando do Hélio, e me pôs para lutar com um fuzileiro naval, era exatamente do mesmo corpo que eu, não consigo lembrar o nome dele, era lutador de vale tudo. Em pé eu me garantia, mas no chão ele era superior, só de gravata pelas costas bati umas 15 vezes, mas não parava, me levantava e queria lutar de novo. Até que o Hélio gritou “Menino você não vai parar!?”, não senhor ! porque até agora não ouvi o senhor dizer que eu não sou frouxo!, respondi. Ele deu outra gargalhada “você não é frouxo nunca, menino!”. Mandou tomar o meu banho, meu olho e orelha estavam enormes, levei muita porrada, dei também porque de briga eu não era ruim. Ele disse que eu era jeitoso, perguntou por que razão eu não fazia jiu-jitsu, não, na verdade ele não disse jeitoso, disse que eu era “desassombrado”, “você é desassombrado rapaz!”. Não podia pagar as aulas. Ele não quis saber de dinheiro, isso não era problema e, prometeu fazer de mim um grande lutador. Fui embora, mas não pude voltar porque eu estava num estado deplorável, estava com a cara toda preta, orelha inchada, só voltei um mês depois, ele quando me viu reconheceu-me chamou-me de Turquinho, me recebeu muito bem e pronto nunca mais lárguei a mão dele. A gente tinha uma equipe que saia pelo interior do Estado do Rio, Minas Gerais e São Paulo, chegávamos e anunciávamos um prêmio para quem lutasse, quem conseguisse ganhar de nós. Fiquei 22 anos lutando com o nome dele, sempre que era escalado para representa-lo. Depois daquele primeiro dia, portanto, nunca mais lárguei a mão dele. O Carlos Gracie tinha um plano de fazer da família dele um cartão de  visitas do jiu-jitsu e conseguiu, veja aí, quantos Gracie temos hoje em dia? Muitos! Todos só fazem isso, lutam, treinam dão aulas, todos são famosos e vitoriosos.

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19.   Só Casca ! – O mestre Hélio lutava também?
20.   MESTRE MANSOR – Claro, somente lutas importantes. O Hélio era o comandante, o cara que quisesse lutar com ele não era assim não, só chegar e desafiar. Mas ele e o Carlos eram quem organizavam as lutas dos seus alunos. Eram lutas de vale tudo, no Rio de Janeiro, elas aconteciam no Clube Carioca, lá naquela rua que vai para o Jóquei. Isso foi o princípio, tínhamos que lutar com todo mundo, de peso diferente e tal, tudo para provar a superioridade do jiu-jitsu. Eles criaram o programa de lutas que era chamado Heróis do Ringue. Assim nascia oficialmente o vale tudo.

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21.   SÓ CASCA !– Por favor, me explique agora um pouco melhor o que senhor me contou anteriormente, antes da entrevista sobre a questão do nome da sua academia, a Kioto.
22.   MESTRE MANSOR – Quando saí do Hélio,  para montar minha primeira academia, (ou melhor, eu nunca sai do Hélio) apenas fui montar minha primeira academia na Tijuca. O Hélio sempre acompanhou minha vida no jiu-jitsu e fora dela; ai surgiu um impasse, que nome seria? Pensei em colocar Mansor jiu-jitsu, na época era moda colocar o nome do professor na academia, mas queria um nome que não fosse somente meu, pois pensava em fazer uma família. Então, em homenagem ao primeiro lugar aonde o jiu-jitsu chegou no Japão vindo da Índia, foi Kioto, não tive duvida em colocar esse nome, sabe, a ideia era ter um nome que no futuro pertencesse a todos meus alunos, um nome que todos  tivessem orgulho de usar, pois todos lutaram por ele e, se hoje e um nome respeitado e conhecido todos que lutaram, competiram e se interessaram por ele, teriam orgulho de usá-lo. Além dos mais, teriam sempre o meu apoio e minha presença, como o tem todos que usam esse nome, e também alguns que não usam, pois meu coração é muito grande. Pense agora você, se todos aqueles que estudaram e aprenderam comigo lutaram e competiram por esse nome, usasse o nome Kioto, nossa equipe seria invencível, além de todos estarem atualizados nas vantagens do sistema Kioto, que hoje é mais do que comprovada a sua eficiência. Por exemplo, se você for ter a aula 5 do livro 4, ou qual- quer outra aula do sistema, ela e a mesma em todas as Kioto do mundo, para isso existe o sistema e todos são atualizados anualmente. Eu não tenho nenhum representante meu que não tenha feito curso do sistema e que não esteja atualizado. O sistema e composto de 42 livros de aula, e cada livro tem 42 aulas.      

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23.   Só Casca ! – A d. Sheila sempre apoiou o senhor no jiu-jitsu.
24.   MESTRE MANSOR –  Depois que a conheci e começamos a namorar ela sempre me apoiava em todas as minhas lutas! Sempre esteve ao meu  lado em tudo, ia comigo de um lado para outro, com exceção nas viagens para lutar pelo interior, Até nas brigas de rua me apoiava. Ela sempre fez parte da minha vida, de tudo, Um dia, quando eu já tinha academia, houve um torneio lá no Gurilândia Clube Infantil e numa luta de um aluno meu, houve um incidente técnico. O Hélio era o juiz e decidiu em favor do outro menino que era adversário de meu aluno, apesar de toda amizade e convivência que tínhamos, ela questionou a decisão do Mestre Hélio e houve maior discussão, ao ponto do Hélio depois  comentar comigo “Pô Mansor! Sheila é brava, hein?!”. (NOTA – neste trecho Sra. Sheila Mansur esclarece que apesar desse pormenor gostava muito do Mestre Hélio e ele da mesma forma  tinha muito apreço por ela). A esposa dele, a Vera e a Sheila, são muito ligadas, sempre íamos passar fim de semana com eles, a Sheila estranhava um pouco a dieta Gracie, direcionada alimentação de atletas que o Hélio era rigoroso em seguir, mas a comida na casa dele era deliciosa, muito boa.
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25.   Só Casca ! – Mestre, antes de voltarmos a pergunta sobre a origem da Kioto, vamos aproveitar esse pequeno desvio para falar de sua alimentação? Sei que o senhor é vegetariano e há muito tempo segue uma dieta toda especial, fale um pouco sobre isto, por favor.
26.   MESTRE MANSOR – A dieta que eu faço foi influenciada pelo Hélio. Aliás, eu tenho que reconhecer que grande parte de minha vida foi influenciada por meu pai e pelo Hélio. Interessante, meu pai e o Hélio não tinham nenhum parentesco e surpreendentemente eram muito iguais, quanto à honestidade a honra, a fidelidade era a marca registrada deles. O Hélio era também um gentleman, meu pai também, mas na hora que se invocavam, eram terríveis. A coisa foi assim, o Carlos Gracie...  não foi nem o Hélio, aliás, para você entender melhor, existe uma disputa de saber quem é que é o criador do jiu-jitsu. O criador do jiu-jitsu mesmo foi o Hélio, o Carlos aprendeu o jiu-jitsu japonês com o Conde Koma, mas o Carlos e o Hélio se fundiam. Posso te dizer sem medo de errar, se não fosse o Carlos, não existia o Hélio, se não fosse o Hélio não existia o Carlos. Entendeu? Eles eram unha e carne, um falava mata e outro falava esfola. Era impressionante, há muitas histórias disso, de um apoiar o outro e confiar no outro cegamente. O Hélio era quem cuidava da academia toda, se tornou o galo da academia, ele que dava aula, ele que organizava. O Carlos era  o mentor, orientava, ele tinha uma diferença de idade muito grande, podia ser pai do Hélio. Eram muito unidos, a meu ver servem de exemplo para muitas famílias essa união que eles mantinham. Hoje existem essas separações por interesses, não me meto, fico calado, mas a verdade é que os dois eram uma só pessoa, se respeitavam muito. Toda vida do Hélio foi dirigida pelo Carlos. Então, para voltarmos a questão que você me perguntou quanto a alimentação... como um visionário o Carlos criou essa alimentação Gracie, que na verdade não é Gracie é Carlos Gracie, assim como o jiu-jitsu não é Gracie, ele é Hélio Gracie. De modo que o sistema alimentar Carlos Gracie nada mais é que a combinação de alimentos que combinam quimicamente. Eu não entendia disso, quando somos jovens não paramos muito para refletir. Um dia perguntei “professor Carlos, que negócio de combinação é esta?”. Minha amizade com eles era muito grande, não só no tatame, nossas famílias eram amigas, sou padrinho da filha do Hélio e etc. É difícil explicar com palavras o sentimento que tenho pelo Hélio. Sonho demais até hoje com ele. Sonho que estamos treinando, tendo aula. A morte dele fez um buraco na minha vida, tudo que eu tinha de  dúvida eu ia conversar com ele. Voltando, aí o Carlos virou para mim e disse “combinação Mansor! senta aqui, eu te pergunto, você come fósforo?” falei como sim, “no peixe não é?” claro, “tem outras coisas também, mas o peixe já é um bom exemplo, e aí prosseguiu “você come enxofre?” falei não, né? “come sim” e aí abriu um livro que tinha nas mãos e mostrou possuir enxofre todo alimento tubérculo, “você come pólvora? você come ferro?” e foi me mostrando cada um dos alimentos do nosso dia a dia que contém essas substâncias, fiquei impressionado com aquilo. Ao  ver que eu não sabia mesmo ele disse “todos os minerais estão na composição do ser humano, água e substâncias minerais” e aí brincando disse para mim “faz um favor para mim?” faço claro, “então, quando tiver algum fogo aceso não passa perto” mas por quê? perguntei “porque eu não quero perder o meu amigo, se você passar por perto do fogo você pode explodir”, “todos os elementos do TNT estão no seu corpo com os alimentos que ingere, então você vira um dinamite!”. Aí eu entendi com aquela brincadeira dele a base ainda que rudimentar do sistema alimentar Carlos Gracie. Daquele dia em diante procuro o máximo possível me alimentar corretamente, se eu chegar na sua casa eu só vou comer  aquilo que pode combinar.

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27.   Só Casca ! – senhor é vegetariano também?
28.   MESTRE MANSOR – Mas, aí já não foi só por causa dele, foi por mim também. A carne vermelha foi mesmo por conta dele, as outras fui eu mesmo abstive-me de comer por conta própria. Mas, a carne vermelha foi ele, disseram para ele que eu brigava demais na rua, ele não gostou disse-me para lutar no ringue e parar de comer carne vermelha, ela aumentava minha agressividade. Melhorou mesmo, mas não acabou. Então a medida que fui estudando, sobre alimentação, como por exemplo, os Crustáceos e os moluscos, de modo geral, não são alimentos sadios pois eles não eliminam as toxinas, por isso não são adequados para comer até apresentei isto para o Carlos, que inclusive comia camarão. Eu me interesso, Nilson, quando vou fazer alguma coisa procuro ir fundo, em tudo na vida, sempre fui assim, não nasci para ser satélite.

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29.   Só Casca! – Então voltando a história da criação do Kioto...
30.   MESTRE MANSOR- Em 1964, por aí, talvez um pouco antes, comecei a estudar e achar que o jiu-jitsu não podia ser feito só para a gente bAtér nos outros. Até então o jiu-jitsu era um cão de caça. Tenho que te explicar para você poder entender. Já lhe falei que sou um homem religioso, estudo muito a Bíblia e respeito o mundo em si, dentro daquilo que Deus criou e programou. Minha conclusão foi que  nada acontece por acaso, tudo está dentro daquilo anteriormente pré-concebido por Deus. Vou te dar um exemplo, vou fazer uma alegoria, um dia Deus parou e pensou assim “Rapaz, o mundo está crescendo demais, esse negócio de lámparina e vela, não vai dar conta, como o homem vai arranjar combustível para todas essas luzes?”. Então um dia ele chegou e disse “Edson, invente a luz”. Não é coisa do homem, é uma criação de Deus, divina. Coisas dessa natureza são sem lógica, o Edson tentou 5 mil vezes acender a luz, e uma coisa que sempre admirei nele foi nunca desistir, assim como eu nunca desisto das coisas. Ele é uma inspiração para mim, ele tinha uma frase muito clara, pois, cada vez que ele falhava  dizia “aprendi mais uma coisa, dessa maneira não dá certo”. Muita raça, né? E assim ele tentou 5 mil vezes. Mas, como diz a minha mulher, “tem que haver uma boa mulher na vida de todo homem para as coisas darem certo”. Isso porque certa noite ele chegou em casa, cansado. Eu estive lá na casa onde ele viveu, nos Estados Unidos, eu sou assim, fui lá ver! lá em Harrison  New Jersey, onde ele morou, era também a  oficina dele e até hoje está lá como museu e até mesmo a lâmpada que ele ascendeu está acesa!  Então ele saiu da oficina, subiu para    casa aborrecido com as tentativas frustradas, reclamando, e disse estar quase desistindo até que mulher dele para confortá-lo afirmou “Edson vai tomar banho para jantar e descansar, só pensa nesta lâmpada, parece que tem vácuo na cabeça!”, “só pensa na lâmpada!”. “Vácuo?!” repetiu  Edson... daí ele foi correndo para a oficina retirou oxigênio e a lâmpada acendeu. Porque ela acendia e queimava, por conta do oxigênio, o filamento incendiava, com o vácuo ele não ficava mais em chamas. Outros como  Grambel, Pasteur, Isac Newton foi a mesma coisa, eu penso assim, pode até alguém discordar, mas tudo foi feito por inspiração de Deus e o jiu-jitsu foi a mesma coisa.  Deus deu o jiu-jitsu para mundo, não entendo porque revelou-o para o Buda, que era um pagão e mostrou para ele o caminho do jiu-jitsu. O Buda e seus monges, na índia desenvolveram o primeiro o jiu-jitsu, isto a 4500 anos atrás.

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31.   Só Casca ! – Mas isso tudo o senhor concluiu quando era já faixa preta de jiu-jitsu?
32.   MESTRE MANSOR – Não nesta época não existia oficialmente faixa preta de jiu-jitsu, eu já era faixa preta de judô, graduado pelo mestre Nagashima e pela Confederação Brasileira de Judô. Apesar de não ser ainda oficialmente faixa preta de jiu-jitsu, já era conhecido como faixa preta pra todo lado.   
33.   SÓ CASCA !– bom aí o senhor dizia sobre a perfeição do jiu-jitsu e ...
34.   MESTRE MANSOR – Muito perfeito, e a mesma coisa que dizer que alguém inventou a mAtémática. Isso é coisa de Deus.
35.   SÓ CASCA !– e essa concepção de que o jiu-jitsu não era só um instrumento de guerra levou o senhor ao quê?
36.   MESTRE MANSOR – A usar o jiu-jitsu para ajudar as pessoas. Se Deus deu essa oportunidade para o Hélio, eu pensava, nossa o Hélio um cara que era doente, desenganado pelos médicos da época,  sem força física nenhuma e Deus deu esse dom para ele e ele venceu o mundo, se tornou conhecido no mundo inteiro! Em todos os lugares que viajávamos todos se curvavam para ele. Tinha que ver. Um dia no aeroporto de Nova Iorque ele chegou, peguei a malinha dele, nos cumprimentamos e tal e fomos saindo, ele todo descaracterizado, mas apesar disso o reconheceram. Um monte de gente se curvando para ele, nem percebeu, eu lhe alertei quanto a um monte de orientais se curvando para ele. Acenou agradecendo como se ele fosse um político. Ele é tão conhecido no mundo como o Pelé, talvez mais, como pessoa. Costumo dizer assim, o dicionário Brasileiro, declara erro concedido a Rui Barbosa, eu coloco, erro concedido a Hélio Gracie, porque naquela época dele ele tinha que ter feito tudo que fez, do contrário o jiu-jitsu não chegaria onde está. Ele abriu a estrada, ele guerreou com os índios, botou os trilhos, ele botou o trem para andar. Nós simplesmente só entramos no vagão e andamos no trem, ajudamos muito e claro, a torna um trem famoso, mas os méritos não são nossos mas sim do Carlos e do Hélio especialmente.

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37.   Só Casca ! – Estou tentando entender seu argumento mestre, o senhor falou que refletiu sobre o papel do jiu-jitsu  que resolveu usá-lo para ajudar as pessoas e o que deu isso?
38.   MESTRE MANSOR – Eu criei uma metodologia de ensino escrita que denominei: Sistema Kioto de Jiu-Jitsu, porque não existia, como não existe até hoje um sistema de jiu-jitsu por escrito, por exemplo, o cara ensina chave de pé e de braço na mesma aula, e não tem nenhuma ligação entre uma posição e outra. O meu sistema, eu explico a sequência dos movimentos.  Explico como controlar o seu adversário. Quer ver, nem o teu filho você consegue beijá-lo se ele não quiser, então é preciso que você tenha conhecimento técnico para dominar e depois fazer outras coisas. Então não adianta ensinar arm-lock montado se não ensinar como montar. Uma questão de lógica. São necessárias etapas, como subir uma escada. Daí comecei a pensar numa maneira de ensinar mais fácil. Falei para o Hélio, estou criando um método e quero dar aula para crianças “tu é maluco!” foi que ele me disse. Nilson, como inspiração de Deus, o jiu-jitsu já nasceu pronto. Quando você estuda profundamente, você começa a ver coisas que você não conhecia, dando a ideia de que alguém possa criar alguma coisa, mas na verdade ele não tinha chegado lá.

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39.   Só Casca ! – Então não se ensinava jiu-jitsu a crianças?
40.   MESTRE MANSOR – Não oficialmente. Só para as crianças da família da gente, filhos e etc. Não havia ensino aberto em academias para crianças porque o jiu-jitsu  era considerado muito perigoso especialmente se não tiver uma  metodologia.  Todos que possuem franchise da Kioto seguem rigorosamente o sistema dando segurança aos alunos, as vezes passam anos sem nenhum acidente por menos que seja, por exemplo, estou nos Estados Unidos há 14 anos com academia montada, trabalhando o dia todo, com mais ou menos 450-500 alunos, se tive dois acidentes foi muito, agradeço a Deus por isto.

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41.   Só Casca ! – Como o senhor foi parar nos Estados  Unidos.
42.   MESTRE MANSOR – Eu era um policial aqui e sofri 5 Aténtados em dois anos, no final da minha carreira tenho um monte de buraco de tiros por todo corpo, quando fui me aposentar cheguei a conclusão que continuar aqui seria uma ameaça para mim e minha família. Já imaginou com todos os bandidos contra quem lutei, o crime organizado os cara que eu prendi, continuar aqui a minha vida depois de aposentado? Estava morto há muito tempo e minha família também... aí assim que aposentei peguei minha família e saí do Brasil, essa foi a razão de minha transferência para os Estados Unidos.
43.   Só Casca ! – E como foi sua chegada por lá?
44.   MESTRE MANSOR – Foi muito difícil, você chegar em um país em que você não domina totalmente o idioma, outra cultura, tudo diferente.
45.   Só Casca ! – e o senhor foi bem acolhido?
46.   MESTRE MANSOR – Tinha amigos policiais lá. Mas, não teve negócio de ser acolhido não, tive que chegar lá e começar minha vida toda de novo, sair em campo e construir meu caminho, e repare, um homem que já havia dedicado uma vida inteira de trabalho no Brasil... recomeçar tudo de novo. O dinheiro que levei investi tudo na montagem da academia, especialmente porque a mão de obra lá é muito cara, para você ter um ideia, dou um exemplo um pouco exagerado, mas é o que acostumamos falar, lá tem um cara para segurar o prego e outro para martelar. Cada um tem uma função específica na construção civil. Então é um problema, o cara que pinta não é o cara que emassa, o sujeito que faz a armação da parede também é outro e por aí vai, não é como no Brasil que você contrata um pedreiro e ele desempenha funções de pintor, bombeiro, eletricistas todas juntas.

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47.   Só Casca ! – O senhor começou apenas com crianças?
48.   MESTRE MANSOR – Não comecei com todas as idades, assim como a Kioto aqui da Tijuca que foi e é uma grande referência do jiu-jitsu brasileiro. Especialmente com as crianças, houve época em que na Kioto cheguei a ter mais de 600 crianças inscritas na academia, um sucesso monstruoso. Muitas academias fecharam a porta aqui na Tijuca, porque não tiveram os sucesso da Kioto. A Kioto é um sucesso, você viu ontem em nosso seminário, quantos alunos, quase não se podia andar, passaram pelas minhas mãos, desde criança e agora são adultos.

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49.   Só Casca ! – O senhor tem ideia de quantos faixa pretas formou até hoje?
50.   MESTRE MANSOR – Em 59 anos de jiu-jitsu tenho 92 faixa pretas espalhados pelo mundo inteiro. Importante dizer, nenhum deles é de má conduta, são homens de bem, não dou e não dei faixa preta para quem tem algum vicio. Considero , quem tem algum vicio seja ele qual for, como uma pessoa que tem um calo na personalidade, portanto não e digno de confiança.

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51.   Só Casca !– O senhor sabe me dizer quantos faixa prestas o Mestre Hélio Gracie formou?
52.   MESTRE MANSOR – O Hélio formou 22 faixas pretas até o período que fiquei com ele, eu estava desde então sempre com ele, mas em 1999 eu saí e fui para o Estados Unidos não sei quantos ele graduou a partir daí. Na época eram 16 na família, não só filhos, como sobrinhos também e, 6 fora da família graduados na preta por ele, possuidores do seu diploma.
 
53.   Só Casca ! – Quem eram esses seis?
54.   MESTRE MANSOR – Pedro Hemetério, João Alberto Barreto, Hélio Vigio Gomez, , Armando Viedrit, Pedro Valente e Francisco Mansor. Vários alunos dele chegaram a faixa preta, mas não receberam de suas mãos esta faixa, nem possuem diploma assinado por ele. Mesmo assim a saga continua.

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55.   Só Casca ! – Os seus alunos faixa preta abriram filiais usando a marca Kioto?
56.   MESTRE MANSOR –  Alguns usam até hoje o nome Kioto, por exemplo: Krauss Mansor, André Carvalho, Marcelo Allan, Nino Botelho , Vinicius Viera, Milton Regis, Korey King, Ramons Flores, Ryan Saboe, Kevin Wind, Kevin Wind Jr, Fabricio Medice etc. Outros como   Claudio Franca (cabelo) Marcus Vinicius (Marcão), André Crispim, Fernando Monteiro, Júlio Olival, Denis Darzi, Mario Roberto Barroso Pereira, Marcus Vinicius Pacheco Cardoso, Marcelo Pacheco Cardoso , Marcelo Correa Ferreira Magilek Kukier e  muitos outros espalhados por este  mundo de Deus usam outros nomes. Esses meus faixas pretas não usam o nome Kioto mas usam as técnicas do Sistema  Kioto, e me respeitam como a um pai. Além deles, tenho muitos outros faixas pretas, que são de profissionais  liberais, e empresários, não vivem do jiu-jitsu. Meu trabalho era parte da educação deles. Minha preocupação era prepará-los para a vida. Eu não tenho um aluno meu bandido, porque eu nunca deixei acontecer isso. E uma coisa interessante, porque meus alunos não eram santos, pertenciam a diversas camadas da sociedade, na sua maioria eram classe-media e media-alta, mas eram todos enquadrados no mesmo sistema. Não com grossura ou autoridade mas com amor. Eu amava todos e amo até hoje. Então eles se identificavam comigo. Fazia de tudo para ajudá-los a  não fazer coisas erradas. Houve uma época em que tínhamos convenio com 27 colégios na Tijuca. Nos íamos nos colégios para ver como estavam meus alunos. Os donos dos colégios tinham grande ligação comigo, porque meus alunos eram exemplos. As mães até usavam meu nome, os filhos faziam algo de errado, elas falavam “Vou falar para o Tio Chico!,” na hora eles já voltavam atrás.  Não porque tinham medo de mim, eles simplesmente queriam me agradar. Sabe meu filho o nome disso? Generosidade, amizade, respeito, amor, todos os  meus alunos  tem até hoje essa ligação comigo, desde crianças. Sou feliz por isso. TrAtéi sempre com carinho, com muito amor, o que não me impediu de também tratá-los com dureza quando necessário. Saber usar esses elementos, o amor e assertividade e dom de Deus, e não por que eu seja melhor que ninguém. Deus me deu isso, Deus me ensinou, me inspirou. Meu genro quando foi fazer educação física, vários professores dele vieram me conhecer. Sabe porque? Mas de uma vez foram surpreendidos com o fato do meu genro já conhecer as técnicas de educação física que eles apresentavam como novas, técnicas por mim ensinadas a meus alunos com base na minha inspiração. “Não e possível, como ele pode saber disso se foi inventado agora?” perguntavam ao meu genro. Eu respondia “ sei porque foi inspiração Dele, Deus.”    

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57.   Só Casca ! – Gostaria de lhe fazer uma pergunta final, apesar de haver muito assunto, mas não quero tomar mais o seu tempo. Para isso parto de uma afirmação de um outro entrevistado do Só Casca, o prof. Fernando Monteiro, seu aluno Faixa Preta, que ao se referir ao senhor disse “ele não é só mais um mestre é na verdade um monge” e lhe pergunto, o senhor sempre foi um homem religioso?
58.   MESTRE MANSOR – Não, nem sempre. Eu me tornei um homem religioso. Sempre tive fé, mas em dado momento me tornei um homem realmente religioso. Sou Adventista do Sétimo Dia. Sempre gostei de reflexão, sempre respeitei Deus, sempre procurei uma coisa que eu amasse, que me controlasse e nunca encontrei nada, não acreditava em ninguém, sempre fui impulsivo, me achava o poderoso, e não podia ser assim, respeitava meu querido pai, meu querido amigo Hélio, mas no fundo no fundo eu me achava melhor que eles. Isso não podia ser. Até que foram acontecendo coisas incompreensíveis. Com por exemplo, dos meus 4 anos de idade até os meus 27 anos ao menos 47 vezes Deus salvou minha vida claramente. Deus para mim é o criador, mantenedor...e o controlador, de tudo e nenhum de nós faz alguma coisa que ele não saiba previamente. Difícil explicar isso. Seria fácil se você fosse um homem que estudasse a bíblia. Já imaginou você sacrificar seu filho para em nome de um monte de pessoas duvidosas (creontes) que vivem aqui neste mundo? Já pensou a diferença de grandeza da terra para outros planetas? A terra desaparece, a Terra perto do Sol é um ovo, mesmo assim Deus se preocupa com esse planeta. Um pontinho de lápis numa folha de papel e a relação da terra para o universo. Tudo isso eu creio de verdade, isso tem 36 anos de minha conversão, hoje eu estou com 73 anos de idade. Eu morro por isso, tenho certeza que é Deus em tudo. Deus dirige minha vida, você vê, eu saí daqui com 59 anos de idade fui para um país estranho, língua e cultura diferente, e hoje não sou mais só um brasileiro, sou do mundo, faço seminários pelo mundo inteiro. Você imagina só,eu nasci num lugar chamado Cachoeira Alegre em Minas Gerais, na verdade não era nem na Cidade de Muriaé era munícipio de Muriaé, não tinha nem cachoeira e nem eu era alegre. De  repente eu fico parado pensando, na Europa, na África,na Ásia, na América  tudo que é lugar estou lá fazendo o meu trabalho. Só Deus.
59.   Só Casca ! – e sua missão o senhor já cumpriu?
60.   MESTRE MANSOR – Estou muito longe do meu objetivo, ainda não parei. Pretendo viver Até aos meus 128 anos, portanto estou muito longe ainda, espero que Deus pense da mesma forma rsrsrsss. Estou fazendo agora quando posso, seminário evangelístico , viajo pelo mundo inteiro e não cobro nada e todo pessoal do jiu-jitsu vem ver o meu seminário, de graça. Conto para eles a minha experiência, montão chora comigo, quando mostro para eles que Deus salvou minha vida várias vezes.

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61.   Só Casca !  - Mestre quem foi o Casca Grossa das artes marciais?
62.   MESTRE MANSOR – No meu tempo foi sem duvida alguma o Hélio, depois dele veio Carlson, o Rolls e substituindo na hereditariedade veio o Rickson. E hoje tem um monte de casca grossa por aí. Mas as pessoas estão confundindo uma coisa lutador é uma coisa e professor é outra. Por exemplo, você vai no restaurante e pede uma comida com base no menu, depois pode dizer se gostou ou não gostou, se volta no restaurante ou não, esse é o lutador já o professor, está lá na cozinha preparando para você gostar ou não gostar. Ele tem que saber fazer para que você goste, volte e o respeite.
63.   Só Casca! – Quem quiser fazer o jiu-jitsu Kioto, onde deve ir?
64.   MESTRE MANSOR – No Rio de Janeiro, Brasil, a sede é na Rua Jurupari, 18, próximo Pça Saens Penna, Tijuca, tel (21) 2254-9972 e 2569-0284, fora do Brasil os endereços são muitos, e todos estão nos sites : www.kiotousa.com  www.kiotobjj.com  www.kiotobjjny.com


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