segunda-feira, 29 de julho de 2013

"Ensino aos meus alunos a resolver logo a parada, finalizar, não ensino aluno a ser pontuador" Entrevista prof. de Luta Livre Sansão

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6a ed. do blog de entrevistas www.socasca.blogspot.com



Entrevista n. 6
Prof. de Luta Livre João Marcelo Ferreira (SANSÃO)



Amigos,


Entre um pãozinho de queijo e outro no Shopping Rio Sul, conversei tempos atrás com Mestre Sansão e dias depois fotografei o seu dojô na Comunidade Parque da Cidade, Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. Publicando aqui essa entrevista eu diria para vocês que o Mestre Sansão é alguém especial, não é só alguém que ensina chaves ou estrangulamentos. A primeira grande virtude que notei nele foi sua generosidade, ele adotou garotos da comunidade pobre onde vive e sem apoio algum, sem mensalidades, patrocínio está criando uma pequena equipe vitoriosa que vem criando muita dor de cabeça para competidores em torneios de luta livre. O outro mérito que eu destacaria é sua preocupação com a perda da identidade que a luta livre vem sofrendo com as novas regras de torneios que pouco à pouco vão subtraindo muitos dos golpes do que ele chama Luta Livre Tradicional.  Espero que gostem e comentem.


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1.       SÓ CASCA ! – primeiras lembranças, onde tudo começou na luta livre?
2.       SANSÃO – Na realidade minha história começa no Judô, sou faixa marrom, treinava no Carioca Tênis Clube com o mestre Xirram Silva, faixa vermelha . Fiz com 15 anos e com dois anos e muita dedicação cheguei a roxa. Até que um dia, por um grande acaso, estava fazendo a barba e havia um jornal na bancada do espelho com uma manchete e uma foto de um treino de luta livre. Fiquei curioso com isso, tinha 19 anos. Terminei indo parar na La Maison, uma academia de Luta Livre do Hugo Duarte e Denílson, essa academia ficava no Bairro da Lagoa. 

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3.       SÓ CASCA ! – professor Hugo Duarte já era  conhecido do grande público nesta época?

4.       SANSÃO – Já, era famoso, já havia trocado porrada com os Gracie naquele auge, época do Marcos Ruas, Denilson... Então comecei a treinar com ele e fui muito bem tratado. Aliás, discordo de pessoas que se queixam do Hugo no treinamento, a minha experiência com ele foi muito boa, ele trata muito bem os alunos, incentiva você sempre a vir ao treino. O segredo das artes marciais é isso você treinar, não faltar, ter  rotina diária dos treinos. Então por razões pessoais de trabalho parei meus treinos no Hugo, mas fiquei com a Luta Livre guardada no coração. Passou pouco tempo fui treinar luta livre no Carioca Tênis Clube no Jardim Botânico, quem lecionava lá era o Rodapé, proveniente da JOP, uma academia que havia lá na Tijuca, outra raiz da Luta Livre. Nessas primeiras experiências com os profs. Hugo Duarte e o Rodapé ficava claro para mim que meu  trabalho seria na luta livre. Lógico que eu estranhei no início. Os ambientes eram bem distintos. Meu mestre do judô o prof. Xirram Silva era um verdadeiro samurai, no tatame ele exigia não só disciplina como uma rigorosa etiqueta no dojo. Então você imagina derrepente via-me no dojo da luta livre onde os atletas estão de sunga, sem camisa no treino. Interiormente, alguma coisa já me dizia: uma experiência não anula outra, eu posso levar para a luta livre o aspecto positivo da disciplina do judô, pensava já isso na época. Hoje em dia você vê o pessoal treinando no meu dojo, aliás, você já viu, sabe que sou muito rigoroso com disciplina, engana-se quem acha que na luta livre a coisa é bagunçada, a mesma disciplina que aprendi no judô exijo e ensino aos meus alunos: a respeitar e preservar as amizades no tatame, porque isso é importante não só para os treinos, não só para os torneios como para a formação deles como pessoa, enfim para vida.

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5.       SÓ CASCA ! – E o grande mestre Eugênio Tadeu entrou na sua vida quando?

6.       SANSÃO –  por conta de trabalho, incompatibilidade de horários eu novamente tive que me ausentar dos treinos da luta livre, por um curto tempo. Fui parar numa academia que havia ao lado do Prédio da TV Tupi lá na Urca, era a academia do mestre Eugênio Tadeu.  Cheguei na academia dele com pouco mais de um ano de experiência na luta livre e eu tinha uns 20 anos de idade, posso te assegurar que ali foi o grande ninho da Luta Livre atual, saíram dali grande campeões. Quando cheguei lá o Cromado já era faixa roxa, Pequeno, o grande campeão do Shooto no Japão, era faixa azul. Há também um garoto e também um cara que ninguém fala do nome dele. Hoje está praticamente esquecido e eu gostaria muito de lembrá-lo, foi um cara que para mim teve uma grande importância na luta livre, o Formiga. Ele fez 3 lutadores: o Aritana, Luciano Azevedo (que venceu o Aldo) e o Daniel Acácio. Particularmente não entendo porque o nome dele não é mais falado. Mas é o tipo do cara que hoje se você montar um centro de treinamento e colocar ele como um treinador o resultado seguramente vai ser muito positivo. Ele é muito didático, técnico, leva muito jeito para técnico, veja aí esses três lutadores dele que citei comprovando isso. Só que ele está afastado, não sei o que aconteceu, dizem que houve algumas desavenças. Não merecia isso.



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7.       SÓ CASCA ! –  Bom aí o senhor chegou na academia do mestre Eugênio Tadeu, como foi isso?
8.       SANSÃO – Fui convidado por um amigo para ir lá, academia cheia. Lutei com um faixa azul dele, o Eugênio gostou do treino, afirmou que eu era uma cara que pesava bem tinha um jogo duro. Ele investiu em mim nos treinamentos e sai de lá como faixa azul. Nessa época da Urca, quando conheci também o Mestre Vavá eu e ele éramos adversários no dojo. Resumindo a história sai academia novamente por problemas familiares e até que em 2001 voltei a treinar com o mestre Eugênio na academia mantida por ele desta vez na Rua Bambina, Botafogo. Peguei a roxa e posso afirmar que me aperfeiçoei ali para ser o que sou hoje. Essa época era do Gustavo Careca grande campeão, rolávamos eu e o Eugênio, treinava sempre com ele diretamente, tive muitos toques. Depois saí e fui para a equipe que o Vavá criou a atual Serpente Thai. Ele me deu inicialmente a faixa marrom, depois a preta e com  ele fiquei até hoje, sou formado por ele. Faço parte da Equipe Serpente Thai, mas tenho minha própria equipe a Sansão Team, meus alunos respondem a mim e hoje eu dentro da Luta Livre respondo ao Vavá e a mais ninguém, respeito e participo de qualquer torneio com meus alunos de qualquer faixa preta, mas só ao Vavá eu respondo porque foi ele que quando eu estava lá embaixo me adotou, me acolheu além de haver me dado a faixa preta ele é meu grande amigo, é meu irmão.

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9.       SÓ CASCA ! – Seu trabalho então como professor, como faixa preta com é?
10.   SANSÃO –  Como sou presidente da Associação de Moradores do Parque da Cidade, Gávea resolvi fazer algum coisa pelos jovens de lá e ao mesmo tempo dividir a minha experiência e manter viva a chama da Luta Livre. Comecei a dar aulas de Luta Livre, lá mesmo nas dependências da nossa associação de moradores. Peguei alguns garotos e comecei a treiná-los, lembro do velho Mestre Hélio Gracie que dizia se você é um bom mestre você pode até pegar um mendigo da rua e se ele realmente quiser aprender o jiu-jitsu você vai tirar ele da rua, vai dar banho nele, treiná-lo e  torná-lo um grande lutador. Apesar de haver muitos lutadores na minha comunidade eu preferi pegar os garotos que não sabiam nada e prepará-los. Hoje em dia eu tenho uma equipe com 10 ou 15 pessoas, sério mesmo treinando comigo eu tenho apenas 5, mas tenho o campeão brasileiro, o campeão em Araruama, lutadores de excelente calibre, os mais graduados que tenho hoje em minha academia são azuis, mas se você colocá-los para treinar com um roxa ou um faixa marrom eles vão dar bastante dor de cabeça, e se o cara não estiver bem treinado vai ficar. Tento passar para os meus alunos a fibra dos caras que criaram a luta livre. Ela nasceu com caras de uma valentia incrível, qualquer um não pode ser faixa preta. Veja, por exemplo, pouca gente sabe a Luta Livre existe desde 1938, foi um cara que desenvolveu a luta livre, o Mestre Tatu ele foi campeão em toda parte do mundo.  

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11.   SÓ CASCA ! – já ouvi falar desse mestre Tatu, certa vez na academia do falecido mestre Hugo Mello (do judo) vi uma foto dele na parede, o prof. Alan Soares que dá aulas lá me contou histórias que ouvi sobre o Tatu contadas pelo Hugo Mello, dizia que ninguém queria lutar com o Tatu porque o sujeito era muito grosso, muito duro mesmo nos ringues, isso por volta da década de 40, se não me engano, quer dizer, é fama antiga e infelizmente pouca gente fala a respeito.
12.   SANSÃO – Tatu foi o pai da luta livre, minha raiz é dele. Seu nome verdadeiro era Euclydes Hatem é considerado criador da Luta Livre, ganhou notoriedade em 1940 quando ganhou George Gracie em um desafio. Ninguém queria lutar com ele, reza a lenda que ele e o Hélio Gracie eram muito amigos, mas nunca lutaram pela diferença de peso. Ganhou muita gente, Tatu foi mestre de Fausto Brunocilla que por sua vez graduou seu filho Carlos Brunocilla. Já o mestre Carlos foi mestre de Hugo Duarte, Eugênio Tadeu, Marcos Ruas dentre outros. Todo mundo acha que a Luta Livre saiu do Jiu-Jitsu, isto é errado, ela existe desde 1938, há documentos comprovando isso. Relativamente também a essa história da origem da luta livre, acho que a atribuição de graus aos professores, deveria ser uma prerrogativa do pessoal das antigas, gente como o Beto Leitão. Além de um mestre antigo, experiente, só outra pessoa pode avaliar o faixa preta, o seu aluno. Na minha concepção preta é preta, cabe a você que está querendo fazer luta livre avaliar quem é seu professor, são os alunos e o que eles conseguem nos torneios é que avaliam o professor. Derrepente você tem um faixa preta, faixa marrom de academia de Copacabana campeão e tudo, treina com aluno meu faixa azul e é finalizado. Tenho meu aluno, o Jefferson que já pegou professor faixa preta de jiu-jitsu em rola de academia. Isso eu tenho certeza que não iria acontecer lá com um preta qualquer do passado nem do jiu-jitsu nem com quem fosse da luta livre. Hoje se você for ver, na internet é possível aprender uma chave de pé e seus detalhes, antigamente quem sabia dessas particularidades, guardava para si, eu não faço isso, eu ensino tudo aos meus alunos, eles são muito bons em chaves, como são alunos leves eles com essas técnicas podem enfrentar caras mais pesados. Não tem como um cara de 60 quilos fechar um triângulo, um arm-lock, uma americana num cara de 90 quilos, 100 quilos, lógico, pode haver exceções. Por isso trabalhamos muito da cintura para baixo para poder ficar páreo. O Eugênio que sempre foi um gladiador, lutou diversas vezes com caras mais pesados que ele, nunca escolheu luta, nunca mesmo!  A luta dele com o Wallid Ismail, por exemplo, um cara muito mais pesado que ele. Eugênio Tadeu como professor é inquestionável, foi um melhores que eu conheci. Por isso que ele tem tantos alunos formados, e, mais ainda, campeões. Ter alunos é muito importante para o faixa preta. Porque a partir do momento que você conquista uma faixa preta precisa de pessoas para te representar. Eu já estou com 40 anos, não posso mais entrar em campeonatos, sou lesionado, ombro, joelhos ferrados, tenho perda de uma das vistas, tenho uma hérnia de disco, tudo proveniente da luta. Então eu tenho, graças a Deus, três representantes Cicinho, Jeferson e o Herbert, meus três de ponta, a maioria dos mestres têm um atleta de ponta, eu tenho três ! Todos faixa azul perigosíssimos.

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13.   SÓ CASCA ! – A gente tem a impressão de que o pessoal do jiu-jitsu pelo que vemos tem mais incentivos para o atleta competir, apesar de que ainda nem de longe é o ideal porque muitos competidores do jiu-jitsu  têm que batalhar muito para conseguir algum patrocínio, lutam competições com inscrições caras para no final ganhar um medalha de lata e só. Mesmo assim a situação da luta livre parece pior, parece não haver incentivo, patrocínio, bolsas para os atletas de luta livre, isto é verdade e por quê?
14.   SANSÃO – Na luta livre realmente é mais difícil ainda. A dificuldade é...  para te resumir...  é falta de organização, é um querendo ser mais homem que o outro.  Se tivéssemos hoje um grande centro de treinamento com um bom mestre administrando, que na minha opinião poderia ser o Brunocilla, as coisas seriam diferentes.

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15.   SÓ CASCA ! – então o senhor está me dizendo que o problema é puramente de gestão? existe patrocínio, existe gente sim interessada em apoiar?
16.   SANSÃO – A luta livre é uma instituição desorganizada. Se hoje um preta falar para você que é organizada a luta livre enquanto instituição, ele vai estar mentindo. Há outra coisa também, se hoje você tiver um apoio do empresário para montar um centro de treinamento e precisar de 5 faixas pretas, por exemplo, para realizar os treinos, a primeira coisa que alguns dos faixas pretas vão certamente perguntar é quem vai mandar, porque o que for mais antigo, o que lutou um vale tudo vai certamente querer ficar no comando, muitos faixas preta prejulgam, mas ser lutador é uma coisa e ser professor é outra bem diferente... Tudo isso é muito triste ausência de uma representatividade segura e organizada perante os patrocinadores prejudica a todos, e, em especial, os garotos que precisam de bolsas, patrocínio, enfim de estímulo. 

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17.   SÓ CASCA ! – Professor, se eu não estiver enganado, existem muitas semelhanças entre a luta livre e o jiu-jitsu no solo, consideradas as devidas proporções, não podemos dizer que em sua essência tanto quem faz luta livre como quem faz jiu-jitsu pode perfeitamente treinar ou vir a ser mestre de uma ou de outra?
18.   SANSÃO – Quando eu comecei na luta livre, tinha um cara chamado Besouro. Esse cara é um excelente lutador, é uma pessoa de uma alma boa, mas é um cara que nunca se vendeu para ninguém. O lance dele é luta livre e ponto final. Depois de muito tempo esquecido só reapareceu agora na TV. Então é o que eu passo para meu aluno, se você é luta livre, você é luta livre, se você for para o jiu-jitsu pode até ir, mas você não é jiu-jitsu, se for, até o carinho do cara do jiu-jitsu com você vai acabar porque você será apenas mais um do jiu-jitsu. Não existe, por exemplo, esse lance do cara ser 15 anos da luta livre e depois ir para o boxe tailandês. Ele vai aprender o boxe tailandês, mas não vai ser um grande mestre de boxe tailandês, se fosse assim, o Frank Mir não quebrava o braço do Minotauro. Você está entendendo? Academia é uma coisa, lutar é outra, rolinha em academia é outra coisa também.
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19.   SÓ CASCA ! – Diante disso que o senhor está me falando como fica então a afirmação, ainda que subliminar, de que os lutadores que temos hoje em torneios como o UFC são especialistas em diversas artes marciais, por exemplo, Anderson Silva, faixa preta de taekwondo, muay thai e jiu-jitsu?
20.   SANSÃO – Isso baseado em fatos não existe, sujeito aprende as técnicas, mas ele veio da luta livre, o solo vai ser o forte dele, e vai ser isso que vai buscar na luta, se for o boxe, o confronto em pé que ele vai buscar, mas é claro, ele hoje vai ter que treinar solo também. Na real, vai ter uma luta que vai ser a raiz dele, não importa se virou faixa preta em outras. Até mesmo porque tem uma outra coisa, o fato dele ser faixa preta não obriga-o a vencer quem for menos graduado que ele. Veja, o exemplo,  temos um grande campeão, o Crézio, sem desmerecê-lo é claro, era um faixa preta de jiu-jitsu temido em todo Rio de Janeiro, ganhava rios de medalhas. Até que um dia ele foi lutar no Canecão com um amigo meu de treino lá da Urca, o Ninja um faixa laranja! Crézio perdeu a luta, teve descolamento de retina, ficou ferrado mesmo. Então a gente se pergunta como no MMA um laranja de luta livre ganha um preta de jiu-jitsu? Você não pode deduzir que um faixa preta de jiu-jitsu, ou mesmo de qualquer arte marcial tenha obrigação de ganhar outro atleta menos graduado da luta livre, por exemplo. Isso não existe mais. Quando o Royce apresentou para o mundo inteiro o chão, o mundo inteiro viu o chão e aprendeu ao ponto de estar arriscado de você ver dois mendigos brigando na rua e um dar mata leão no outro. Não é mais uma coisa que é escondida.

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21.   SÓ CASCA ! – Professor, o senhor é conhecido por suas aulas serem muito disciplinadas, já assisti aulas suas e ficou claro para mim que sua cobrança de comportamento e etiqueta no dojo são um de seus pontos fortes. Pode comentar a respeito?
22.   SANSÃO – É verdade, você presenciou quando um dia eu chamei atenção de pessoas que passaram pela minha sala de aula, talvez não tenha sido de propósito, mas os caras passaram numa algazarra, eu chamei atenção na hora, nem vi que eram faixas preta de jiu-jitsu. Você tá dando uma aula tá concentrado, o cara não respeita nem mais a área do tatame. Então quer dizer, uma situação que não é legal, não existe mais aquele respeito ao ambiente do dojo de um modo geral. No judô eu aprendi isso, meu mestre de judô, como lhe falei, era um verdadeiro samurai no dojo e cobrava isso de seus alunos. Tanto que você viu na minha academia que é simples, pequena, localizada em uma comunidade, com alunos pobres. Lá no meu tatame ninguém manda os outros tomar não sei aonde, ninguém entra no dojo sem me cumprimentar ou muito menos sai sem me pedi licença. Agora veja aí academias enormes, luxuosas observe o que acontece...  As pessoas podem até dizer que isto é besteira, que eu quero ser mais homem que os outros. Só que faço isso não é por mim, mas pelos meus alunos para que eles aprendam a ter limites e a respeitar os outros. Isso aplica-se também a mim, e a todos os faixas preta que devem também respeitar os outros. Eu como faixa preta tenho que respeitar você que é faixa roxa quatro vezes, entendeu? Se o cara não respeitar pode até bater para o roxa.

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23.   SÓ CASCA ! – O senhor acompanha a vida de seus alunos?
24.   SANSÃO – Eu já tive um aluno que era obeso com risco de vida, no nosso treino eu tirei 70 quilo dele. Eu também suplemento, trabalhei 4 anos com isso, estimulava ele nos treinos, melhorei a saúde dele. Meus alunos raramente ficam doentes ou mesmo pegam um resfriado, eu controlo a alimentação deles porque hoje em dia a alimentação quanto a sua qualidade está muito ruim. Já quanto ao comportamento eu acompanho também não é só no tatame com eu já lhe falei, é em casa, na rua, acompanho. Porque quando você exige, impõe um comportamento dentro de um tatame, você vai fazer o aluno refletir em algum momento por conta própria que aquilo é o certo, a disciplina. A maioria das academias que você chega por aí o professor te parte no meio, coloca logo para treinar com um graduado e fica ali em cima do dinheiro. Hoje eu tenho 10 alunos que treinam, inclusive um peruano, que foi garfado na última competição, deu duas quedas e não deram os pontos, mas tudo bem, para mim ele foi o campeão. Desses dez  alunos, um só me paga, R$ 50,00 por mês, um aluno. Eu falo para os meus alunos, a questão não é só dinheiro, amanhã vocês vão ser faixa preta e vão, por sua vez, está ajudando outras pessoas.

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25.   SÓ CASCA ! – Como o senhor mantém a academia com R$ 50,00 de um único aluno?
26.   SANSÃO – O tatame eu comprei quando abri a academia, tinha 40 alunos e esses alunos do início permitiram que eu conseguisse pagá-lo. Mas, é aquilo, novidade sempre chama atenção, no caso lotou a academia no início e também tive doações, por exemplo, de luvas de boxe. No mais o nosso espaço não é pago porque pertence a Associação de Moradores da Comunidade do Parque da Cidade que não cobra da gente, a limpeza são os próprios alunos que fazem, ninguém reluta ou desobedece. A academia você sempre vai encontrar um brinco, limpa.

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27.   SÓ CASCA ! – Hoje quais são os torneios importantes da luta livre que seus alunos participaram?
28.   SANSÃO – Mais recentemente levei os meus garotos para o torneio brasileiro que se deu no Carioca Sport Clube, organizado pelo prof Eugênio Tadeu. Meu aluno, o Cicinho, faixa azul foi  campeão, o outro lutador que eu tenho, cara que carregava material de construção na comunidade, com dois anos de treino de luta livre, lutou contra dois lutadores de jiu-jitsu faixa marrom casca grossa, ganhou um por ponto e outro perdeu por ponto neste mesmo campeonato que citei. Ganhei 7 medalhas, com meus alunos, e inclusive, um roxa do Vavá ganhou um preta da equipe do Minotauro.

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29.   SÓ CASCA ! – Uma pergunta que pode parecer meio óbvia para o senhor, mas não deve ser para as pessoas que leem o Só Casca ! e não  acompanham muito o mundo da luta. Qual a diferença entre uma disputa que chamam de torneio de luta livre e outro que chamam de submission?
30.   SANSÃO – Essas nomenclaturas revelam o distanciamento que está acontecendo da luta livre raiz. Na minha época você derrubava, finalizava, ou seja, o cara tinha  que ter uma desistência por estrangulamento ou chave de braço, o básico. Tinha pontos. Só que hoje em todos os campeonatos que estou indo nesses dois anos, a luta livre raiz mesmo não está acontecendo. Só no campeonato do Gustavo Careca, que é a exceção, ele defende essa bandeira, nos torneios dele, à exemplo do que sempre foram em sua origem os torneios de luta livre, vale chave de calcanhar, de pé de qualquer tipo e chave “leg”. Hoje de um modo geral não é assim, há restrições, em um torneio que fui recentemente em Araruama, e um aluno meu foi vitorioso, o Cicinho. Já me avisaram de cara “chave de calcanhar não vale”. Quando o cara fala isso para mim acaba  com o jogo de minha equipe em quase 60%, porque meus alunos são treinados, o ponto forte deles são as leg-lock, as chaves de ponta de calcanhar. Como eu vou colocar um aluno meu de 60 quilos para lutar com um cara de 100? Ensino aos meus alunos a resolver logo a parada, finalizar, não ensino aluno a ser pontuador. Eu sou finalizador, na minha época, não me preocupava com pontos, você podia até fazer 30 pontos em cima de mim, mas até o último segundo não estava garantido para você porque eu podia virar tudo e finalizar. Não tem cabimento ganhar uma luta com vantagem.

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31.   SÓ CASCA ! – O senhor já precisou usar a Luta Livre nas ruas?
32.   SANSÃO – Algumas centenas de vezes. Na minha época ou tu era um cara bom de porrada ou não era. Aquela época de baile funk, todo mundo já foi jovem, eu nunca puxei briga com ninguém, como o personagem Miague daquele filme diz não é bom brigar, mas se for brigar é para ganhar. Mas, nas minhas andanças tive que usar a luta livre fora dos ringues, é errado? Claro que é! Todo mundo sabe disto. Não vou mentir. Trabalhei como segurança de boate, sei com é a noite e vi nego famoso das artes marciais arranjando confusão nas boates e depois dando declaração na mídia “não brigue, lute”, maior falsidade, eu não sou, briguei mesmo.

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33.   SÓ CASCA ! – Qual foi o episódio que o senhor viu na sua experiência na luta livre que lhe marcou e o senhor acha importante ser lembrado  e por que razão.
34.   SANSÃO – De bom ou de ruim?

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35.   SÓ CASCA ! – Ambos.
36.   SANSÃO – Vou te falar uma boa e uma ruim, a boa foi a evolução do Alexandre Pequeno fiquei muito feliz com o sucesso dele. Meus alunos já  tiveram a oportunidade de vê-lo no meio da multidão das ruas e eu chamar o cara e ele sentar do meu lado e conversar com simplicidade, humildade.  Veja bem, um cara que tinha tudo para hoje em dia ser arrogante, metido. Não! Ele que já encostou mais gente que o INSS, já foi campeão mundial mais de 7 vezes no Japão, o cara é bom, é finalizador. Cara que num passado não muito distante andava comigo numa bicicleta enferrujada. Eu até brinquei com ele, nesse dia que o avistei na rua, se acontecer alguma coisa comigo os meus alunos podem te procurar? Ele me disse, cara, com certeza, eu tenho 34 filiais espalhadas no mundo, eu encaixo eles em qualquer uma só falar o  nome. Um grande campeão que começou do nada hoje é um sujeito estabelecido na vida e mantém-se humilde de verdade, não só na frente das câmeras, é evangélico, acredita em Deus, por isso tem tudo. O episódio ruim foi a grande luta do mestre Eugênio Tadeu com o Renzo quando apagaram as luzes. Foi uma luta que o Renzo dominou no início e o mestre Eugênio com sua raça resistiu e quando o pessoal viu que o  Renzo ia perder apagaram as luzes. Tudo bem tem um erro que um aluno chuta o Renzo fora da grade, mas isso não era motivo para paralisar a luta e tirar esta vitória certa do mestre Eugênio. Outra passagem muito triste, foi a luta do Hugo com o Tanque, todo mundo sabia que essa luta iria botá-lo em ascensão lá fora, perdeu não por incompetência dele, mas um acaso do destino. São os dois top de linha de hoje :  mestre antigo Eugênio Tadeu e Hugo Duarte. De professor bom hoje campeão, lutador, é o Alexandre Pequeno.

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37.   SÓ CASCA ! -  Professor e quem quiser conhecer o Sansão Style de Luta Livre, dar um treino, ser seu aluno, ou mesmo só assistir a sua galera rolando, onde ir?
38.   SANSÃO –  Parque da Cidade Gávea, Estrada Santa Marinha, n. 59, Associação de Moradores, aulas com o prof Cabeça, nos horários de 8:30 as 9:30 as 2as, 4as e 6as.  e aulas comigo para grupos fechados em dias e horários agendados previamente. Enfim, é isso espero daqui a 20 anos ser lembrado pelos meus alunos. Força e honra !







Um comentário:

Anônimo disse...

CARO AMIGO GOSTEI MUITO DE SUA REPORTAGEM......SOU ALUNO DO SERGIO FORMIGA ELE ESTA COM UM PROJETO DE LUTA LIVRE EM GARDENIA AZUL JACAREPAGUA...QUE FOI DADO INICIO DIA 24/04/2014 .....P0DE ENCONTRALO NO FACEBOOK: SERGIO FORMIGA